O agravamento dos protestos raciais está montado com tiroteios entre os
que querem fazer quebra-quebra e “voluntários” na defesa de lojas. Vilma Gryzinski:
Estava faltando munição em algumas lojas de armas dos Estados Unidos e tinha fila para fuzis semi-automáticos.
Isso dá uma ideia da procura, que disparou no começo da pandemia e
emendou com os protestos violentos promovidos pelo Black Lives Matter,
com os antifas como linha auxiliar.
A liberalidade no uso e porte de armas apareceu dos dois lados: entre
manifestantes – um fenômeno que só poderia acontecer nos Estados Unidos
– e entre voluntários que se oferecem para proteger comerciantes sob
risco de saques e incêndios.
Foi fazendo a vigilância num posto de gasolina em Kenosha, o novo
foco dos protestos, que um jovem de apenas 17 anos, Kyle Rittenhouse,
armado com uma AR15, acabou cometendo o erro de ficar isolado entre um
grupo de manifestantes.
Caiu no chão, foi atacado pelo grupo e atirou. Matou dois e feriu um.
Depois se levantou – obviamente já sem ninguém por perto – e caminhou
de braços erguidos em direção dos carros de polícia que chegavam. Foi preso e indiciado.
Como menor, Kyle Rittenhouse não tinha permissão para andar armado.
Também não poderia, legalmente, atravessar armado a fronteira entre seu
estado, Illinois, e Kenosha, a cidade de Wisconsin onde no passado
funcionou a American Motors.
Durante o dia, ele aderiu a um grupo que lavava as pichações de
protesto numa escola. Demonstrava comportamento “errático”, mas está
sendo saudado como herói nos comentários dos sites de direita.
“Um exemplo para homens adultos que ficam em casa reclamando e não
fazem nada enquanto a ralé marxista toma as cidades”, dizia um. Outros
são mais explícitos ainda e as palavras “guerra civil” aparecem a todo
momento.
Como os Estados Unidos têm a característica única da proteção
constitucional à posse de armas, confrontos a bala entre civis são uma
hipótese bem concreta.
Na atual onda, já apareceram armas pesadas entre manifestantes e até
confrontos em que donos de veículos presos nas marchas reagem à altura.
Em 2016, ainda no governo Obama, Micah Johnson, veterano da guerra no
Afeganistão, matou cinco policiais e feriu sete em Dallas. Era adepto
dos Novos Panteras Negras, que defende violência contra brancos em
geral.
Os protestos em Kanesha explodiram depois que Jacob Blake, procurado
por agressão sexual e invasão de propriedade, levou sete tiros nas
costas de um dos quatro policiais que tentavam detê-lo.
Blake tinha uma faca no chão do carro, do lado do banco do motorista,
e um histórico de resistência à polícia. A frase “Larga a faca” foi
repetida várias vezes.
Incrivelmente, ele sobreviveu aos sete tiros, embora possa ficar paralítico.
A mãe dele, Julia Jackson fez apelos veementes para que o caso de seu
filho não seja usado como pretexto para violência, disse que estava
rezando por todos, inclusive os policiais, e pediu desculpas a Donald
Trump por não ter atendido um telefonema dele.
Palavras tão humanas e sensatas tiveram, como sempre, efeito zero.
Protestos com quebra-quebra, saques e incêndios, exatamente iguais
aos que acontecem no país desde a morte de George Floyd, transformaram a
tranquila Kanesha no caos cada vez mais radicalizado que acontece nas
cidades americanas onde os protestos se perpetuam.
Muitos manifestantes chegam de outros locais para participar – e
também os voluntários para proteger comerciantes, geralmente homens
jovens que parecem ter sido militares e ter controle de sua própria
atuação, sem muito risco de que cometam erros como os de Kyle
Rittenhouse.
Mas para perder o controle, claro, basta uma escalada de insultos ou
ataques físicos. Num dos protestos mais recentes uma manifestante
aparece gritando “Morte à América”. Depois, é queimada uma bandeira
americana.
Ironicamente, Kanesha está parecendo o Irã.
E nada de bom sairá disso se a violência nas ruas continuar, o que é
praticamente garantido que aconteça até a eleição presidencial de
novembro.
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