Removido o entrave petista, com o impeachment de Dilma, o Brasil deverá
retomar o crescimento, diz editorial do Estadão, citando o ministro da
Fazenda Henrique Meirelles:
Toda aposta séria na retomada do crescimento econômico depende, hoje,
de uma hipótese crucial: a transformação do governo provisório em
definitivo. O impeachment da presidente Dilma Rousseff é parte do
cenário básico, embora essa condição nem sempre seja explicitada pelos
analistas do mercado ou mesmo por membros da nova equipe econômica. O
quase tabu foi rompido pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
numa entrevista à Agência Estado e à Rádio Estadão.
“Podemos dizer com certeza que haverá crescimento, a não ser que haja
reversão política muito forte, mas aí será outro quadro”, afirmou. Foi
uma declaração realista, mas o desafio, é preciso reconhecer, ainda será
enorme. Removido o maior entrave político, restará muito trabalho para
repor o Brasil entre as economias com potencial para se expandir e, além
disso, para participar da reconstrução do sistema global.
O governo, lembrou o ministro, só cumprirá esse papel se as suas
previsões forem levadas a sério. A rápida aprovação da proposta de um
teto para o gasto público, exemplificou, facilitará a recuperação da
credibilidade. Já há sinais de expectativas melhores, como lembrou o
ministro Meirelles, mas falta consolidar a confiança na economia e, em
primeiro lugar, na política oficial.
Nas avaliações mais otimistas, a atividade chegou ao fundo do poço ou
está muito perto da estabilização. Por isso, a variação zero da
produção industrial de abril para maio, divulgada na sexta-feira, foi
recebida por analistas como um dado positivo, embora o indicador tenha
caído pela 27.ª vez consecutiva na comparação com o dado de um ano
antes.
Segundo um economista citado pela Agência Estado,
os números deverão flutuar em torno da estabilidade nos próximos meses.
A volta do crescimento, acrescentou, dependerá de estímulos ainda
inexistentes. A aprovação da nova regra para o gasto público poderá
abrir caminho para esses estímulos e até para a redução dos juros. Um
pressuposto vital, esclareceu, é o afastamento definitivo da presidente.
A criação de um horizonte claro e crível para a atividade econômica é
condição apontada, de modo geral, pelos analistas citados pela
imprensa. As ideias de clareza e credibilidade constituem um bom
argumento a favor da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), na
quinta-feira passada, sobre a meta de inflação para 2018.
O Conselho, formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e
pelo presidente do Banco Central (BC), manteve a meta de 4,5% e
confirmou a redução da margem de tolerância de 2 pontos porcentuais para
1,5 ponto. Alguns podem ter recebido essa decisão como um anticlímax,
talvez como sinal de timidez, mas essa interpretação é precipitada.
Muito mais do que fixar um alvo mais ambicioso para 2018, o desafio
importante para a autoridade monetária, neste momento, é entregar a
inflação na meta, ou muito perto de 4,5%, no fim do próximo ano. Se a
política estiver claramente voltada para esse objetivo, haverá, nos
próximos meses, com certeza, um ganho de credibilidade. A partir daí
haverá condições muito melhores para a escolha de metas abaixo de 4,5%,
mais próximas daquelas em vigor em países com melhores fundamentos
econômicos.
A consolidação da confiança dependerá tanto da firmeza do BC,
prometida por seu novo presidente Ilan Goldfajn, quanto do esforço de
recuperação das finanças públicas. Um dos primeiros passos deve ser a
definição da meta fiscal para 2017. Se for muito frouxa, será
desmoralizante. Se muito apertada, o governo poderá ser forçado a pedir
uma revisão, com inevitável desgaste.
A travessia até a conclusão do processo de impeachment será politicamente complicada e cheia de riscos. O presidente em
exercício terá de ser capaz de manter um bom entendimento com sua base e
ao mesmo tempo resistir às pressões por bondades perigosas para as
contas públicas. Mas poderá avançar em algumas linhas de ação, como a
política de concessões de infraestrutura – um bom caminho para destravar
o investimento físico e acionar o motor do crescimento.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário