O
pensamento politicamente correto é a sobrevivência do falido comunismo,
como bem apontou Doris Lessing no início dos anos 90. Infenso à
crítica, rotula indiscriminadamente seus críticos, abusando
das generalizações. Muito a propósito, Nelson Ascher, ensaísta e tradutor, faz excelentes observações sobre tais generalizações, dignas da estupidez esquerdista:
1) Dias
antes do plebiscito britânico, um nacionalista ou direitista desvairado
matou uma deputada favorável à permanência do Reino Unido na União
Européia bem como das implicações migratórias disso. Muitos dos
comentários críticos ao Brexit citam esse caso,não como uma aberração,
mas sim como ilustrativo daquilo que subjaz, daquilo que de fato estaria
no fundo da mente dos 52% de cidadãos que optaram pela saída, ou seja,
um crime basta para evidenciar ou provar que os milhões de membros de um
grupo são no fundo maníacos assassinos.
2)
Durante as manifestações a favor do impeachment de Dilma, apareceram
aqui e ali alguns manifestantes (dois dígitos no máximo) pregando o
golpe militar; um deputado federal pró-impeachment elogiou publicamente
um militar torturador dos tempos da ditadura; e talvez tenha ocorrido
alguma raríssima agressão a algum petista. Foi o que bastou para muitos
dos comentaristas afirmarem que todos aqueles que se opunham à
presidente eram de fato partidários da ditadura militar, favoráveis à
repressão e tortura, além de promotores de pogroms e linchamentos de
esquerdistas em geral.
3) Tão
logo começou a circular a notícia e/ou algum vídeo de um estupro em
massa (gang rape) de uma moça por 20/30 marginais ou bandidos numa
favela, muitos comentaristas, jornalistas e intelectuais afirmaram ou
sugeriram, não que marginais ou favelados ou, mais especificamente,
criminosos são capazes de perpetrar diversos crimes, entre eles o
estupro, mas sim que todos os homens são de fato estupradores e
responsáveis inclusive por toda uma "cultura do estupro".
4) Nos
últimos anos ou décadas, muçulmanos religiosos, reconhecidos como tais
pela maioria ou grande parte de seus correligionários e movidos
explícita e declaradamente por sua fé perpetraram a quase totalidade dos
atentados terroristas em todos os cantos do planeta, de Buenos Aires e
Nova York, Washington e Orlando a Londres, Paris, Madri e Bruxelas, de
Istambul, Cairo, Amã, Tel Aviv e Jerusalém a Bali, passando pela Rússia,
Bulgária, Índia, China, sem esquecer Nairóbi, a Nigéria, Costa do
Marfim etc. O terrorismo motivado pela religião é praticamente uma
exclusividade islâmica, e os atentados planejados mas abortados pelos
serviços de segurança e inteligência são, ao que tudo indica, muito mais
numerosos do que os finalmente cometidos. Neste caso, porém, a maioria
dos comentaristas (que ou são os mesmos dos casos acima ou seguem as
mesmas orientações políticas e culturais, manifestando-se nos/pelos
mesmo veículos) nunca se cansa de enfatizar que os perpetradores ou não
são a rigor muçulmanos autênticos ou são absolutamente atípicos, que
nada têm a ver com os demais seguidores do Islã nem representam ninguém,
salvo a si mesmos. Nenhum outro de seus correligionários e nenhum
aspecto da religião em questão têm, segundo eles, qualquer relação com
os terroristas e sua ações, os e as quais, mais do que exceções
aberrantes, seriam o próprio avesso, o absoluto e perverso contrário do
verdadeiro Islã, de tudo o que este representa e de praticamente todos
os muçulmanos. Há inclusive gente (não muçulmana) que insiste em chamar
esse terrorismo de antimuçulmano no sentido de que suas maiores vítimas
seriam sempre os muçulmanos, que os atentados exporiam à suspeita e ao
ódio de outras pessoas, estas sim genericamente culpadas de
discriminação, preconceito e racismo.
5) Parece que em alguns casos a generalização é automática e justa, e, em outros, impensável e proibida.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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