De
acordo com a doutora em História pela UFPE e especialista em História
das Mulheres, Suzana Veiga, é fundamental que as mulheres estejam
ocupando esses espaços, considerando que durante séculos as mulheres
foram impedidas de acessar à educação básica e superior.
“No
Brasil, apenas em 1827 as mulheres puderam ter acesso ao ensino básico,
sendo que desde o período colonial os homens, especialmente da classe
rica, claro, podiam frequentar escolas. Ou seja, ocupar esse espaço de
educação, pesquisa e intelectualização é um passo político em direção à
produção de ciência que contemple a experiência e as necessidades das
mulheres, é quebrar os silêncios históricos sobre nossas lutas e nossas
contribuições para a sociedade”, afirma a professora. | | A
diversificação da presença feminina em cursos antes predominantemente
masculinos reflete um avanço nos padrões educacionais. Todavia, ainda se
nota que a maior participação feminina está em cursos relacionados a
bem-estar, que abrange as áreas de Serviço social, Gerontologia e
Assistência a idosos e a deficientes.
Menos mulheres em cursos de exatas e tecnologiaApesar
de estarem inseridas em áreas de predominância masculina, como os
cursos de Ciências físicas, Tecnologias (TIC), Engenharias e Matemática,
a proporção de mulheres apresentou certa redução nos últimos 10 anos.
De 2012 para 2022, a diminuição de mulheres nessas áreas foi de 23,2%
para 22%. | | Para
a Agência Tatu, a doutora em Educação pela Universidade de Columbia e
pesquisadora de feminização do magistério, Marcella Winter, explica que a
disparidade nas proporções de mulheres em diferentes áreas acadêmicas
reflete padrões sociais e estruturais de gênero.
“Isso
também mostra que estereótipos de gênero são persistentes, já que
historicamente as mulheres estão associadas a papéis de cuidado. O
estigma de que certas disciplinas são mais adequadas para homens também
influencia as escolhas educacionais das mulheres, que são ensinadas
desde meninas, na escola, em suas casas, pela mídia etc., que algumas
áreas ou profissões não são para elas. Essa “feminização” de algumas
áreas não só leva mulheres a buscarem ocupações vistas como mais
‘adequadas’, mas também contribuiu para a desvalorização das profissões
ocupadas por elas, vistas como de menor valor social”, relata Winter.
Evolução na educaçãoEntre
2012 e 2022, o nível de instrução da população feminina, com 25 anos ou
mais, que possui ensino superior completo aumentou de 14% para 21,3%.
Já a proporção de mulheres pretas e pardas concluindo o ensino superior
quase dobrou, saindo de 7,7% para 14,7%, na mesma década. Os homens
também registraram um aumento, porém em menor proporção, já que o número
subiu de 11% em 2012, para 16,8% em 2022.
Com
relação à conclusão do ensino médio, que é a porta de entrada para a
universidade, a proporção de mulheres que concluíram ou que possuem
ensino superior incompleto é de 33,9%, enquanto que a de homens é 34,2%.
Em 2012, o percentual feminino era de 28,3% e o masculino de 27,9%.
Nível de instrução da população de 25 anos ou mais, por sexo | | Segundo
a pesquisadora Marcella Winter, o maior número de mulheres com ensino
superior completo em comparação com os homens indica uma evolução
positiva em termos de acesso e realização educacional para as mulheres.
No entanto, nem sempre representa o mesmo em outras áreas da sociedade.
“A
conquista desses espaços é resultado das lutas dos movimentos
feministas, de uma crescente conscientização sobre a importância da
participação das mulheres na sociedade brasileira e de políticas
públicas de promoção da equidade. No entanto, essa conquista de espaço
acadêmico não necessariamente se reflete na empregabilidade, nos
salários e nas condições de vida das mulheres brasileiras, no geral. Por
isso, é crucial continuar monitorando e analisando essas tendências, e
interpretá-las com criticidade”, explica Marcella Winter. | | Já
a professora de História das Mulheres, Suzana Veiga, relata que o dado
não significa diretamente um avanço, apesar de ser importante. “Tenho
visto como a universidade, através de seus concursos, absorve muito mais
homens do que as colegas mulheres, então há realmente avanços? Não.
Ainda temos que lutar bravamente por espaço, quebrar tetos de vidro e
sermos vítimas de misoginia no mercado de trabalho, já que contratar
mulheres pode significar lidar com ciclo menstrual, gravidez e a
conciliação do trabalho doméstico e de cuidado que as mulheres precisam
lidar junto com o trabalho formal. Então, não vejo tanta evolução
assim”, conclui a professora. |
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