Percival Puggina
Passei o dia de ontem, 30 de dezembro, lendo discussões nas redes sociais entre cidadãos cujas opiniões se dividiam sobre a quem atribuir responsabilidades e culpas pelos acontecimentos que sobrevirão à posse de Lula e seu séquito de malfeitores.
Existem as culpas indiscutíveis. A culpa dos que, no juízo das “maiorias de circunstâncias” (palavras indignadas de Joaquim Barbosa), extinguiram o cumprimento de penas após condenação em 2ª instância, acabaram com a colaboração premiada e sepultaram a Lava Jato. Quatro mil e novecentas rolhas de espumantes espoucaram nos presídios do Brasil! Há a culpa dos ministros que, passados três anos, num instante de arrebatamento “iluminista”, mudaram o endereço dos processos em que Lula et caterva foram condenados. E a não esquecer: há a culpa dos ministros que – com criminosa informação de um hacker – exigiram de Sérgio Moro a isenção que alguns deles costumam deixar em casa quando a pauta do STF é de interesse político – porque os manés têm que perder, porque missão dada é missão cumprida, porque poder a gente toma e porque um tapinha carinhoso no rosto é o reconhecimento facial dos justos...
A estas, somam-se as imensas culpas das duas casas do Congresso Nacional, colegiados da representação política onde a falta de virtude prende aos próprios vícios o bem do povo brasileiro. E há a culpa dessa coisa horrorosa em que se transformou nossa “imprensa tradicional”, verdadeira massaroca de fatos, versões, narrativas, ocultações explícitas e fins implícitos.
O objeto real das discussões que acompanhei, porém, era outro. Envolvia possíveis responsabilidades das Forças Armadas e do próprio presidente Bolsonaro. Vejo essas altercações como uma armadilha criada por nós mesmos para nos capturar e dividir quando tanto iremos precisar de unidade.
Há muito trabalho pela frente! Objetivos a alcançar, tanto para frear os abusos de que temos sido vítimas quanto para sustar as ameaças e planos sinistros anunciados e já acionados por ministros do STF e pelo governo por instalar-se na virada da folhinha. Há um imenso dever de casa que nunca foi feito! 2018 foi o ano em que conservadores e liberais, ceguinhos e descuidados, acharam um vintém. Só por milagre, cegos acham vinténs. Há que vencer em 2026 por méritos, não por sorte ou milagre. A presidência de Bolsonaro mostrou-nos um quadriênio em que o bem realizado foi extraído a fórceps, de contexto adversário, que a toda hora quebrava regras e comandava o jogo.
O tema desta crônica, no entanto, era a busca de responsáveis pelo desastre de amanhã nos bate-papos de ontem nas redes sociais.
Neles não li uma única palavra sobre a responsabilidade por omissão dos 31 milhões de eleitores que ficaram em casa num dia como o 30 de outubro de 2022! Nem sobre outros quase 6 milhões que compareceram, mas votaram branco ou nulo!
Se um em cada dez desses cidadãos tivesse um pingo de juízo, o resultado da eleição seria outro. Sim, porque eleitores petistas, eleitores de esquerda, gente que acredita em mentiroso, que vai esperar o vale-picanha com cervejada, que precisava, por essas e outras, “trazer os criminosos de volta ao local do crime” (se o Alckmin pode, eu também posso), foram ávida e esperançosamente para a fila da seção eleitoral.
Uma pequena fração do bloco dos omissos daria ao Brasil outro 1º de janeiro. Enorme responsabilidade cabe, sim, à turma de “nojinhos” e comodistas a quem tanto escrevi e com quem tanto debati sempre que apareceu a oportunidade. Cidadãos que só votarão quando surgir candidato tão perfeito quanto eles mesmos; então, sobre as ruínas de sua omissão, comparecerão, vaidosos de si mesmos, às sessões eleitorais. Cidadãos que não gostam dos modos de Bolsonaro e com esse elevado critério viabilizaram números que “deram” vitória aos “modos” de Lula e seus comparsas. Quanta tristeza! Bastaria que pequena fração desse enorme contingente tivesse usado a consciência e a cabeça para que não estivéssemos, agora, às portas do nosso inferno astral, prometido pelo petismo e jurado por Xandão.
Com o que vem por aí, esse imenso grupo e os futuros congressistas são nosso campo prioritário de trabalho e conscientização cívica.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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