DANIELA TAFNER
Doutora
em Enfermagem, especialista em direitos humanos e professora convidada
no Instituto de Pesquisa Afro-Latino-Americana (Alari) da Universidade
de Harvard
Neste Outubro Rosa, falar sobre o câncer de mama é um chamado necessário à prevenção e ao autocuidado.
Só
neste ano, mais de 70 mil mulheres no Brasil serão diagnosticadas com
este que é o tumor mais comum na população feminina. Cerca de 20 mil
brasileiras morrem todo ano em decorrência da doença, aponta o
Ministério da Saúde.
Porém, há uma fatia da
população feminina mais exposta e vulnerável ao câncer de mama: as
mulheres negras. As causas são as desigualdades raciais e sociais que,
mais de um século após o fim da escravidão, persistem no país.
Estatísticas
mostram que as mulheres negras têm menos oportunidades de tratar o
câncer de mama do que as brancas no país. Das mulheres que realizam
mamografia – o exame que avalia o tecido mamário e identifica
alterações, como os nódulos –, apenas 24% são negras. Para ter ideia da
desproporção, vale lembrar que estamos falando da maior fatia da
população feminina. O Censo 2022 mostra que quase 60% dos brasileiros
são pretos ou pardos.
Um
estudo da Unicamp revela que a chance de uma mulher negra estar viva
cinco anos após o diagnóstico de câncer de mama é de 72%, enquanto para
mulheres brancas sobe para 80%. O dado evidencia a disparidade
significativa na sobrevida entre mulheres negras e brancas, refletindo
as desigualdades no acesso a cuidados de saúde de qualidade.
Um
levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia indica que duas em
cada 10 mulheres pretas e pardas em tratamento de câncer de mama se
sentem discriminadas por sua raça ou etnia. Mais de 40% das mulheres
negras relatam ter sofrido racismo durante o tratamento de câncer de
mama, o que contribui para tratamentos inadequados, agravando ainda mais
o quadro.
Investir na redução da desigualdade
racial no Brasil é também questão de saúde pública. É preciso garantir
acesso igualitário a diagnósticos precoces e tratamentos de qualidade,
além de campanhas de conscientização que combatam o racismo no sistema
de saúde. Só assim será possível melhorar a sobrevida e a qualidade de
vida das mulheres negras que enfrentam o câncer de mama.
Mais
do que desigualdade, o que define a questão racial no Brasil é a
iniquidade: um modelo injusto que se perpetua porque está profundamente
arraigado na nossa sociedade e cultura. É o oposto de equidade.
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