O
segundo dia da Intermodal South America 2024 teve como destaque o setor
portuário. Leilões, obras de infraestrutura, tecnologia e soluções para
gargalos existentes foram alguns dos temas abordados por especialistas
durante o Interlog Summit e também nos estandes de autoridades
portuárias.
Em
participação no evento, no painel “Inovação nos portos brasileiros:
como endereçar o déficit tecnológico dos portos nacionais?”, o
presidente da APS - Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini,
destacou que o Porto de Santos, especialmente por sua relevância, que
representa 30% do escoamento da produção nacional e tem fluxo diário de
80 mil pessoas, continua atrasado, se comparado a outros portos do País,
pela falta de investimentos. “Nos últimos quatro ou cinco anos não
houve investimentos em tecnologia, essencial para a busca de maior
eficiência”.
Participaram
do painel, a secretária executiva adjunta do Ministério de Portos e
Aeroportos, Gabriela Costa; o presidente do Porto do Rio Grande do Sul,
Cristiano Klinger; e Eduardo Valença, da Wilson Sons, que mediou a
conversa.
Além
disso, o presidente da APS mencionou que o maior desafio do Porto de
Santos, atualmente, é ter uma infraestrutura que mire na tecnologia.
Pomini ressaltou, entretanto, que alguns passos estão sendo dados no
sentido de buscar mais inovação, em um investimento previsto de R$ 130
milhões para a contratação de serviços necessários de tecnologia e para
receber o VTMIS (Vessel Traffic Management Information System, ou
Operações do Sistema de Gerenciamento de Informações do Tráfego de
Embarcações).
“Devido
ao crime organizado, buscamos parcerias tecnológicas para auxiliar a
Polícia Federal e a Receita Federal do Brasil no combate ao tráfico de
drogas. Esse esforço trará benefícios operacionais para o porto, como
exemplo, o uso de drones subaquáticos que, além de oferecer maior
fiscalização nos cascos dos navios, vai ajudar nas operações”, detalhou
Pomini.
Ele
destacou também a necessidade de obter ferramentas que tragam ainda
mais segurança para as tecnologias que serão implementadas. “Já foi
constatado, por exemplo, que drones foram utilizados para levar drogas
para embarcações específicas, isso faz com que tenhamos que adquirir,
também, tecnologia anti drone, evitando, assim, o uso indevido de um
equipamento que pode nos auxiliar bastante”, finalizou.
Rio de Janeiro em crescimento
O
presidente da Portos Rio, Francisco Martins, revelou em entrevista à
Intermodal que diversos investimentos estão previstos para os portos do
Rio de Janeiro em 2024. “Além dos leilões que já são esperados, estamos
investindo aproximadamente R$ 600 milhões em infraestrutura e segurança
portuária. Esses recursos vão priorizar obras essenciais para nossos
portos, como a dragagem e revitalização do Cais da Gamboa e o
aprofundamento do canal principal do Porto do Rio de Janeiro para a
passagem de navios 366 metros, possibilitando a entrada e embarcações
maiores em nossos portos”, explica.
Segundo
Martins, a administração vem investindo também em tecnologia e inovação
para aprimoramento da segurança portuária, como a implantação do VTMIS -
sigla inglesa para Sistema de Informação e Gerenciamento do Tráfego de
Embarcações. “Aqui na Intermodal temos um exemplo do nosso monitoramento
através de câmeras de vigia. Também estamos investindo na implantação
do VTMIS, um recurso muito importante para a rotina portuária. Estivemos
em Barcelona há pouco tempo na maior feira de conectividade do mundo,
onde já alinhamos as bases de uma parceria para aprimorar nossos
sistemas. O nosso desafio é tornar o Rio de Janeiro e Itaguaí portos de
referência em segurança. Não daremos trégua a qualquer organização ou
indivíduo que use os nossos portos como canal para atos ilicitos”.
Sobre
a Intermodal South America, Francisco Martins acrescentou que “o evento
surpreendeu com a movimentação e número de expositores, superou as
nossas expectativas e isso se reflete já desde o primeiro dia no número
de pessoas que nos procuram para tratar de assuntos de interesse da
empresa e as novas expectativas do investimento”.
Pecém
Importante
terminal portuário da costa do nordeste brasileiro, o Complexo do Pecém
(CE) também integra a grade de marcas expositoras da Intermodal South
America 2024. Um dos destaques da companhia é o projeto do Hub de
Hidrogênio Verde, projeto que prevê a instalação de uma unidade fabril
que abrigará 1,12 GW de eletrólise de H2V após sua conclusão, com
capacidade de produzir 190 quilotons de hidrogênio renovável e mais de
um milhão de toneladas de amônia renovável por ano. A planta, a ser
instalada no Setor 2 da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do
Ceará, integra a Fase I da Cactus e está programada para iniciar suas
operações em 2027.
“Essa
feira é um dos principais eventos do setor que o Complexo participa.
Aqui, podemos apresentar ao público nossos diferenciais, a nossa
versatilidade como porto, a nossa integração à zona industrial e à ZPE
Ceará e nossos projetos de sustentabilidade. Temos reuniões importantes
para prospectar novas cargas e negócios para o Complexo do Pecém, o que
pode trazer ainda mais desenvolvimento para o Estado”, destacou o
presidente do Complexo do Pecém, Hugo Figueiredo. O Complexo do Pecém é
uma joint venture
formada pelo Governo do Estado do Ceará e pelo Porto de Roterdã que
movimenta granéis sólidos, granéis líquidos, contêineres e cargas em
geral.
Descarbonização na cadeia logística
A
descarbonização na cadeia logística e as fontes alternativas de
combustíveis também foram um dos assuntos no 2º Interlog Summit. A
diretora presidente da Associação Brasileira de Operadores Logísticos
(ABOL), Marcella Cunha, falou sobre a tramitação no Congresso Nacional
sobre o Projeto de Lei (PL) que visa a regulamentação do mercado de
carbono no Brasil.
O
objetivo do PL é a criação de um sistema de compensação de emissões de
carbono, com a obrigatoriedade da compra de títulos para aqueles que
ultrapassarem as cotas estabelecidas, e o direito de venda de cotas no
mercado para as empresas que não atingiram esse limite de cotas. “A
expectativa é que a PL seja aprovada ainda esse ano, o que implicaria
que o mercado de carbono esteja estabelecido em 6 anos no país. Isso
significa que as empresas precisam estar prontas para uma reformulação
total, principalmente na área de contabilidade. A ABOL tem acompanhado
de perto a tramitação da PL em Brasília em prol dos nossos associados”,
disse Marcella.
Marcella
também destacou o papel da associação para a conscientização do setor
de operadores logísticos em relação às práticas de ESG. A ABOL formou um
Grupo de ESG para discutir e gerar um diagnóstico sobre essa relação
com os operadores para incentivar investimentos neste sentido, em
especial para reduzir as emissões de carbono. “O próximo passo é mapear
um inventário para saber o nível de emissão de cada operador”, comentou
ela.
Já
o vice-presidente de Operações da FedEx Express Brasil, Guilherme
Gatti, abordou o plano global da empresa para se tornar neutra em
carbono até 2040. “Essa meta será alcançada como resultado de uma
redução na emissão de carbono nas nossas operações e compensações
obtidas por meio de outros canais e tecnologias”, afirmou Gatti.
Ele
destacou a renovação e a eletrificação de parte da frota de caminhões
da FedEX no Brasil e o investimento de 100 milhões de dólares na área de
pesquisa da Universidade de Yale (EUA) para o desenvolvimento de novas
tecnologias para capturar e armazenar carbono.
Outro
operador logístico que ressaltou ações neste sentido de redução de
emissões de carbono e fontes alternativas de combustíveis foi o head de
Sustentabilidade da Bravo, Marcos Azevedo. Ele apontou que uma das
apostas da Bravo em energias renováveis é o biometano para o
abastecimento da frota. “O biometano tem muito potencial. Porém, ainda
precisamos ultrapassar algumas barreiras para tornar o consumo mais
abrangente por outras empresas, como o aumento no número de pontos de
abastecimento”. O executivo revelou que a Bravo deve inaugurar em maio
um ponto de abastecimento de biometano próprio na cidade de Paulínia. ”A
ideia é incentivar o uso do gás também por outros operadores”,
comentou.
Já
o CEO Brasil e Argentina da DB Schenker, Luís Marques, falou sobre os
investimentos na compra de biocombustível para abastecer as empresas
parceiras de fretamento no modal aéreo e marítimo. “Em 2023, adquirimos
300 mil toneladas de biocombustível para este objetivo”, disse Marques.
Aliança Brasileira para Descarbonização de Portos (ABDP)
A
28ª Intermodal South America foi o local escolhido para que autoridades
portuárias lançassem a Aliança Brasileira para Descarbonização de
Portos, representando um ponto de virada histórico para os portos do
Brasil. O projeto é uma extensão do sucesso da Aliança Espanhola, uma
iniciativa que reúne portos há três anos para colaborar em ações de
redução de carbono na cadeia marítima.
A
iniciativa do programa partiu do Porto do Itaqui, quando no ano passado
este estabeleceu uma parceria estratégica com a Valenciaport,
tornando-se o primeiro porto público brasileiro a aderir a um projeto de
descarbonização inovador. Agora, em conjunto com outros terminais
portuários, o programa visa criar um plano de descarbonização nacional, o
que representa um avanço audacioso e transformador em direção a um
futuro mais sustentável para o país.
Importantes
entidades, como o Porto do Itaqui, Porto de Suape, Portos do Paraná,
Porto do Açu, Porto Sudeste, Fundação Valencia, ABTP (Associação
Brasileira dos Terminais Portuários), ATP (Associação de Terminais
Portuários Privados) e ABEPH (Associação Brasileira das Entidades
Portuárias e Hidroviárias), firmaram o acordo. O evento contou com mais
de 65 interessados de 37 empresas de todo o Brasil, incluindo
organizações, sindicatos, associações de portos públicos e privados,
ministérios dos portos, ANTAQ, entre outros.
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