Por Redação Bocão News | Fotos: Rodolfo Stuckert/Agência Câmara
A
primeira delação da Odebrecht foi divulgada nessa sexta-feira (9) e o
autor do depoimento é Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações
Institucionais da construtora. Melo Filho afirmou ao MPF que o
presidente Michel Temer pediu ao empresário Marcelo Odebrecht R$ 10
milhões para o PMDB, em 2014, durante campanha eleitoral. O texto cita
mais de 20 políticos, entre eles a cúpula do PMDB.
A importância do executivo, porém, estava além de seu cargo por se
relacionar com congressistas e servidores públicos. O baiano de 49 anos
era o suplente do ex-presidente Marcelo Odebrecht no conselho
administrativo da empreiteira.
Melo Filho, que trabalhou por doze anos na área de relações
institucionais, era um homem de confiança de Marcelo, segundo apontou o
MPF (Ministério Público Federal) em denúncia de maio deste ano.
"A proximidade e a relação de confiança que se estabelece entre ele e
Marcelo Odebrecht pode ser depreendida não apenas em decorrência de ser o
suplente desse em diversos Conselhos de Administração, mas, ainda, do
teor dos e-mails apreendidos na sede da empreiteira", de acordo com
texto da denúncia.
Segundo investigação do MPF, o nome de Melo Filho constava nos e-mails
em que executivos trocavam informações relacionada a políticos,
servidores públicas e negócios com a Petrobras.
Na denúncia do Ministério Público, foram anexadas 21 mensagens em que o ex-diretor aparece como um dos remetentes.
Nos e-mails, Marcelo Odebrecht instrui, por exemplo, a seus
funcionários que "CMF" deve ser informado de reuniões com executivos da
Petrobras. A sigla se refere ao nome de Cláudio Mello Filho, de acordo
com a investigação.
" Há (...) diversas mensagens em que Marcelo Odebrecht orienta a outros
executivos seja Cláudio Melo Filho (por diversas vezes referido pelo
acrônimo "CMF", em evidente alusão a seu nome) atualizado sobre
estratégias e importantes decisões e informado de compromissos
relevantes", diz trecho da denúncia.
Empresa familiar
O delator é filho do ex-diretor do grupo Odebrecht, Cláudio Melo, morto
em 2012. Melo era o responsável pela unidade da empresa em Brasília na
década de 1980, cujo cargo foi herdado pelo filho. De acordo com o MPF,
Melo foi convidado por Emilio Odebrecht para integrar a empresa. Emilio é
pai de Marcelo Odebrecht.
"Assim, como bastante frisa a empresa em seu material institucional,
trata-se de uma 'empresa familiar', cuja gestão se concentra nos membros
da família, tanto a parte lícita, quanto, no caso de Marcelo Odebrecht,
a parte ilícita", diz o MPF em outro trecho.
Denúncia arquivada por Moro
No início deste ano, Melo Filho foi acusado de oferecer propina para
evitar que ex-dirigentes da empreiteira fossem convocados por uma CPI
sobre o esquema da Petrobras. A acusação apareceu na denúncia contra o
ex-senador Gim Argello [atualmente preso pela Operação Lava Jato].
O executivo chegou a ser alvo de uma condução coercitiva na Lava Jato,
além de um mandado de busca e apreensão em março de 2016.
Em 10 de maio, o juiz Sérgio Moro determinou o arquivamento da denúncia
oferecida pelo MPF contra Melo Filho no processo contra Argello por
acreditar não ter provas suficientes de que a relação entre Gim Argello e
o executivo teria a ver com pagamentos ilegais.
Na peça, o juiz de Curitiba diz que Melo "auxiliou Marcelo Bahia
Odebrecht nos contatos e pagamentos" a Argello por meio de doações de
campanha registradas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Medalha de Mérito Legislativo
O ex-diretor da Odebrecht chegou a ser condecorado com uma medalha do Mérito Legislativo em novembro de 2012.
Não havia suspeita contra Melo à época da homenagem. Melo ocupava o
cargo de vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht.
A medalha é a maior honraria concedida pela Câmara. Trata-se de "uma
forma de homenagear personalidades, brasileiras ou estrangeiras, que
realizaram ou realizam serviço de relevância para a sociedade" e cujo
trabalho "recebeu a admiração do povo brasileiro", diz o site da Casa. A
premiação é entregue anualmente, geralmente no fim do ano.
O UOL procurou a Odebrecht para saber o posicionamento da empresa em
relação ao conteúdo vazado da delação de Melo Filho, mas ainda não teve
resposta.
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