Todos os seus cenários apontam num único sentido: a insurgência de uma parte decidida da população russa, em especial a massa de jovens chamados para a frente militar com as previsíveis consequências. Manuel Villaverde Cabral para o Observador:
A
ida de Zelensky aos Estados Unidos para se encontrar com o presidente
Biden, os governantes e os eleitos norte-americanos ao cabo de dez meses
de combate ininterrupto confirma que se trata de uma terceira guerra
mundial. Só tem o envolvimento directo dos dois contendores actuais – a
Rússia invasora e a Ucrânia invadida – mas já envolve também alguns
parceiros da Rússia e, frente a estes, a generalidade dos países da
NATO, em especial os Estados Unidos e a Inglaterra em defesa da Ucrânia!
O carácter mundial da guerra em curso deve-se, desde logo, à ameaça
nuclear emitida repetidamente pela Rússia desde o primeiro dia da
invasão da Ucrânia.
Dito
ao invés, os dez meses que a actual guerra já durou poderiam,
eventualmente, ter terminado com a derrota da Rússia se não fosse o
risco de esta recorrer à nuclearização da guerra e à sua propagação ao
resto do mundo. Ora, se há algo que ficou claro dos vários encontros de
quarta-feira passada – sem falar daqueles que não foram publicitados mas
adivinhamos – é que, a menos de serem atacados pela Rússia, o que não
parece concebível, os Estados Unidos rejeitarão totalmente a
possibilidade de ripostar ao eventual ataque nuclear com que a Rússia
tem ameaçado a Ucrânia sem parar!
Significa
isto que, a ser exacta a minha opinião acerca das intervenções de Biden
durante a estadia de Zelensky em Washington, os Estados Unidos não se
deixarão arrastar para qualquer recurso ao nuclear contra a Rússia mesmo
no caso de esta perder a cabeça… Dito isto, na impensável hipótese de a
Rússia recorrer ao nuclear contra a Ucrânia, como tem vindo a ameaçar
repetidamente, então o mundo seria arrastado para uma efectiva 3.ª
guerra mundial que todos proclamam não querer… mas!
Continuamos,
pois, a ser todos prisioneiros da loucura em que Putin e os seus
cúmplices nos meteram. Dito de outro modo, a eventual vitória da Ucrânia
sobre a Rússia concebida por Biden e o seu pessoal político-militar sem
recurso ao nuclear é improvável perante a actual relação de forças.
Para que tal viesse a ocorrer, seria necessário que Putin e a sua gente
fosse derrubada e definitivamente arredada do poder.
Os
serviços de informação norte-americanos têm com certeza uma ideia a
este respeito mas não no-la dirão tão cedo. Na realidade, todos os seus
cenários, sejam eles quais forem, apontam num único sentido: a
insurgência de uma parte decidida da população russa, em especial a
massa de jovens chamados para a frente militar com as previsíveis
consequências, e finalmente a tomada do poder central contra Putin com o
acesso da mal conhecida classe política russa ao controle temporário do
poder.
Nada
que os Portugueses e tantos outros «activistas» pelo mundo fora não
tenham conseguido durante um tempo limitado e transmitido no final o
poder legitimado pelas eleições aos candidatos à governação do país.
Dito isto, aquilo que se conhece do imenso território que é a Rússia e
da sua incipiente cultura democrática não augura nada de parecido com as
experiências ocidentais.
Dada
essa alternativa pouco convincente, o mais provável é, segundo os
observadores estrangeiros e os refugiados, a ascensão ao poder de gente
actualmente próxima de Putin que o tem acompanhado até aqui, incluindo
militares e polícias oriundos do antigo KGB: os «SILOVIKI» de que já falei e susceptíveis de fazer uma «reconversão» compatível com a política internacional.
Primeiro
que lá cheguemos – se alguma vez lá chegarmos, o que não é certo! – os
custos humanos continuarão a ser pagos inteiramente pela Ucrânia por
maior que seja a gigantesca despesa militar dos Estados Unidos e da NATO
em geral. Tudo leva a crer, pois, que o preço a pagar pela Ucrânia
continuará a ser enorme. A isso acresce, segundo o governo dos Estados
Unidos deu a entender, não é provável que a Ucrânia recupere a
totalidade dos territórios a recuperar, nomeadamente a Crimeia. Seja
quem for que venha a tomar o poder na Rússia só muito dificilmente
poderia perder a face se entregasse de volta toda a anterior Ucrânia.
Em
contrapartida, é possível que, enquanto os Estados Unidos e a União
Europeia intervierem rápida e gratuitamente na reconstrução do anterior
país, a nova Ucrânia acabará por se desenvolver como Portugal nunca se
desenvolveu desde que se viu sem colónias… Basta ter presente que os
famosos PATRIOT prometidos pelos Estados Unidos só chegarão em meados do
ano que vem para concluir que será muito longo e penoso o percurso que
falta ainda à Ucrânia percorrer, satisfazendo simultaneamente as
exigências dos Estados Unidos por um lado e, por outro, as de quem vier a
governar a Rússia acabada a guerra. Nesse sentido, o entusiasmo com a
ida de Zelensky à América deverá ser não só contido no tempo como na
solução final para o regresso à paz!
Postado há 46 minutes ago por Orlando Tambosi
Nenhum comentário:
Postar um comentário