Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 03 de outubro:
O
problema do eleitor brasileiro é que se divide entre cobrar os
excessivos gastos do Congresso, ou do Supremo, ou do Executivo. De vez
em quando aparece alguma conta exagerada demais: as picanhas de R$
1.700,00 o quilo, do presidente da República, a multiplicação por três
dos gastos eleitorais do Senado e da Câmara, a concorrência do STF para
banquetes com camarões, lagostas e vinhos com pelo menos quatro prêmios
internacionais. O fato é que normalmente Suas Excelências gastam demais o
nosso dinheiro. Não é só a picanha de alto luxo: é espantosa a
tranquilidade com que o Executivo paga aos fardados quantias superiores
ao teto constitucional, o Supremo admite funcionários encarregados de
vestir a toga nos ministros e puxar-lhes a cadeira, os parlamentares se
entopem de assessores bem pagos – muitos dos quais têm como maior mérito
dividir o salário em rachadinhas com os parlamentares que os contratam.
É
uma festa com dinheiro público. E ninguém entende por que é preciso
limitar a Bolsa Família – não sem antes gastar um dinheirão para trocar o
nome do programa assistencialista. Afinal, a propaganda é a alma do
negócio. E a população mais pobre que se vire: pé de frango vira sua
grande fonte de proteína animal.
O
curioso é que o Imposto Ipiranga, Paulo Guedes, foi aluno de Milton
Friedman, economista liberal que criou o Imposto de Renda Negativo.
Guedes, se quiser, faz. Estudou bem o tema. Mas prefere louvar
Bolsonaro.
Sentando em cima
O
presidente da Câmara, Arthur Lira, tem 120 pedidos de impeachment de
Bolsonaro para avaliar. No Senado, o presidente Rodrigo Pacheco deixou
por dois meses de avaliar os pedidos para instaurar uma CPI da Covid, na
qual os senadores estudariam eventuais falhas cometidas pelo Governo.
Só agiu por ordem do Supremo.
Mas
multiplicar por três as verbas destinadas à campanha eleitoral foi uma
medida que saiu rapidamente. Campanha boa é aquela em que verbas
abundam.
Todos ganham, todos ficam felizes, menos os eleitores e o Tesouro.
Lembrai-vos de Sua Excelência
Ainda
se lembra do general Pazuello (“aqui um manda e outro obedece”), o que
confundiu o Amazonas com o Amapá? Isso: aquele que o presidente
Bolsonaro costuma chamar de “meu gordinho”. Pazuello acaba de ganhar
novo posto: deixou a Secretaria de Assuntos Estratégicos e foi nomeado
pelo ministro Ciro Nogueira para a Assessoria Especial da Secretaria
Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Especialíssimo, pois. Seu cargo anterior, secretário especial de
Assuntos Estratégicos, foi extinto.
Mas ele garantiu uma boa colocação. Quem tem padrinho não morre pagão.
Acomodando Bolsonaro
O
presidente Bolsonaro, hoje sem partido, está no momento escolhendo
entre duas opções, ambas do Centrão: o PP, do ministro Ciro Nogueira, e o
PTB de Valdemar Costa Neto. Não há ideologia nas escolhas: Bolsonaro
deve escolher o partido que lhe dê o controle da legenda. Desistiu do
PSL, pelo qual se elegeu e que transformou num grande partido, o segundo
do país, porque Luciano Bivar fez questão do controle da sigla –
incluídos os cofres.
Bivar
encaminha agora a fusão do PFL com o DEM, no qual não há lugar para
Bolsonaro & Filhos. A nova legenda pode até apoiar Bolsonaro, se lhe
for conveniente, mas não irá aceitá-lo no partido, nem lhe dará o
controle. PP e PTB são os favoritos para abrigar o presidente.
Acomodando Moro
O
ex-juiz Sergio Moro tem contrato até o fim do ano com uma empresa de
advocacia dos EUA, e tudo indica que voltará ao Brasil. Pode sair
candidato a presidente, ou ao Senado, sempre pelo Podemos, partido de
Álvaro Dias. Mas só sai para presidente se achar que tem chance entre
Lula e Bolsonaro. Não é o que as pesquisas apontam hoje. Mas há quem
acredite que Moro vai ressuscitar a Lava Jato. Não vai, mas esperança
sempre existe.
Moro
talvez prefira se instalar nos EUA e não se candidatar a nada. Pode
ser. Se for candidato, a tendência é que se transforme em alvo tanto de
Lula quanto de Bolsonaro – uma experiência desagradável.
Veja em livro
O
repórter Luís Nassif acaba de lançar um livro, O caso Veja, com o
objetivo de narrar a “ascensão e queda da imprensa brasileira”. Em sua
opinião, a desorganização da informação, promovida pelo partidarismo que
vê na imprensa, desestruturou todos os poderes. O livro de Nassif já
está à venda na Amazon.
A
seu ver, o bolsonarismo nasceu por volta de 2005, quando a imprensa
descobriu o que chama de jornalismo de esgoto. Liderada por Veja, a
imprensa resolveu seguir o exemplo de Rupert Murdoch e assumir o
protagonismo político e o discurso de ódio. Aí teria acabado a imprensa
como a conhecemos e vieram, em seu lugar, as fake news. Vale ler.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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