BLOG ORLANDO TAMBOSI
De acordo com o grupo Hope Not Hate, defender os direitos das mulheres torna você um extremista perigoso. Joanna Williams, da Spiked, para a revista Oeste:
Diga
“extremismo de direita”, e a maioria das pessoas vai pensar em
fascismo. Quem sabe em Hitler, nazismo e suásticas. Ou, mais
recentemente, no político britânico Enoch Powell e seu infame discurso
“Rivers of blood” (“Rios de sangue”, em tradução livre). Ou ainda na
Frente Nacional britânica dos anos 1970. É bem menos provável virem à
mente feministas defendendo os direitos das mulheres. Ou pais
preocupados que tenham objeções à sexualização de crianças e a
bibliotecas fazendo apresentações de drag queens.
Incrivelmente, ambos os grupos são mencionados em um novo relatório do grupo Hope Not Hate (“Esperança, Não Ódio”). “State of hate 2023: rhetoric, racism and resentment”
— ou “Estado do ódio 2023: retórica, racismo e ressentimento”, em
tradução livre — é divulgado como “o guia mais abrangente e analítico
sobre a extrema direita na Inglaterra hoje”. Abrangente é uma forma de
definir o texto. Ele detalha tudo e todo mundo de quem seus autores não
gostam, de apresentadores da GB News à feminista crítica da teoria de
gênero Kellie-Jay Keen (também conhecida como Posie Parker). O relatório
é menos uma pesquisa e mais um chilique muito longo.
O
Hope Not Hate destaca protestos contra o projeto Drag Queen Story Hour
(Hora da História da Drag Queen, em tradução livre) como um exemplo de
“agitação da extrema direita”. O relatório enganosamente descreve esses
eventos de drag queens apenas como “contações de história para crianças
em bibliotecas públicas”. Em seguida, o texto rotula como problemáticas
as pessoas que perguntam por que homens com seios falsos e meias
arrastão estão tão interessados em ler histórias para crianças pequenas.
“A extrema direita enxerga os direitos trans como um desafio
fundamental para sua crença nos papéis de gênero tradicionais e nas
estruturas familiares”, afirma o Hope Not Hate. Nunca fica claro qual é a
relação entre extrema direita e não querer sexualizar as crianças ou
defender os valores familiares tradicionais. Se você gritar “extrema
direita”, parece que não é preciso explicar mais nada.
Kellie-Jay Keen
O
Hope Not Hate afirma que a retórica antitrans está se tornando “cada
vez mais escancarada e agressiva na extrema direita”. E, claro, o que o
grupo descreve como “retórica antitrans” pode ser qualquer coisa, desde
errar o gênero de alguém até defender os direitos das mulheres com base
no sexo. É aqui que Kellie-Jay Keen é mencionada, como uma “ativista
antitrans” que encontra “cada vez mais apoio nas opiniões da extrema
direita e se combina com elas”. Seu famoso pôster “Woman: adult human
female” (“Mulher: adulta humana”) e seus eventos “Let women speak”
(“Deixe as mulheres falarem”) há tempo atraem ofensas de ativistas
trans. “State of hate” confirma o status de Keen como uma “voz de
liderança no movimento antitrans”.
Quando
destacar a definição do dicionário para “mulher” é o suficiente para
uma pessoa ser associada à “extrema direita”, realmente estamos em
apuros. O feminismo foi uma das grandes causas das progressistas do
século anterior. As antigas campanhas por igualdade econômica, social e
política entre os sexos ainda são corretamente celebradas hoje em dia.
No entanto, as pessoas que quiserem defender os direitos baseados no
sexo, direitos pelos quais as feministas lutaram tão arduamente”, serão
menosprezadas como transfóbicas e preconceituosas.
Destacar
Kellie-Jay Keen também a transforma num alvo. Já sabemos que Keen
recebeu uma visita da polícia e foi assediada por manifestantes, em
consequência de seu apreço pelos direitos das mulheres. Ao chamar
atenção para ela mais uma vez, o Hope Not Hate está contribuindo com sua
demonização irrefreada.
Infelizmente,
o grupo não é o único que rotula Keen como uma ativista quase de
extrema direita. Algumas feministas — até mesmo críticas de teoria de
gênero — fizeram o mesmo. Já em 2018, uma organização feminista acusou
Keen de racismo, porque ela criticou a prática do uso de véu das jovens
muçulmanas. Uma jornalista feminista chegou a chamar Keen de “Marine Le
Pen de Brechó” e descreveu uma manifestação organizada por ela como um
evento “cooptado por nacionalistas, racistas e misóginos”.
Essas
feministas esnobes não fazem ideia de como organizações políticas
funcionam. Se você organiza um protesto, não é possível escolher a dedo
quem aparece, quem filma a sua fala ou quem compartilha trechos nas
redes sociais. Se você quer “deixar as mulheres falarem”, não se pode
realizar um exame prévio de pureza política. De forma similar, o Hope
Not Hate tenta condenar Keen, ao chamar atenção para elementos
secundários que participaram ou transmitiram alguns de seus atos. É uma
tática preguiçosa de culpa por associação.
Kellie-Jay Keen é mencionada como uma “ativista antitrans”
Com
toda a conversa ridícula de Kellie-Jay Keen estar de alguma forma
aliada à “extrema direita”, na verdade os ativistas são os verdadeiros
reacionários aqui. São eles que estão revertendo as conquistas do
feminismo e declarando guerra aos direitos das mulheres.
Um
século atrás, dizia-se para as mulheres que não era feminino exigir o
direito de votar e de frequentar a universidade. As feministas da
atualidade ouvem de figuras como o grupo Hope Not Hate que é um
comportamento de extrema direita não aceitar homens de vestido em
provadores, prisões e alas femininas de hospital. Não feminino, não
natural, de extrema direita… A linguagem muda, mas o sentimento continua
o mesmo. Pelo jeito, mulheres que exigem direitos baseados no sexo
devem se calar e acatar os homens.
O
que se torna mais aparente a cada dia é como o ativismo woke na verdade
é retrógrado. As mulheres não podem ser detidas em sua defesa por
direitos por alarmistas sexistas e politizados.
Joanna Williams é colunista da Spiked e autora de How Woke Won (2022)
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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