BLOG ORLANDO TAMBOSI
Lula e o PT não aprenderam nada. Não almejam um novo governo politicamente aberto e plural. Querem tudo para si, descumprindo sua promessa e ignorando as necessidades do País. Editorial do Estadão:
Depois
de uma campanha eleitoral defendendo a necessidade de um governo
formado por uma frente ampla e depois de um discurso da vitória no
segundo turno afirmando que “esta não é uma vitória minha nem do PT”, é
absolutamente decepcionante para o País verificar a composição dos
Ministérios que vai sendo delineada pelo presidente eleito Luiz Inácio
Lula da Silva. Todos os postos decisivos estão a cargo do PT ou de gente
que, por mais que esteja circunstancialmente em outra legenda, sempre
teve e continua tendo a mesma visão do PT. Desenha-se, portanto, um
governo radicalmente petista, justamente o contrário daquilo que foi
repetidas vezes prometido.
A
rigor, ninguém pode dizer que está surpreso com tal situação. O passado
petista nunca possibilitou qualquer esperança de um governo do PT
politicamente aberto e plural. Ao longo da história da legenda,
observa-se uma firme constante: sempre consideraram que eles, apenas
eles, têm as soluções para o País. Todo o restante do mundo político
estaria equivocado. Não teria nada a acrescentar na discussão e no
desenho das políticas públicas.
Daí
se entende que a brutal e irracional oposição do PT ao governo de
Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, não foi mera tática
circunstancial. A legenda nunca foi capaz de enxergar nada de bom além
de suas linhas. A partir daí entende-se também, por exemplo, o esquema
do mensalão. Para o PT, os outros partidos, desprovidos de ideias e
propostas, seriam apenas peças de manobra disponíveis para compra. E
sendo apenas as suas “soluções” boas para o País, os petistas ainda
consideram que esse sistema criminoso e antidemocrático de compra de
apoio político estaria plenamente justificado.
Não
há, portanto, nenhuma novidade na composição que vai se delineando para
o terceiro governo de Lula. É o PT sendo o PT. De toda forma, diante
das grandes necessidades do País neste momento, não deixa de ser
frustrante – reiteradamente frustrante – constatar que Lula e seu
partido não entenderam nada, não aprenderam nada, não mudaram nada.
Nessa
composição ministerial dominada pelo PT, há um fato especialmente
preocupante. Não é que Lula esteja “apenas” descumprindo a sua principal
promessa de campanha, o que, por si só, é grave. No regime democrático,
o eleitor merece mais respeito. A monocromia político-ideológica dos
Ministérios expressa uma profunda incompreensão do atual País a ser
governado e dos desafios que terá pela frente.
Formar
um governo de frente ampla não é uma concessão política que Lula
deveria fazer em razão das circunstâncias excepcionais da campanha
eleitoral. Não é uma ação voltada para o passado. Uma real e efetiva
frente ampla é requisito para que o novo governo possa ser minimamente
bem-sucedido em suas duas tarefas fundamentais e complementares:
promover desenvolvimento social e econômico e promover a pacificação
nacional. Insistir no lulopetismo implantado entre 2003 e 2016 é
fornecer todas as condições para a reprodução e o fortalecimento do
bolsonarismo.
O
reconhecimento da necessidade de uma frente ampla não significa tirar
ou reduzir o poder de o presidente eleito formar seu governo tal como
ele entende que deve ser formado. Nas urnas, o eleitor conferiu-lhe essa
atribuição. Goste-se ou não, a partir de 1.º de janeiro de 2023 o
presidente da República será Luiz Inácio Lula da Silva. E, respeitando
os limites e requisitos legais, ele tem direito a indicar quem ele
quiser. O ponto é outro. Seja quem for, um presidente da República não
tem direito de ignorar as necessidades nacionais, de desconhecer a
complexidade social, política e econômica do país, de achar que seu
partido se basta. Numa palavra, um chefe de Estado e de governo não pode
se dar ao luxo de ser irresponsável. O poder não é arbítrio. Foi
exatamente isso o que fez Jair Bolsonaro – e que tantos males causou ao
País.
O
grande apelo do eleitor nas eleições de 2022 foi a defesa da
democracia. Não cabe defraudá-lo. Democracia exige participação, o que
inclui uma tarefa inédita para o PT: ceder poder.
Postado há 1 hour ago por Orlando Tambosi
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