Maria João Marques faz
boas e divertidas reflexões sobre o fim de um restaurante marxista nos
EUA. Coisa de louco ideológico mesmo. E os tais veganos (como se diz
escreve no Brasil) ainda se acham moralmente superiores:
O marxismo é uma
ideologia consistente, ninguém pode afirmar o contrário: ao fim de quase
cem anos de revolução russa, continua a provocar vítimas. A destes dias
foi um restaurante vegan e de comida crua, que fechou na cidade de
Grand Rapids, no estado americano do Michigan. E não, não pensem que o
dito restaurante fechou porque os seus bárbaros clientes preferiam uns
suculentos bifes grelhados com molho barbecue. A razão foi bastante mais
divertida.
O Bartertown Diner era um restaurante marxista.
Nas suas paredes exibia garbosamente imagens de Che Guevara e Mao
Zedong. No seu facebook, em vez de se promoverem as novas iguarias,
escreviam-se tiradas doutrinárias marxistas. Apesar de existir um
proprietário, não havia essa mania capitalista dos chefes no
restaurante, todos mandavam o mesmo e as decisões eram tomadas
coletivamente. Toda a gente ganhava igualmente e implementou-se uma
política de não aceitação de gorjetas. Os empregados tinham de pertencer
a um sindicato. O que poderia correr mal?
Vejamos. Os clientes
não podiam gratificar por um bom serviço, pelo que as refeições eram
dispendiosas para compensar a perda das gorjetas. Como não havia
incentivo para o tal bom serviço que poderia merecer a gorjeta, uma
sandwich demorava quarenta minutos a entregar. Os horários eram
decididos pelo coletivo, de acordo com a conveniência da força
proletária; em resultado desta política orientada para o prestador de
serviços, o restaurante abria só quando era conveniente a quem lá
trabalhava, em vez de quando os potenciais clientes necessitavam de
alimentação. No Reddit alguém aventou a possibilidade de ser indigesto
partilhar um repasto com os assassinos em série representados nas
paredes.
Como última estocada,
o diner ofendeu até os que ainda conseguia alimentar com a sua produção
ideológica. No verão, o restaurante enviou uma refeição gratuita para
os polícias de Grand Rapids, para lhes agradecer a manutenção da
segurança da zona. Este pequeno truque de tendências reacionárias foi
descoberto quando a polícia agradeceu na sua página do facebook. Como se
sabe, a polícia faz parte da classe exploradora e o restaurante
marxista foi vilipendiado por se associar a uma organização ‘quase
exclusivamente branca’ numa ‘época de violência policial’. O karma
marxista abateu-se sobre os coletivistas vegan e puniu esta traição ao
espírito marxista revolucionário com uma escassez definitiva de dinheiro
poucos meses depois.
Claro que poderia
permanecer por aqui notando o pouco esclarecimento ideológico dos
clientes do diner, que não sabem que nem só de pão (ou de legumes crus)
vive o homem, mas também da palavra de Marx. Ou os arreigados hábitos
burgueses dos ditos clientes, que consideravam mais importante serem
alimentados em tempo razoável, ou às horas normais de refeição, do que o
respeito pelos ritmos subjetivos e individuais dos membros do coletivo
do restaurante.
Mas escolho deixar os
clientes do diner em paz, atravessar o charco e celebrar termos no país
as almas gémeas dos coletivistas de Grand Rapids. Por exemplo, Catarina
Martins. Que esta semana pareceu a qualquer cidadão desprevenido ter
descido em alguns momentos à loucura, não soubesse o cidadão experiente
que esse é o estado normal de qualquer militante do BE.
Ora bem: depois de
reintroduzirem, com a geringonça, o horário de 35 horas semanais para os
funcionários públicos – o que inevitavelmente causou atrasos e danos
nos serviços prestados aos utentes, especialmente sentidos nas escolas e
no SNS – Catarina agora vem afirmar que é necessária mais gente para
trabalhar no SNS. Estando nós já com uma carga fiscal ao nível da
cleptomania descarada, mantendo-se constrangimentos orçamentais sérios
(que lá por não se estudarem nas escolas de teatro não deixam de ser
reais), estando os juros da dívida pública a subir novamente (o que
torna mais cara a continuação do endividamento), o crescimento anémico
de mais para sustentar devaneios surrealistas – questiono-me: como quer
pagar Catarina Martins mais pessoal no SNS? E se é necessário mais
pessoal, porque se reduziu o horário a quem já estava? Para criar a
necessidade de mais funcionários públicos, futuros votantes da
geringonça?
Porém Catarina não se
interessa como se paga um SNS mais caro, porque esse fenómeno que é o
dinheiro é-lhe desconhecido. Ainda sobre o SNS, Catarina afirmou que
‘não podemos continuar a alimentar o setor privado da saúde com
dinheiros públicos’. Deixemos por agora de lado o ridículo do BE a
fingir que quer atacar a ADSE dos funcionários públicos. Vamos aos
‘dinheiros públicos’. Uma vez que os dinheiros que o Estado utiliza são
dinheiros dos privados que cobrou como impostos, os dinheiros do Estado
são sempre dinheiros privados. Mas Catarina não percebe.
Ou, em alternativa,
considera os contribuintes escravos do estado, que é o proprietário de
toda a riqueza que nós, privados, geramos mas, por ser tão benevolente,
nos permite ficar com uma porção do rendimento que é nosso – uma espécie
de semanada, mas cada vez menor. Como dantes as senhoras casadas que
trabalhavam fora de casa entregavam o ordenado aos maridos, que de
seguida lhes devolviam generosamente uma pequena parcela para governarem
a casa. Façamos vénias profundas de agradecimento a Catarina Martins
por nos permitir ficar com uns pós do que produzimos.
É possível, que no BE
não têm grande apreço pela liberdade alheia e veem os contribuintes
como a nova classe a explorar. São mais sinistros que os marxistas do
diner, em todo o caso. Porque apostam numa falência muito mais
estrondosa do que a de uma tasca vegan. (Observador).
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