Em forma de charuto, como eram as “batatinhas” nos primórdios do automobilismo, o Fiat “Mefistofele” literalmente voava baixo com o diabo no corpo (Fiat/Divulgação)
Quem se liga em automóvel sabe muito bem o que significam aqueles números pregados na tampa do porta-malas: 1.0, 1.6, 2.0. Eles também podem aparecer na lateral como 2500, 4100. São números que informam a capacidade volumétrica do motor.
Ou
seja, 1.0 significa que o carro tem motor com 1.000 centímetros cúbicos
de deslocamento. É a soma do volume de todas as câmaras de compressão
do bloco.
Hoje todo mundo sabe que os motores estão encolhendo. O
antigo 2.0 deu lugar a novos e turbinados propulsores 1.0, 1.3 ou 1.4
turbo. É o chamado downsizing, uma corrida da engenharia para entregar
carros mais eficientes.
Mas em 1923, há um século atrás, não existia esse tipo de preocupação. Naquela época a ideia era fazer com que o carro fosse rápido. E foi o que fez o piloto Ernest Eldridge, depois que comprou os restos de um Fiat SB4.
O carro tinha se envolvido num acidente em 1922, após um dos cilindros explodir e destruir o motor, com o piloto John Duff a bordo. Eldridge viu que era possível salvar o carro e fazê-lo ficar ainda mais rápido.
Meses depois, o piloto bateu na porta da Fiat e solicitou um motor A.12, que a marca italiana produzia para sua divisão aeronáutica. Assim, ele instalou um gigantesco propulsor de seis cilindros em linha, com absurdos 21.7 litros de deslocamento.
Isso mesmo, são quase 22 motores 1.0 num único bloco. A potência era de 320 cv, um número fabuloso para a época e necessário para fazer um avião se manter no ar.
O carro ficou pronto em 1923. Colocar o bloco de aviação no Fiat deu um trabalho e tanto. Por ser um carro italiano, sua pintura era em vermelho. Naquela época os carros se diferenciavam por cores de sua nacionalidade. É por isso que a Ferrari é vermelha até hoje.
Em julho de 1924 o Fiat iria fazer sua entrada triunfal em Arpajon, na França. Com um carro tão bruto e assustador, e com pintura vermelha, todos ficaram assustados com o barulho apocalíptico daquele motor.
E o apelido veio quase que de imediato. Mefistofele, uma das alcunhas do Coisa Ruim. O carro cravou velocidade de 230,5 km/h. Algo sobrenatural para os anos 1920. A velocidade máxima que o cramulhão italiano alcançou foi de 234,97 km/h, feito que fez o modelo entrar para história.
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