MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 3 de julho de 2016

Kate Tempest é aplaudida de pé com 'Flip-Hop' político, poesia e rap na Flip


Rapper e poeta, inglesa fez declamação performática de 2 longos poemas.
Ela dividiu mesa com Ramon Nunes Mello, que falou sobre ser soropositivo.

Cauê MuraroDo G1, em Paraty
A poeta e rapper britânica Kate Tempest participou de mesa na Flip neste sábado (2) (Foto: Walter Craveiro/Divulgação Flip)A poeta e rapper britânica Kate Tempest participou de mesa na Flip neste sábado (2) (Foto: Walter Craveiro/Divulgação Flip)
 
A poeta, rapper e escritora Kate Tempest foi aplaudida de pé em seu momento "Flip-Hop" na noite deste sábado (2) na 14ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Caminhando pelo palco da Tenda dos Autores, a autora britânica de 30 anos declamou dois longos poemas (um deles inédito em livro; "presente para vocês", disse). Foram performances intensas e com muitos gestos. Mesmo sem tradução simultânea dos números, o pocket-show conquistou o público.
De fato, uma apresentação naqueles moldes era algo meio inédito na história do evento. Kate, que já ganhou um prêmio britânico de poesia, é conhecida por misturar mitologia e o estilo "cultura das ruas" (no caso, as de Londres). É renomada e vencedora praticante de slam poetry (batalha de poesia).
O parceiro de debate dela na mesa deste sábado, chamada "O palco é a página", foi o poeta brasileiro Ramon Nunes Mello. Ele também agradou com leituras (na introdução de uma delas, o convidado tocou uma espécie de berrante indígena) e comentários sobre o fato de ser soropositivo, a influência disso em sua obra, e ainda com críticas de teor político.
Reconhecendo o efeito do diagnóstico em seu livro mais recente, "Há um mar no fundo de cada sonho" (Verso Brasil), Nunes Mello, de 32 anos, afirmou por outro lado que entende que a literatura "deva ser panfletária".
O escritor Ramon Nunes Mello em mesa da Flip neste sábado (2) (Foto: Walter Craveiro/Flip)O escritor Ramon Nunes Mello em mesa da Flip neste sábado (2) (Foto: Walter Craveiro/Flip)
Dedicou participação aos homossexuais e aos índios
Em sua primeira fala, Nunes Mello dedicou sua participação na Flip "a dois grupos que estão sendo exterminados no Brasil, que entendo como ato político". Citou então homossexuais e índios.
A aproximação da cultura indígena, segundo explicou, aconteceu depois do diagnóstico. "Passei a me espiritualizar mais, meditar, e o processo com Ayahuasca [também chamado de chá do Santo Daime] fundamental", comentou. "Tirou um processo de depressão profunda, me ressignificou com a vida." Ele, que mencionou influências de música brasileira (Adriana Calcanhotto, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Marina Lima), hoje tem preferência por cânticos de pajés.

O poetaa ganhou palmas ao pedir que mais mulheres sejam homenageadas pelo evento. Em 2016, pela segunda vez em sua história, a Flip escolheu prestar tributo a uma escritora, a poeta Ana Cristina Cesasr. "Espero que venham mais mulheres, brancas, negras, todas que tiver", disse Nunes Mello. "Não por uma questão de gênero, mas de oportunidade. Porque há histórias que mulheres podem contar e que a gente não conhece, então venham, mulheres."
Por fim, criticou a visão "oitentista" que a sociedade costuma dirigir aos soropositivos e citou a "consciência política" que veio como consequência do resultado do exame. Pediu que o governo apoie os portadores do vírus HIV com distribuição gratuita de medicação e auxílio de transporte.
'Achei meu lugar no mundo com o hip-hop'
Por mais de uma vez, Kate Tempest falou que entende como ato político a leitura de poemas em público e exaltou o senso de comunidade que ela enxerga nesse tipo de ação. "É quase um ato político simplesmente estar aqui, sentada aqui na frente", comentou, após dizer que tem conflito de gênero e que não se enquadrea no que chamou de "padrão" a respeito de como uma mulher é usualmente vista pela socidade.
"Eu deveria ser invisível", prosseguiu. "A razão pela qual falo isso é que, através da minha criatividade, achei o meu lugar no mundo, e aprendi isso através da minha comunidade, a comunidade hip hop do sul de Londres. Achei isso através da música e da poesia."
Ela já lançou discos, coletâneas de poemas, escreveu peças de teatro e um romance, que acaba de sair no Brasil, "Os tijolos nas paredes das casas" (LeYa).
'Terceira guerra mundial'
Outro discurso engajado da artista veio quando o mediador da mesa, Daniel Benevides, quis saber o que ela achava da saída do Reino Unido da União Europeia. "É devastador para mim", declarou.

E, antes de sua última declamação, assegurou que leria um poema descrito "como mais alegre": "Não quero mandar vocês para noite lá fora com uma sensação de angústia. Talvez eu possa contar uma história antes". A história escolhida não era propriamente alegre. Disse que há soldados do Reino Unido no front em outros países ("estamos no meio da terceira guerra mundial") e fica mal com o fato de os britânicos tocarem a vida como se isso não estivesse acontecendo.
Dedicou o número "a qualquer pessaoa que  já esteve no serviço militar ou que tem famliar que lutou numa guerra". E recitou versos como estes (em tradução livre): "Seu pai, filho, está na guerra lutando pelo país dele", "Ele está tendo pesadelos de novo", "Ele está bebendo mais do que nunca", "Antigamente ele nunca chorava, mas agora acordo no meio da noite e ele está tremendo ao meu lado na cama", "ele falou que está ficando mais sombrio".

Veja, abaixo, a programação restante da Flip:
Domingo, 3 de julho
Mesa 19 – "Síria mon amour", às 10h

Com Abud Said e Patrícia Campos Mello
Mesa 20 – Mesa 21 – "Sessão de encerramento: Luvas de pelica", às 12h
Com Sérgio Alcides e Vilma Arêas
Mesa 21 – Livro de cabeceira, às 14h15
Autores convidados leem trechos de seus livros favoritos
Ingressos
A partir desta quarta-feira (29) de junho, é possível comprar apenas na bilheteria da Flip, em Paraty, que fica na Tenda dos Autores e vai funcionar de quarta a sábado das 9h às 22h e no domingo das 9h às 15h.

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