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Seis anos após seu assassinato, e a memória de Marielle continua a ser alvejada por sicários travestidos de militantes. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
Marielle
Franco deveria ser uma unanimidade nacional. Um símbolo da luta contra a
violência e o crime organizado. Ela, afinal, foi morta por desafiar o
poder das milícias, se insurgindo contra os tentáculos que esses grupos
moviam para a exploração do setor imobiliário no estado do Rio de
Janeiro. Só isso deveria bastar para se colocar de lado qualquer
discordância sobre sua visão de mundo e posicionamentos ideológicos. Mas
não no Brasil em que a necropolítica contaminou o debate público e o
ódio virou um imperativo categórico.
Em
certos círculos mais extremados, mencionar o nome de Marielle já é
suficiente para atiçar os instintos mais primitivos. Foi o que ocorreu
essa semana em São Leopoldo, cidade da região metropolitana de Porto
Alegre. Em meio a uma manifestação da vereadora Ana Affonso (PT),
mulheres integrantes do PL a interromperam com gritaria e xingamentos
quando esta a citou na tribuna. “Que vergonha ver mulheres aqui que não
conseguem se sensibilizar com uma parlamentar assassinada com cinco
tiros na cabeça, e o próprio ex-chefe de polícia envolvido”, reagiu a
parlamentar.
Quem
vaia a vítima, por via oblíqua acaba por aplaudir o autor. Se trata de
uma dedução elementar. Que tipo de cidadão de bem é capaz disso? Como se
dizer cristão e temente a Deus tendo esse tipo de comportamento vil,
desprezível e desumano? As vaias a Marielle em São Leopoldo não são
episódio inédito, tampouco isolado. Em 2018, uma placa com o nome dela
foi quebrada por Daniel Silveira e Rodrigo Amorim, então candidatos pelo
PSL. Em 2022, os dois se reencontraram para celebrar o ato posando para
fotos com os pedaços da placa. Não deixa de ter seu simbolismo
perverso.
Em
sua delação premiada, o ex-policial Ronnie Lessa, responsável por
executar a vereadora, finalmente apontou aqueles que seriam os
mandantes: Domingos Brazão, Chiquinho Brazão e Rivaldo Barbosa. Figurões
da política e da polícia carioca com conexões ainda não de todo
conhecidas. Os detalhes da investigação conduzida pela Polícia Federal
revelam uma trama complexa de infiltração do crime no aparato estatal e
ressaltam o drama da segurança pública no Rio de Janeiro.
A
elucidação do caso, atrasada pelos próprios agentes do crime, deveria
ser comemorada de forma universal, reforçando a necessidade de endurecer
as medidas de combate ao narcotráfico e às milícias. É curioso notar,
entretanto, que, para alguns elementos, o nome dos criminosos envolvidos
nesse caso parece despertar menos ojeriza do que o de Marielle.
Seis
anos após seu assassinato, e a memória de Marielle continua a ser
alvejada por sicários travestidos de militantes. Não é preciso ter as
mesmas posições que ela tinha para lhe prestar tributo nem lhe cobrar
justiça. Mas isso parece ser impossível para aqueles que,
desgraçadamente perdidos na coisificação dos adversários, parecem ver na
morte um destino merecido àqueles de quem discordam.
Postado há Yesterday por Orlando Tambosi
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