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O Estado
patrimonialista brasileiro - agravado pela longa permanência do
lulopetismo no poder - fica com 47,4 por cento do PIB da indústria de
transformação. É a maldita e astronômica carga de impostos:
Estudo
do departamento de Pesquisas e Estudos Socioeconômicos da Firjan mostra
que os tributos representam 47,4% do Produto Interno Bruto (PIB) da
indústria de transformação, ou seja, quase metade de tudo o que é
produzido pelo setor é direcionado para o pagamento de impostos. É o
maior peso entre todos os setores da economia. A carga para a indústria é
mais que o dobro da que incide sobre o setor de serviços, por exemplo,
para o qual os tributos representam 22,9% da produção. É maior também
que a média geral da economia brasileira, cuja carga é de 28,2% do PIB.
O estudo
foi elaborado a partir de dados fornecidos pela Receita Federal. Para a
Firjan e especialistas no setor, a atual estrutura tributária
brasileira vai na contramão do restante do mundo, onde a tributação
sobre renda é mais importante do que sobre bens e serviços, tira
competitividade da indústria e trava investimentos.
— Hoje, a
carga tributária da indústria é muito maior do que seu peso na
economia. O setor carrega um fardo maior em termos relativos do que
outros setores e isso é um dos principais fatores que impedem a
indústria de se recuperar. As elevações de alíquotas nos últimos anos
mostraram que, em vez de a arrecadação aumentar, isso contribuiu para
que empresas fechassem e outras ficassem inadimplentes — observa
Guilherme Mercês, economista da Firjan.
Para
Mercês, se os prazos para pagamento dos impostos fossem estendidos —
medida que independe de uma reforma tributária —, já seria amenizada a
situação da indústria, que caminha para registrar, em 2016, sua terceira
queda seguida na produção e no PIB:
— A
indústria leva cerca de 55 dias para receber por uma venda. Mas o
pagamento do imposto correspondente é sempre feito antes desse prazo.
Dessa forma, as empresas acabam financiando o governo.
Efeito da informalidade
Mauricio
Canêdo Pinheiro, pesquisador nas áreas de Desenvolvimento Econômico e
Política Industrial da FGV-Rio, pondera que, como esse cálculo considera
a relação direta entre a receita arrecadada por meio do pagamento de
tributos e o PIB, e a indústria é mais formalizada do que os outros
setores, sua carga tributária sempre será maior:
—
Serviço e comércio têm mais informalidade, mais empresas livres de
impostos. A comparação que faz mais sentido é com a carga tributária de
outros países. E, quando olhamos para fora, vemos que, enquanto aqui
temos uma estrutura tributária centrada nos impostos sobre transações,
que incide sobre o preço final dos produtos, lá fora ela é mais sobre a
renda.
Dados da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
mostram que, de forma geral, a carga tributária brasileira passou de
24,4% do PIB em 1980 para 33,5% do PIB em 2014 — um dos maiores saltos
entre os 34 países da organização. Nas nações da OCDE, a tributação
sobre renda é mais importante do que sobre bens e serviços. No Brasil, a
tributação alicerçada sobre bens e serviços é, segundo economistas
brasileiros, um dos fatores responsáveis pela alta carga que pesa sobre a
indústria.
Dados
mais recentes compilados pela Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp) mostram que, enquanto a tributação sobre a renda
representa 37% das receitas na OCDE; no Brasil, responde por 18%. Já a
tributação sobre bens e serviços responde por 25% da carga tributária na
OCDE e 51% no Brasil. Para a Fiesp, a tributação brasileira penaliza a
produção, os investimentos e o consumo.
—
Tributação sobre patrimônio e imposto de renda tem de ser colocada na
pauta num momento de ajustamento das contas públicas para que se reduza
as distorções setoriais e que penalizam sobretudo as atividades
produtivas. Precisamos discutir qual estrutura tributária a gente deve
ter para voltar a incentivar o crescimento econômico e, ao mesmo tempo,
ajudar a equacionar o problema das finanças públicas — defende Rafael
Fagundes Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Avaliação do custo-benefício
E,
apesar das desonerações concedidas nos últimos anos estarem sendo alvo
de críticas por não terem trazido os benefícios esperados para a
economia, conforme mostrou reportagem exclusiva publicada pelo “Globo”
na semana passada, ele sustenta que a situação da indústria seria ainda
pior sem os incentivos.
— A
despeito das desonerações, continuamos a ter a carga tributária mais
elevada mesmo com elas. Imagine o quanto a indústria teria caído mais se
não tivesse esses abatimentos — completa Cagnin. — É necessário que
qualquer medida de isenção ou incentivo à indústria seja permanentemente
acompanhada e avaliado o custo-benefício num momento em que se mostra
ineficaz. Mas também não é possível de uma hora para outra você reverter
benefícios. Ainda mais num momento conjuntural muito ruim.
A perda
de competitividade e da capacidade de investimento da indústria é outro
fator que chama a atenção nos dados de arrecadação compilados pelo
estudo da Firjan. A indústria de transformação tem a menor participação
nos tributos incidentes sobre o lucro — o Imposto de Renda Pessoa
Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL)
representam apenas 4,1% e 2% do total arrecadado, respectivamente.
Para a
Firjan, a diferença em relação aos outros setores indica forte redução
da margem de lucro nos últimos anos, resultado do aumento dos custos de
produção e da forte concorrência com os importados. Entre 2011 e 2015 a
arrecadação de IRPJ e CSLL da indústria de transformação caiu 35,3% e
37,3%, respectivamente. De acordo com Mercês, a queda na margem de lucro
trava investimentos:
— A
margem de lucro dela (indústria) é menor que a de outros setores. Com
lucro menor, não consegue investir porque faz isso com o lucro retido.
Ela precisa se autofinanciar, já que o mercado de crédito é muito caro
no Brasil. (O Globo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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