Pedro do Coutto
Uma pesquisa realizada pela PUC do Rio Grande do Sul em parceria com o Laboratório da Dívida Social, com base em dados do PNAD do IBGE, revela que a renda do trabalho média dos brasileiros e brasileiras caiu em julho para R$ 1326, sendo que entre os 40% mais pobres encontra-se estacionada somente em R$ 177 por mês. A reportagem é de Leonardo Viceli, Folha de S. Paulo desta sexta-feira.
Como se constata a renda média de R$ 177 por mês vai se refletir na fome porque tal valor não é suficiente para que o grupo social possa adquirir os alimentos de que necessita. Os dados focalizados referem-se ao mês de julho e assinalam um recuo de cerca de 10% em relação à média dos três meses anteriores. A pesquisa, na minha opinião, assinala a dimensão da crise social que está se agravando no governo Jair Bolsonaro.
RETRAÇÃO – Os preços estão subindo, o IBGE aponta uma inflação de 10% para o período de setembro de 2020 a setembro de 2021 e os salários estão sendo reduzidos pois sequer conseguem acompanhar o índice inflacionário oficial. As consequências do consumo de tal política são inevitáveis. A retração atingiu já o comércio de varejo cujo acesso não inclui obviamente as famílias cuja renda média é de R$ 177.
O levantamento se fixou nas vinte maiores metrópoles brasileiras. E, se nas metrópoles os índices são esses, imaginem como serão os que se referem às áreas rurais onde ainda existe uma escravidao pouco disfarçada, como Antonio Houaiss e eu acentuamos em “Brasil – O fracasso do conservadorismo”, livro de trinta anos atrás.
DIREITOS SOCIAIS – Um aspecto que influi e contribui para iludir o quadro de desemprego que se eleva a mais de 14 milhões de pessoas é o emprego informal que em alguns momentos apresenta crescimento, como é o caso dos meses finais do ano em função das vendas de Natal. Mas o emprego informal, como acentua Fernando Canzian, Folha de S. Paulo, termina prejudicando a obtenção de direitos sociais, como é o caso da aposentadoria pelo INSS e do acesso ao FGTS.
A situação, em síntese, ressalta que o recuo da renda média deixa claro que não está ocorrendo a reativação da economia como costuma dizer o ministro Paulo Guedes. Falta perspectiva e um novo horizonte aos que vivem de salários. São esses, no fundo, os que sustentam o consumo, não só no Brasil, mas no mundo todo. Infelizmente, pagam a conta de fracassos como os que dominam o atual governo brasileiro.
PATRIMÔNIO ECOLÓGICO – Nicola Pamplona, na Folha de S. Paulo, Glauce Cavalcanti e Stephanie Tondo, em O Globo, e Fernanda Nunes, no Estado de S. Paulo, edições de ontem, focalizam com grande destaque o leilão para explorar áreas de reservas de petróleo, incluindo de forma surpreendente o Arquipélago de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas, ambos no Rio Grande do Norte. A perfuração de poços marítimos nas águas de Fernando de Noronha configurariam um absurdo, um atentado à ecologia e um desastre em matéria de proteção ao meio ambiente. Nenhuma empresa se habilitou, nem a Petrobras.
Nos leilões de quinta-feira só foram negociados cinco lotes, todos da Bacia de Santos. Quatro em investimento único da Shell e um quinto da Shell também, mas em parceria com a empresa colombiana Ecopetrol. Portanto, ficou preservado o santuário ecológico de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas.
SANTUÁRIO DE PAMPULHA – No início desta semana, o Vaticano concedeu à Igreja da Pampulha erguida quando Juscelino Kubitschek foi prefeito de Belo Horizonte, com base num projeto de Oscar Niemeyer com um painel de Cândido Portinari, o título de santuário. Por uma coincidência do destino, o prédio da ONU apresenta também em seu salão principal um painel “Guerra e Paz” de Portinari.
A Igreja da Pampulha esteve interditada durante 15 anos, de 1943 a 1958, quando o Papa era Eugênio Pacelli, ultraconservador, personagem central de “O Papa de Hitler”, de John Cornwell. Em 1958 Pio XII faleceu e foi sucedido por João XXIII. Hoje, a bela e pequena capela da Pampulha faz parte do patrimônio mundial e cultural do Vaticano.
Nada como o tempo para estabelecer os avanços entre os quais os da cultura universal. Basta dizer, acrescento, que até hoje nenhuma obra de arte que tenha sofrido interdição ou restrição, com o passar do tempo, não tenha sido liberada integralmente. Os exemplos são muitos e os fatos revelam que nas tragédias, os fatos da vida real superam o que se denomina de ficção.
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