BLOG ORLANDO TAMBOSI
O que torna a situação muito complicada para o Brasil não é só o fato de exercer nesta parte do planeta muito menos influência do que geografia e economia; Argentina e Venezuela são exemplos da atração que polos opostos na política internacional exercem hoje sobre países de uma mesma região. William Waack:
O
Brasil tem tido grandes dificuldades em tomar conta e, na medida do
possível, conduzir o que acontece no seu entorno imediato. Os problemas
surgem pela confusão entre interesse nacional e interesse pessoal do
presidente da República, e pelo desrespeito a postulados básicos de
política externa.
Tanto
em relação à Argentina como Venezuela o governo agiu orientado por
afinidades ou antipatias ideológicas, e está perdendo nos dois casos.
Nos dois países resolveu “ajudar” forças políticas em contextos nos
quais não dispõe de instrumentos efetivos de influência, na esperança de
assim obter comportamentos “convenientes” de vizinhos.
Os
resultados até aqui colhidos são evidentes em sua pobreza. Na Argentina
o governo brasileiro tem de lidar com um “rival” e o que poderia ser de
interesse comum aos dois países está no momento em segundo plano. Na
Venezuela um governo “amigo” cria tensão internacional indesejável para o
interesse brasileiro, seja por fraudar eleições, seja por cultivar
ambições em relação a território de país fronteiriço.
Há uma forte ironia naquilo que une Javier Milei, o libertário de direita, e Nicolás Maduro,
o ditador de esquerda. Ambos se dão em público ao luxo de eventualmente
tratar a pontapés o que diz o governo brasileiro. Não estão sozinhos:
há bastante tempo que nenhuma chancelaria na América do Sul perde muito
sono com o que se pensa em Brasília.
O que torna a situação muito complicada para o Brasil
não é só o fato de exercer nesta parte do planeta muito menos
influência do que geografia e economia sugerem que o País poderia ter (e
já teve). Argentina e Venezuela são exemplos da atração que polos
opostos na política internacional exercem hoje sobre países de uma mesma
região – desafio que o Brasil também enfrenta.
Caricatas
ou não, as posturas de Argentina e Venezuela espelham um choque maior
entre “aliança pró-Ocidental” versus “eixo das autocracias”. No qual o
Brasil está literalmente no meio: depende da exportação para autocratas
sobretudo na Ásia e da importação de insumos (de Defesa e tecnologia do
agro) das democracias ocidentais. Universo ao qual pertence por história
e valores.
Essa
noção de delicado equilíbrio é vital para uma potência regional média,
como o Brasil, com escassa capacidade de projeção de poder. Como ensinam
os clássicos das relações internacionais, a maior “proteção” que um
país desse tipo pode alcançar está em alianças regionais que ampliem seu
peso relativo.
O
que pressupõe pensamento estratégico, mobilização eficiente de recursos
e, principalmente, direção e sentido dados por elites políticas e
econômicas. Em gíria política chama-se isso de “pensar o País”. Estamos
longe disso.
Postado há 3 days ago por Orlando Tambosi
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