Desde 1987, o 1º de dezembro se tornou o Dia Mundial de Luta Contra a Aids
Trinta anos se passaram desde o início do
combate à Aids, em 1985. Mas, apesar disso, as pessoas que vivem com o
vírus HIV ainda sofrem com o preconceito — às vezes, vindo deles
mesmos. Como a primeira rejeição sofrida por Paula Mendes*, 54 anos.
“Repudiava o meu próprio corpo, lavava, lavava,
lavava. Tinha medo de transmitir para a minha filha. Tinha medo até da
minha menstruação”, relata. O diagnóstico de HIV e HTLV — doença
contraída da mesma forma que a Aids, que infecta as células de defesa do
organismo — veio há 12 anos.
“Foi um parceiro sexual antigo e a gente se reencontrou. Quando veio o diagnóstico foi muito difícil aceitar”, conta.
Direito a assistênciaO
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) considera o
Brasil uma referência no tratamento da síndrome. O país é um dos poucos
que oferecem tratamento gratuito para a Aids, mas poderia ser melhor.
Eu repudiava o meu corpo. Tinha medo de transmitir para a minha filha
Paula Mendes* 54 anos, vive com HIV e HTLV há 12, sobre reação inicial ao diagnóstico
O
advogado baiano Oséias Cerqueira, 27, o Ozzy, um dos poucos jovens a
assumir a síndrome, trabalha para tentar quebrar patentes de
medicamentos. “O meu trabalho hoje é tentar facilitar e diminuir o preço
dos remédios. Apesar de o governo oferecer, eles oneram muito”, diz.
Advogado Oséias: assumiu a doença e trabalha como ativista
(Foto: Reprodução) |
A
Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da
Aids, documento aprovado em 1989 em Porto Alegre (RS), diz que “todo
portador do vírus da Aids tem direito a assistência e ao tratamento, sem
qualquer restrição”. Ainda assim, alguns desses direitos ainda são
negados.
O decorador pernambucano de 53 anos, que se
identifica apenas como Margarida*, conta que, além do preconceito nos
olhares das pessoas que moravam na mesma rua que ele, se sentiu
negligenciado pela equipe médica.
Ele descobriu que vivia com o vírus em Recife (PE)
há quatro meses, após crises de diarreia. “Perdi muito peso, fiquei
muito magro e mesmo assim a infectologista lá disse que eu não precisava
de remédio, me colocou no soro. Quando cheguei aqui (em Salvador), nem
acreditei quando me deram os remédios no mesmo dia. A médica ficou
surpresa por eu estar há um mês sem”, relata.
RejeiçãoPaula,
por outro lado, sentiu o preconceito ainda mais próximo. Quando foi
fazer uma cirurgia para retirada de um mioma, ouviu a enfermeira que lhe
atendia comentar com uma colega que sentia rejeição em atendê-la. Ela
já teve dificuldades até com tratamento odontológico.
Em maio deste ano, o Centro Estadual Especializado
em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap) reabriu o consultório
odontológico para atendimento a pacientes soropositivos.
Soropositivos enfrentam preconceito de parceirosSe
a aceitação na família é comum para boa parte das pessoas vivendo com
HIV atendidas hoje no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico,
Assistência e Pesquisa (Cedap), o preconceito nos relacionamentos ainda
deixa marcas.
“Comigo, aconteceu em relação a namoro, de eu não
estar pronto para contar e a pessoa achar que você está sendo mal
intencionado ou a pessoa descobrir no Google e ficar revoltado ou
simplesmente falar que não quer mais ficar com você porque não dá
conta”, diz o advogado e ativista Oséias Cerqueira, o Ozzy.
O meu trabalho hoje é tentar facilitar e diminuir preço dos remédios
Oséias Cerqueira, advogado, 27 anos, soropositivo desde os 20, trabalha em ONG para quebra de patentes
Já
Penélope Correia*, 40, conta que até se relacionou depois da doença,
mas hoje está solteira porque não admite mentir sobre a doença. “Se eu
estiver com uma pessoa, tem que ser de verdade. Eu não aceito dizer para
ninguém que eu tomo remédios para gripe ou para diabetes. Eu tomo o
coquetel porque eu sou soropositiva e ele é quem me mantém viva”,
conta.
Quem também não abre mão de falar a verdade é o
figurinista André Ferreira*, 38. Ele vive com a Aids há dez anos, mas já
não transmite a doença. “Eu tenho HIV, mas não me sinto com HIV, graças
a Deus. Estou com um rapaz que não é soropositivo e ele foi ao
infectologista porque a camisinha estourou. Mesmo sendo indetectável, eu
sempre falo para a pessoa”.
Em situações como essa, o parceiro sexual pode fazer
a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP): é administrado um antirretroviral
(ARV) para bloquear o ciclo de multiplicação do vírus, impedindo a
reprodução no organismo.
ONGs oferecem apoio para pacientes e famíliasNa
Bahia, além dos centros de referência estadual e dos centros
municipais, pessoas que vivem com o vírus HIV também encontram
atendimento em ONGs. Em Salvador, o serviço não-governamental conta com
psicólogos, terapeutas, médicos, fisioterapeutas e voluntários que
decidiram ajudar outras que vivem com a síndrome.
Em Monte Serrat, a Casa de Apoio e Assistência ao
Portador do Vírus HIV/Aids (Caasah) atende hoje 25 adultos e 19 crianças
com Aids - todos vivem lá. Também em Salvador, o Grupo de Apoio e
Prevenção à Aids (Gapa Bahia) oferece apoio e atendimento psicológico a
pessoas que vivem com o HIV desde 1988.
Já no bairro de Nazaré, a Instituição Beneficente
Conceição Macêdo (IBCM), fundada há 27 anos, em 1988, oferece moradia
para famílias que vivem com o HIV e também uma creche para crianças que
vivem ou convivem com o vírus.
As 40 crianças atendidas na creche fundada pela
ex-técnica em enfermagem Conceição Macêdo são filhas, netas, irmãs ou
sobrinhas de moradores de rua que vivem com o HIV. A instituição
sobrevive com auxílio de doações. Para ajudar a IBCM, basta ligar para
(71) 3450-9759.
Doações à Caasah podem ser feitas por depósito
bancário nas seguintes contas: Caixa Econômica Federal (Conta 3283-5 /
Agência 0062-03); Banco do Brasil (Conta 2001-X / Agência 2967-X); Banco
Itaú (Conta 57494-5 / Agência 0697); e Banco Bradesco (Conta 370-0 /
Agência 3601-1). Para ajudar o Gapa Bahia, é só ligar para (71)
3241-3831.
*Nomes fictícios
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