BLOG ORLANDO TAMBOSI
por Leonardo Vieceli | Folhapress
O torcedor brasileiro terá de driblar os preços mais altos se
quiser reunir os amigos para fazer churrasco em dias de jogos da seleção
na Copa do Qatar deste ano, que começará no dia 20 de novembro. Desde a
edição mais recente do torneio, em 2018, os valores da carne bovina
dispararam no país.
A pesquisa da cesta básica divulgada pelo Procon-SP, em convênio com o
Dieese, dá uma dimensão dos aumentos para o consumidor na capital
paulista.
Segundo o levantamento, o preço médio do quilo da carne bovina de
primeira era de R$ 22,63 em julho de 2018, quando ocorreu a final da
última Copa. Em igual mês de 2022, o valor praticamente dobrou,
calculado em R$ 43,89.
A alta no período chegou a 93,9% –ou R$ 21,26 a mais. Os cortes de
primeira pesquisados são coxão mole e patinho, conforme o Procon-SP.
A carne de segunda teve trajetória semelhante. No mesmo período, o
preço médio do quilo subiu de R$ 17,74 para R$ 34,70, uma alta de 95,6%
–ou R$ 16,96 a mais. Nesse caso, os cortes pesquisados são acém e
músculo.
De julho de 2018 a julho de 2022, a inflação oficial medida pelo IPCA
(Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou alta de 27,73%
na região metropolitana de São Paulo, conforme o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). O avanço no país foi de 27,11%
no mesmo período.
Economistas associam a disparada das carnes a uma combinação de
ingredientes como procura aquecida no mercado internacional, taxa de
câmbio mais alta e custos de produção elevados.
O consultor Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria
Safras & Mercado, lembra que o apetite da China por carnes
brasileiras teve salto ainda antes da pandemia, devido ao surto da peste
suína africana, que afetou a produção de proteína animal no país
asiático.
As vendas seguiram aquecidas durante a crise da Covid-19, e o dólar
acima de R$ 5 também estimulou os embarques. O resultado foi uma oferta
menor direcionada para o mercado interno, o que pressionou os preços,
segundo o economista.
"O consumidor ficou saturado com os aumentos. Até por isso os preços
da carne pararam de escalar nos últimos meses", diz Iglesias.
O economista Matheus Peçanha, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas), também cita a demanda externa e o
câmbio como fatores que explicam as altas.
Custos maiores para alimentação do gado provocaram pressão adicional
sobre as carnes, de acordo com ele. Peçanha destaca a subida de grãos
durante a pandemia e os efeitos adversos do clima, que prejudicou
pastagens no país.
"Em um período de quatro anos, há o efeito inercial da inflação. E,
de 2020 para cá, tivemos um processo inflacionário forte dos alimentos,
das carnes especificamente. Isso veio por conta de questões internas,
como os problemas climáticos, e também por fatores externos e câmbio",
diz Peçanha.
Os dados da cesta básica divulgada pelo Procon-SP mostram que a carestia não se resumiu à carne bovina desde a Copa de 2018.
O quilo da linguiça fresca em São Paulo, por exemplo, subiu de R$
12,54 em julho daquele ano para R$ 21,30 em igual mês de 2022. A alta
foi de 69,9%.
No mesmo período, o preço médio do quilo do frango resfriado inteiro mais do que dobrou, de R$ 5,76 para R$ 11,86.
Possíveis acompanhamentos para o churrasco em dias de jogos também
ficaram mais caros. O pacote de cinco quilos de arroz avançou 62,1%, de
R$ 12,10 para R$ 19,62. O quilo do pão francês subiu 41,2%, de R$ 11,28
para R$ 15,93.
A farinha de mandioca, por sua vez, aumentou 32%, de R$ 4,35 para R$
5,74. O quilo da batata –usada na salada ou maionese de batatas,
dependendo do nome adotado em cada região– teve alta de 121,4% (de R$
2,57 para R$ 5,69).
Em julho de 2018, a cesta básica divulgada pelo Procon-SP custava R$
695,93. Trata-se de um valor médio de 39 produtos, incluindo alimentos e
itens de limpeza e higiene pessoal. Em julho de 2022, a cesta foi
calculada em R$ 1.266,92. Ou seja, a alta foi de 82% no período.
DICA É PESQUISAR
A Copa deste ano será realizada em um período atípico, de novembro a
dezembro. Até lá, a perspectiva é de melhores condições de pastagens e
trégua em insumos como o óleo diesel, diz Peçanha, do FGV Ibre. Isso,
segundo ele, pode gerar alívio para os preços das carnes.
Por outro lado, lembra o economista, incertezas do período eleitoral
costumam impactar a taxa de câmbio no país, o que traz risco de novas
pressões sobre os produtos.
"É preciso pesquisar bastante. Há, por exemplo, dias com promoções de
carne nos supermercados. Outra opção é buscar descontos no atacado",
diz.
Iglesias, da Safras & Mercado, considera que os preços da carne
podem ter novos reajustes no segundo semestre em caso de uma demanda
mais aquecida com o Auxílio Brasil. A ampliação do benefício foi
anunciada pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.
Carne bovina e leite são os principais produtos que o público do
programa deixou de comprar e pretende voltar a consumir a partir do
aumento dos repasses para R$ 600, indicou pesquisa recente da Asserj
(Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro).
"Redes varejistas costumam fazer promoções em determinados meses ou
semanas. A recomendação é ficar atento a isso, pode ter oportunidades.
Comprar agora para consumir depois, fazer estoque, isso é complicado",
afirma Iglesias.
Como mostrou reportagem da Folha em julho, além das carnes, as
bebidas também ficaram mais caras em 2022. Após o fim da Copa de 2018
até junho deste ano, a cerveja para consumo em casa avançou 17,37% no
país, de acordo com dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo) levantados pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA
Consultores. Refrigerante ou água mineral (23%) e suco de frutas
(17,38%) tampouco escaparam da pressão sobre os preços no Brasil.
COMÉRCIO JÁ SE VESTE DE VERDE E AMARELO PARA A COPA
Os impactos econômicos da Copa do Mundo costumam ir além dos
supermercados, atingindo outros setores do varejo. Lojas da rua 25 de
Março, tradicional ponto do comércio popular de São Paulo, já iniciaram
as vendas de roupas, acessórios e outros produtos com as cores da
seleção.
"É um mercado que começa a aquecer agora", diz o empresário Pierre
Sfeir, 65, que atua na região. O lojista aposta na venda de itens como
bandeiras, bonés, buzinas e itens de decoração.
Parte dos insumos subiu quase 50% desde a Copa de 2018, calcula o
empresário. Com a pressão dos custos, os repasses para os preços finais
são inevitáveis, mas em uma proporção menor, diz. É a estratégia para
tentar recompor margens sem perder vendas.
"Subiu muito o preço dos tecidos e plásticos. O dólar também impactou os produtos que são importados."
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