A decisão em favor de
Renan Calheiros se deu por 6 a 3, mas ele fica afastado da linha
sucessória da Presidência da República, isto é, não poderá assumir o
cargo em caso de vacância:
O Supremo Tribunal
Federal (STF) determinou, nesta quarta-feira, por seis votos a três, a
permanência do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do
Senado. O colegiado, no entanto, decidiu que o senador será afastado da
linha sucessória da Presidência da República e não poderá assumir o
cargo em caso de vacância. A tese vencedora foi levada ao plenário pelo
ministro Celso de Mello, como antecipou o colunista Jorge Bastos Moreno.
Na segunda-feira, em
liminar, o ministro Marco Aurélio Mello havia determinado o afastamento
de Renan da presidência. Após o Senado ignorar a ordem judicial e entrar
com dois recursos contra a decisão, Marco Aurélio liberou a ação para
análise dos colegas.
Votaram pela
permanência de Renan no comando do Senado os ministros Celso de Mello,
Teori Zavascki, Dias Toffoli, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e a
presidente do STF, Carmen Lúcia. Votaram a favor do afastamento os
ministros Edson Fachin e Rosa Weber, além de Marco Aurélio, relator do
caso.
- Não há nenhuma
indicação de que o presidente do Senado tenha de substituir o presidente
da República num futuro próximo - disse Lewandowski, afirmando que a
urgência que embasa uma decisão liminar não está clara no caso avaliado.
Segundo Celso de
Mello, cujo voto foi acompanhado pela maioria do plenário, o senador não
poderá ocupar a Presidência em caso de vacância temporária, por ser réu
em ação no STF. Seu voto abriu a divergência no STF e atendeu apenas
parcialmente a posição de Marco Aurélio.
Celso de Mello pediu
para antecipar seu voto. Geralmente é um dos últimos a se pronunciar.
Antes de emitir sua opinião, fez elogios a Marco Aurélio, com
"irrepreensível atuação" em 26 anos de carreira. Mas o contrariou.
- Os substitutos
eventuais do presidente da República ficarão unicamente impossibilitado
(se réus no STF) de exercer o ofício da Presidência da República, embora
conservando a titularidade e a missão funcional de suas respectivas
casas.
O voto do decano foi
seguido pelos ministros Teori Zavascki, Luiz Fux, Ricardo Lewandovski e
Dias Toffoli, que falou rapidamente e não justificou o voto porque
precisou se retirar da sessão para participar de uma audiência de
conciliação sobre a situação financeira do Rio de Janeiro.
Para Teori, a liminar
concedida por Marco Aurélio deve ser acolhida apenas em parte. Teori,
reconhecido por ser um ministro atento às regras processuais, defendeu
que o Supremo finalize a Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF). E afirmou desconforto com as brigas entre Marco
Aurélio e Gilmar, mas disse não estar se referindo a ninguém em
especial, ao declarar:
- Queria manifestar
profundo desconforto pessoal com fenômeno que tem se generalizado.
Juízes em desacordo com Lei Orgânica da Magistratura tecem comentários
públicos sobre outras juízes.
Já Fux argumentou que
não há previsão constitucional para afastamento do cargo imediatamente
após o recebimento da denúncia. E lembrou o caso do mensalão, quando
houve condenação, mas não cassação automática.
— O perigo de dano e
resultado do processo não se faz presente, porque o STF, por 6 votos a
0, já afastou a possibilidade de o Presidente do Senado assumir a
Presidência da República. Não há previsão constitucional de se afastar
do cargo imediatamente após o recebimento da denúncia. Nós não estamos
agindo com temor ou receio. Estamos agindo com a responsabilidade
política que nos impõe — disse Fux.
Mesmo com o placar já
definido favoravelmente a Renan, a presidente do STF, Cármen Lúcia fez
questão de votar. E também concordou com a maioria de que não é o caso
de afastar de suas funções quem ocupa cargo na linha sucessória
presidencial. Mas concorda que este não deve assumir a presidência em
caso de vacância. A ministra, porém, fez uma dura crítica ao
comportamento de Renan de se recusar a cumprir a ordem de deixar o cargo
e sequer atender o oficial de justiça.
- Ordem judicial há
de ser cumprida. Para que prevaleça a ordem jurídica e não o
voluntarismo de quem quer que seja. Uma ordem judicial pode ser
discutida e alvo de recursos. No Brasil, há excesso de recursos. O que
fica difícil é verificar que se vire de costas a um oficial de justiça,
que é a mesma coisa de dar as costas ao próprio Poder Judiciário. Foi um
exemplo não edificante de se educar, de civismo e de convivência
pacífica - disse Cármen Lúcia.
A ministra prestou
solidariedade ao ministro Marco Aurélio, criticado por ter concedido a
liminar que deveria afastar Renan da presidência do Senado.
- Minha solidariedade
absoluta ao trabalho desenvolvido pelo ministro Marco Aurélio, que
insiste em votar de acordo com sua consciência. E, como ele mesmo
brinca, vencido, mas não convencido. A ministra afirmou ainda que um
voto sempre desagrada e quem se sentiu desagregado pode ser alvo de
qualquer observação.
- Só não pode é atingir a honorabilidade e correção ética e intelectual do juiz - disse a ministra. Marco Aurélio intercedeu:
- Muito menos minha higidez mental - afirmou.
MARCO AURÉLIO: 'DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS'
Em um duro voto direcionado aos colegas contra um suposto acordo
que estaria sendo feito para salvar o cargo de Renan, Marco Aurélio
disse que se a Corte “inovar”, depois de ter votado de forma unânime
pelo afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara, estaria
adotando “dois pesos, duas medidas”. Manter Renan no cargo, determinando
apenas que ele não ocupe a cadeira de presidente da República, para o
ministro, é exemplo do “jeitinho brasileiro”.
O ministro apelou
para a “biografia” de cada colega de tribunal, alertando que, na
ausência de um vice-presidente, depois do impeachment de Dilma Rousseff,
Renan está mais próximo da cadeira de presidente da República. Ter o
senador na função, segundo Marco Aurélio, seria um “deboche
institucional”:
— A qualquer momento
ausente o presidente da República ou da Câmara dos Deputados, tomará
assento como chefe de Governo, de Estado, num verdadeiro deboche
institucional, o senador Renan Calheiros.
Marco Aurélio afirmou
que o Senado adotou postura “grotesca” ao ignorar decisão do Supremo e
pressionou os colegas, dizendo que qualquer decisão contrária ao
afastamento de Renan da presidência é “reescrever casuisticamente a
Constituição Federal, fazendo-o em benefício de certo réu”.
O ministro Edson Fachin também votou pela saída de Renan da Presidência do Senado.
— O chefe do poder
Executivo que se torne réu fica suspenso das funções da Presidência da
República. O presidente do Senado que seja réu não pode substituir o
presidente da República. Assim, o presidente do Senado não pode ser
presidente do Senado e não deter a prerrogativa de substituir o
presidente da República. Referendo o afastamento tal como concedido pela
liminar — disse Fachin, em um rápido voto.
A ministra Rosa
Weber, pouco antes de anunciar seu voto, se confundiu e chegou a pedir
desculpas a Marco Aurélio, mas confirmou sua posição favorável a seu
parecer.
- A assunção na linha
sucessória, ou de substituição, exige de seu ocupante que esteja apto
para exercer a qualquer tempo o cargo. E com todas atribuições e
responsabilidade a ele inerentes. Quem não reúne condições tão pouco
pode assumir ou permanecer em qualquer cargo da respectiva linha de
sucessão - disse Rosa Weber.
Dos 11 ministros da Corte, dois não participam do julgamento nesta quarta-feira. O ministro Gilmar Mendes, que chegou a defender o impeachment de Marco Aurélio,
viajou ontem para Estocolmo, na Suécia, onde participa de um evento de
magistrados. E o ministro Luís Roberto Barroso se declarou impedido,
porque a ação do partido Rede Sustentabilidade pelo afastamento de réus
na linha sucessória da Presidência foi proposta pelo seu antigo
escritório. (O Globo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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