Os esforços para criar termos inclusivos – originalmente para renomear deficiências físicas, posteriormente aquelas “derivadas do racismo estrutural” e mais recentemente o léxico relacionado à multiplicidade de identidade sexuais – criou expressões que vão além do ridículo. Leonardo Coutinho para a Gazeta do Povo:
A
Universidade de Stanford, na Califórnia, é uma das melhores
universidades do planeta. Segundo este ranking aqui, ela é a terceira
mais bem posicionada dos Estados Unidos e do mundo, atrás apenas de
Harvard e do MIT, que dividem a mesma vizinhança no estado de
Massachusets. Além de zelar pela reputação de seus cursos e pelo nível
elevado de seus estudantes, os administradores de Stanford lançaram uma
cartilha sobre palavras ofensivas que precisam ser banidas do
vocabulário acadêmico – seja ele falado ou escrito.
A
medida vai além de um manual de conduta (?) ou um guia de etiqueta (?)
acadêmica. Sob o argumento de não ofender ou discriminar, a lista negra
(opa! Essa não pode) tem um potencial de restringir a liberdade de
pensamento e até mesmo distorcê-lo. “Lista negra”, na lista negra de
Stanford, deve se chamar “lista de proibições” ou “lista de negação”.
O
conjunto de palavras e expressões consideradas ofensivas é vasto. Quem
nunca ouviu ou leu “estadunidense”, inclusive na imprensa brasileira?
Pois bem, o pessoal de Stanford sugere banir o termo americano, como
referência a quem nasce nos Estados Unidos, sob o mesmo argumento de
quem não aceita que os americanos monopolizem o gentílico que pode ser
de qualquer um dos 42 países do continente. Para que se referir a um
haitiano como haitiano ou a um canadense como canadense se todos são
americanos? A solução proposta pela universidade é chamar os americanos
de “cidadãos dos Estados Unidos”. Assim, ninguém abaixo do Rio Grande
ficará melindrado ou se sentirá diminuído.
Imigrante
deve virar “pessoa que imigrou”. Chamar de trabalho escravo a
exploração imposta até os dias de hoje a quem é obrigado a trabalhar sem
receber salário e em condições precárias e sob ameaça virou sacrilégio.
Chamar a escravidão moderna de escravidão está proibido. O “correto” é
usar “práticas injustas de trabalho” ou “trabalho mal pago”. Escravidão
só está permitida daqui para frente quando se referir aos trabalhos
forçados impostos aos negros no passado.
Sob
o mesmo argumento, o termo mestre está no bico do corvo. Durante a
escravidão nos Estados Unidos, os senhores de escravos eram chamados de
“mestres” pelos seus escravos. O mesmo vale para dominar. Quem disser
que domina um assunto, está remetendo ao tempo em que homens brancos
exploravam negros. Sobrou até para os webmasters, que são os
desenvolvedores e administradores de páginas na internet. A expressão
politicamente correta para a profissão seria “proprietário do produto
web”. Vale muito a pena visitar o projeto de novilíngua para ver quão
caricato e extenso é o plano de redesenhar o modo de pensar pelo que se
pode ou não dizer.
Os
esforços para criar termos inclusivos – originalmente para renomear
deficiências físicas, posteriormente aquelas “derivadas do racismo
estrutural” e mais recente o léxico relacionado à multiplicidade de
identidade sexuais – criou expressões que vão além do ridículo. Chamar
mulheres biológicas como “pessoas que menstruam” ou “pessoas com útero” é
uma dessas insanidades. Não faz sentido algum deixar de chamar mulher
de mulher porque alguém que não nasceu mulher passa a se sentir mulher,
mas, por não ser exatamente uma mulher, não se sente incluído e
reivindica o direito de abolir o termo mulher. Confuso, não é mesmo?
A
lista de Stanford é um guia, não uma obrigação. Dizem seus autores. Mas
a prática ensina que não é bem assim. Recentemente, vimos jornalistas
puxar a orelha de colegas ao vivo, por uso de palavras banidas. Nas
redes sociais, a patrulha é constante. A obrigatoriedade vem por meio de
um “consenso” artificial, montado por uma minoria organizada que se
apodera da realidade (ou narrativa, se preferir) e dá as cartas sobre a
maioria desorganizada.
Ações
como a de Stanford parecem resultado de ativismo e da tibieza de quem
sabe muito o que cada palavra quer dizer, mas estremece – ou porque se
convenceu da culpa perene por um passado que não é de nossa
responsabilidade, ou porque é estúpido – diante da gritaria e
manipulação de grupos de interesse.
Tudo seria menos grave se fosse apenas isso.
A
deturpação do passado. A reescrita da história. O ranger de dentes do
ativismo identitário. São sintomas de algo mais devastador.
As
democracias estão se convencendo de que são ruins. Frente a isso, há
uma normalização de autocracias que se apresentam como modelo ou
alternativa. Países que atingiram níveis de desenvolvimento invejáveis
gastam tempo, dinheiro e estabilidade defendendo bandeiras que não
servem para manutenção de seu padrão de vida, sistema de governo e
equilíbrio social.
A
Casa Branca mandou suas embaixadas hastearem a bandeira da ONG Black
Lives Matter nas suas embaixadas ao redor do mundo, enquanto seus
adversários na América Latina, por exemplo, jogam e se aproveitam de
valores caros para a maioria da população. Apenas para citar o exemplo
russo. No Brasil, a propaganda do Kremlin avançou fácil entre petistas e
bolsonaristas por saber explorar elementos em comum: a cultura.
Muito
do caos é criado para isso. Desviar a atenção, drenar a energia e
permitir o avanço de pautas e estratégias que não seguiriam em frente
sem a confusão. Um dos princípios da guerra diz: “Vence aquele que
conseguir fazer o Inimigo concentrar todo o seu esforço no ponto
errado”.
Feliz Natal.
Dec
25
Segurança pública: da direita para a esquerda.
Os
primeiros passos do governo Lula sinalizam que ideologia e conveniência
política falarão mais alto que a competência para resolver a
criminalidade no país. Artigo de José Vicente da Silva Filho para a
revista Crusoé:
Pouca gente sabe mas, ao passar a faixa presidencial a Lula, em 2003, Fernando Henrique Cardoso disse ao seu substituto: “Eu consegui acabar com a inflação e deixo para você cuidar da violência no país“. Essa história me foi contada pelo próprio FHC, em um evento na Universidade Harvard.
Tardiamente, no ano 2000, FHC tinha formulado e iniciado a implantação do Plano Nacional da Segurança Pública, um conjunto de boas ideias que foi descontinuado em 2003.
Pouca gente sabe mas, ao passar a faixa presidencial a Lula, em 2003, Fernando Henrique Cardoso disse ao seu substituto: “Eu consegui acabar com a inflação e deixo para você cuidar da violência no país“. Essa história me foi contada pelo próprio FHC, em um evento na Universidade Harvard.
Tardiamente, no ano 2000, FHC tinha formulado e iniciado a implantação do Plano Nacional da Segurança Pública, um conjunto de boas ideias que foi descontinuado em 2003.
Dec
25
Guerra na Ucrânia: tudo aponta para a insurgência da juventude russa.
Todos os
seus cenários apontam num único sentido: a insurgência de uma parte
decidida da população russa, em especial a massa de jovens chamados para
a frente militar com as previsíveis consequências. Manuel Villaverde
Cabral para o Observador:
A ida de Zelensky aos Estados Unidos para se encontrar com o presidente Biden, os governantes e os eleitos norte-americanos ao cabo de dez meses de combate ininterrupto confirma que se trata de uma terceira guerra mundial.
A ida de Zelensky aos Estados Unidos para se encontrar com o presidente Biden, os governantes e os eleitos norte-americanos ao cabo de dez meses de combate ininterrupto confirma que se trata de uma terceira guerra mundial.
Dec
25
Como um pequeno manual politicamente correto favorece o autoritarismo
Os
esforços para criar termos inclusivos – originalmente para renomear
deficiências físicas, posteriormente aquelas “derivadas do racismo
estrutural” e mais recentemente o léxico relacionado à multiplicidade de
identidade sexuais – criou expressões que vão além do ridículo.
Leonardo Coutinho para a Gazeta do Povo:
A Universidade de Stanford, na Califórnia, é uma das melhores universidades do planeta.
A Universidade de Stanford, na Califórnia, é uma das melhores universidades do planeta.
Dec
25
À imagem e semelhança do PT
Lula e o
PT não aprenderam nada. Não almejam um novo governo politicamente
aberto e plural. Querem tudo para si, descumprindo sua promessa e
ignorando as necessidades do País.
Dec
24
LEIA CARECAS
Da minha
parte gostaria de recomendar só livros escritos por carecas. Se todos
podem ser narcisistas, por que os carecas não podem? Já mandei até fazer
uma camiseta com as palavras LEIA CARECAS.
Dec
24
Os experimentos soviéticos com a história
O relato
promovido pelo Kremlin reproduz lugares comuns da política histórica
soviética dos anos vinte e trinta, substituindo conceitos e eliminando
certos acontecimentos. A tentativa soviética de mudar a história
fracassou no longo prazo. Oxana Klymenco para Letras Libres:
Después de ocupar Crimea y el Donbás en 2014, Rusia puso inmediatamente en marcha una gran campaña para falsificar la historia de Ucrania.
Después de ocupar Crimea y el Donbás en 2014, Rusia puso inmediatamente en marcha una gran campaña para falsificar la historia de Ucrania.
Dec
24
De Dickens a Gogol – o Natal nos livros
Com os
vitorianos e, acima de tudo e de todos, com Charles Dickens, o
imaginário do Natal cristão ganhou uma dimensão social, caseira,
próxima, de consciencialização e redenção pessoal. Jaime Nogueira Pinto
para o Observador:
Terá sido em Greccio, na província de Rieti, no Lácio, na véspera de Natal de 1223, que S. Francisco inventou o primeiro presépio. Era um auto natalício, representando o primeiro dos Natais, com toda a criação a louvar o Criador feito homem, o Deus Menino na manjedoura.
Terá sido em Greccio, na província de Rieti, no Lácio, na véspera de Natal de 1223, que S. Francisco inventou o primeiro presépio. Era um auto natalício, representando o primeiro dos Natais, com toda a criação a louvar o Criador feito homem, o Deus Menino na manjedoura.
Dec
23
Natal em Belém (Lisboa)
Apesar
dos inúmeros antecedentes, não esperava isto: uma das maiores
demonstrações de desprezo de um chefe de Estado pelos cidadãos a que
formalmente preside. Via Observador, a crônica de Alberto Gonçalves:
O verdadeiro Natal é em Belém. Foi também o primeiro, dado que ocorreu na quarta-feira. E o mais bonito, porque não sei de coisa tão comovente quanto um governo de criaturas mal ajambradas e risonhas que vai ao palácio presidencial saudar o prof. Marcelo e, de seguida, ouvi-lo.
O verdadeiro Natal é em Belém. Foi também o primeiro, dado que ocorreu na quarta-feira. E o mais bonito, porque não sei de coisa tão comovente quanto um governo de criaturas mal ajambradas e risonhas que vai ao palácio presidencial saudar o prof. Marcelo e, de seguida, ouvi-lo.
Dec
23
Em busca do sonho brasileiro
No fim,
toda essa patacoada sobre o “sonho americano” me fez pensar em qual
seria a personificação do sonho brasileiro: ganhar na Mega da Virada,
passar em concurso público, herdar uma fortuna, talvez ir além das
quartas de final em uma Copa. A crônica semanal de Ruy Goiaba para a
Crusoé:
Vocês já conhecem a história de George Santos? Brasileiro nos EUA, filho de imigrantes, 34 anos, ele se elegeu para a Câmara dos Representantes (deputados) americana agora em novembro, nas mid-term elections.
Vocês já conhecem a história de George Santos? Brasileiro nos EUA, filho de imigrantes, 34 anos, ele se elegeu para a Câmara dos Representantes (deputados) americana agora em novembro, nas mid-term elections.
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