Dois jornalistas percorrem as ruas da capital da Argentina em busca da companhia perfeita. Augusto Nunes:
No
fim da tarde, os dois jornalistas gaúchos desembarcaram em Buenos Aires
com a imaginação bailando ao som de sensualíssimas letras de tango. Do
aeroporto foram para o hotel no centro da cidade. E subiram para o
apartamento prontos para a missão noturna definida já na decolagem no
Brasil.
— Hoje vamos procurar mulher — repetiu o repórter antes de desafivelar a mala.
— Vamos — endossou o fotógrafo antes de terminar a contagem dos cabides no guarda-roupa.
— Começamos pela Corrientes — alegrou-se o repórter.
— La calle que nunca duerme… — animou-se o fotógrafo.
Saíram
do hotel às 9 da noite. Nas cinco horas seguintes, com sucessivas
escalas em pizzarias, bares, churrascarias e cabarés, exercitaram as
pernas num buquê de ruas e avenidas do velho centro. Poucas esquinas
deixaram de ver passar a dupla, mas a noitada foi um fiasco: nenhum
deles conseguiu companhia feminina. Os dois estavam a 5 metros da
entrada do hotel quando o repórter resolveu que ainda não chegara a hora
da rendição.
—
Você faz de conta que está muito bravo, vai para o elevador sem
cumprimentar ninguém e deixa o resto comigo — disse ao fotógrafo.
Também
com cara amarrada, o pai da ideia rosnou um “buenas noches” ao cruzar a
portaria guardada por um homem de cabelos brancos, que pareceu
intrigado com as carrancas da dupla que, ao deixar o hotel horas antes,
exibia o sorriso do mais otimista amante latino. Os dois subiram pelo
elevador em silêncio e mudos entraram no apartamento. O repórter
sentou-se numa das camas de solteiro, empunhou o telefone, discou o
número da portaria e fez a encomenda:
— Yo quiero dos mujeres!
O homem da portaria não entendeu direito. E pediu-lhe que repetisse a solicitação.
— Dos mujeres! — subiu o tom o repórter. — Dos chicas! Dos muchachas!
E
então desabou a réplica tempestuosa. Aos berros, o porteiro quis saber
se aquele estrangeiro insolente por acaso achava que hotel era bordel,
perguntou se estavam confundindo a Argentina com um imenso viveiro de
messalinas e sugeriu que requisitasse mulheres aos familiares no Brasil,
intercalando cada frase com insultos e palavrões. Grogue com a bronca, o
repórter esperou que o temporal amainasse para murmurar o pedido
alternativo:
— Entonces, yo quiero dos jugos de naranja.
Pôs
o telefone no gancho, disse ao fotógrafo que bebesse os dois sucos de
laranja e foi tentar dormir, sabendo que o sono não chegaria tão cedo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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