Dartagnan da Silva Zanela
Se há uma palavra que é vilipendiada é esta: amor. É um Deus que nos acuda. Todos usam-na para dizer o que bem entendem, ao mesmo tempo em que negam aquilo que o amor de fato é. Muitas outras palavras também são avacalhadas, mas essa, como bem nos ensina o sociólogo Pitirim Sorokin, ocupa o cerne da vida em sociedade e, sua mutilação, tem severas consequências no tecido social.
Mas, afinal, o que é esse tal de amor? Pra começo de conversa, não é só uma palavra, nem um sentimento que faz o coração bater mais forte. Como nos ensina L. Lavelle, o amor é um estado do ser. O amor é aquilo que mais profundamente somos e, por isso, devemos, com humildade, cultivá-lo em nosso modo de ser, como nos lembra Gabriel Marcel.
Logo, podemos dizer que, quando um grupo de pessoas sai dizendo que é "a turma do amor" e que, aqueles que se opuserem a "sua turma", seriam os "comensais do ódio", é sinal de que estamos diante de uma arapuca mal armada para capturar figuras desavisadas.
Lembremos: o amor não se faz presente por meio de palavras falaciosas, nem através de gestos histriônicos com maquiagem publicitária. Todo aquele que leu com atenção o elogio ao amor (I Coríntios XIII), sabe que esse tipo de astúcia cínica está a léguas de distância da sua realidade.
Mas, como somos distraídos pra caramba, é bem possível que já tenhamos, em algum momento, caído nesse ardil.
É importante não esquecermos que o amor vive de mãos dadas com a verdade. Ele apenas germina onde ela é recebida de braços abertos para, com ele, coabitar.
Onde não existe amor à verdade, não há amor de verdade.
Não é à toa que Bento XVI dedicou sua primeira encíclica, DEUS CARITAS EST, para refletir sobre esse tema porque, no fundo, não sabemos amar de verdade e na verdade.
O amor é um estado do ser, não um modo de se aparecer. E isso vale para todos nós, para aqueles que dizem ser "pessoas do bem", como para aqueles que se consideram "pessoas de bem".
Se não somos capazes de refletir sobre a nossa capacidade de negar facilmente o bem, a verdade e a justiça, se nos julgamos incapazes de fazer o mal, é sinal de que o nosso discernimento já foi para o beleléu, logo, não é à toa, nem por acaso, que o Brasil está desse jeito: sem eira, nem beira.
Infelizmente, ao que tudo indica, não teria como estar de outro jeito.
* O autor é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.
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