Até agora, o
STF vinha representante o fiel da balança nas escaramuças
institucionais. Pode ter perdido a confiança da população na decisão que
devolveu o réu Renan Calheiros à presidência do Senado, diz Merval
Pereira. A conferir:
O
Supremo Tribunal Federal (STF), tentando resolver uma crise
institucional, pode tê-la aprofundado por perder a credibilidade diante
da opinião pública. O STF vinha representando um papel de fiel da
balança, do garantidor da democracia brasileira, e se perder a confiança
da população, ficaríamos em uma situação bastante delicada.
Temos um
governo que não é popular e está ainda tentando encontrar um caminho de
equilíbrio entre o conservadorismo nato do presidente Michel Temer e o
reformismo que é necessário. Um Legislativo completamente desmoralizado,
e o Judiciário em xeque com essa última decisão.
Uma de
nossas crenças é a de que, apesar das crises múltiplas, nossas
instituições democráticas funcionam normalmente. Mas elas estão sendo
corroídas gradativamente pela falta de credibilidade. Tenho certeza
absoluta de que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que
mudaram de posição em relação ao julgamento do mérito na ação que proíbe
que um réu faça parte da linha de substituição do presidente da
República, o fizeram na melhor das intenções.
Estavam
preocupados com a crise institucional implantada com a confrontação,
pelo Legislativo, da decisão liminar o ministro Marco Aurélio afastando o
senador Renan Calheiros da presidência do Senado, pensaram no país,
acharam que a melhor solução era tranqüilizar o Senado, permitindo que o
Congresso prosseguisse a votação das reformas econômicas tão
necessárias.
Mas se
equivocaram, pois, além de não ser a decisão mais acertada a meu ver, se
puseram completamente nas mãos de Calheiros. O mínimo que deveria
acontecer era exigir que ele acatasse a decisão liminar do STF, deixando
a presidência do Senado para o vice Jorge Vianna, até que o recurso ao
plenário fosse julgado. Seria a única maneira de evitar que o Supremo
fosse confrontado pelo Legislativo, e quase humilhado por Renan
Calheiros.
Os
ministros não tiveram o cuidado de preservar a instituição diante de um
fato grave, a recusa do presidente do Senado de receber do oficial de
Justiça a comunicação de que estava fora das suas funções. Não adiantam
de nada os discursos de vários juízes, inclusive da presidente do
Supremo, ministra Carmem Lucia, criticando a atitude, classificada de
“uma afronta à Justiça”. E daí?
Renan
Calheiros não aceitou a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, levou a
Mesa do Senado a fazer um documento em que rejeitava a liminar, e não
aconteceu nada com ele, não sofrerá nenhuma punição. Um péssimo exemplo
para a cidadania, uma demonstração de que há ainda no país quem esteja
imune às penas a que os comuns dos mortais estão sujeitos.
O
equívoco político foi considerar Renan Calheiros imprescindível para a
governabilidade. Não creio que o Senado se rebelaria contra o STF,
inviabilizando assim as reformas. E mesmo que o PT estivesse no comando
da Casa com o senador Jorge Vianna, não teria condições políticas para
impedir que a maioria votasse a PEC do teto dos gastos.
No
limite, poderia adiar a votação para fevereiro, quando provavelmente o
senador peemedebista Eunício de Oliveira estará à frente do Senado. É
claro que isso provocaria um estresse momentâneo, o mercado reagiria
mal, mas faz parte do jogo.
Não
diria nem que houve um acordo, mas o consenso a que chegaram de que a
melhor solução seria a adotada é um equívoco e enfraquece o Supremo. Os
ministros do Supremo foram mais generosos do que cautelosos, pensaram
mais na crise institucional do que na imagem da sua instituição, que
ficou muito abalada, sujeita a mil interpretações.
A
maioria da opinião pública está convencida de que houve um acordo
político para salvar Renan. Em troca, ele tiraria da pauta, o que
realmente aconteceu, o projeto sobre abuso de autoridade, e não mais
mexeria nos supersalários do Judiciário. A ministra Carmem Lucia,
presidente do Supremo, já havia tentado interferir, através do
presidente Michel Temer, para que os projetos sobre abuso de autoridade
com punições para juízes e procuradores não fossem colocados por Renan
na pauta, e não fora atendida.
Essas
insinuações são motivadas por uma mudança de posição do Supremo que
parece inexplicável a quem queria ver Renan Calheiros fora da
presidência do Senado e foi para as ruas exigir. (O Globo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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