Lula, Kirchner, Evo - alguns nomes de beneficiados, segundo ex-diretor do serviço secreto, que forma dupla da delação com testa de ferro extraditado. Vilma Gryzinski:
Quando perdem o poder e caem nas malhas da justiça, ex-manda-chuvas continuam a ter uma única mercadoria valiosa: informação.
O que sabem e o que contam pode fazer a diferença entre sentenças duras e acordos mais amenos.
Dois
homens se encontram hoje nessa posição em relação às conhecidas – ou
nem tanto – operações de corrupção, tráfico de drogas e apoio monetário a
governantes amigos da Venezuela, desde a época de Hugo Chávez até os
dias mais recentes de seu sucessor, Nicolás Maduro.
Um
deles é Alex Saab, empresário colombiano que se tornou uma figura
importante nos subterrâneos do chavismo, e foi deportado de Cabo Verde
para os Estados Unidos no sábado passado.
Outro
é Hugo Carvajal, ex-chefe do serviço militar de inteligência, que caiu
numa armadilha feita por seus próprios colegas e teve que fugir da
Venezuela depois de declarar apoio ao oposicionista Juan Guaidó.
Carvajal
era o “espião dos espiões”, o homem encarregado por Chávez de ficar de
olho no seu entorno mais próximo, principalmente os líderes militares
que juravam lealdade e poderiam traí-lo.
É uma ironia que não tenha se dado conta da rede que se montou a seu redor e o levou à desgraça,
Quando
percebeu a encrenca, Carvajal conseguiu fugir do país e foi parar na
Espanha, mas passou para a clandestinidade diante do pedido de
extradição dos Estados Unidos. Dizem que tentou negociar um acordo de
imunidade com os americanos, sem sucesso. Acabou detido no começo de
setembro. Agora, está falando. Por enquanto, em linhas gerais.
O trecho mais significativo do documento que apresentou à justiça:
“Enquanto
fui diretor de Inteligência e Contrainteligência Militar da Venezuela,
recebi uma grande quantidade de informes assinalando que o financiamento
internacional estava ocorrendo”.
“Exemplos
concretos são: Néstor Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia,
Lula da Silva no Brasil, Fernando Lugo no Paraguai, Ollanta Humala no
Peru, Zelaya em Honduras, Gustavo Petro na Colômbia, Movimento Cinco
Estrelas na Itália e Podemos na Espanha. Todos estes foram registrados
como receptores de dinheiro enviado pelo governo venezuelano”.
O
dinheiro clandestino para o Podemos, que hoje participa da coalizão de
governo da Espanha, já era conhecido, mas Carvajal, conhecido pelo
apelido de El Pollo – o Frango -, deu detalhes:
“O
dinheiro era transportado pelo informante mais importante que tive
sobre estes casos. O informante recolhia o dinheiro na embaixada de Cuba
na Venezuela e o levava à Chancelaria da Venezuela, onde era recebido
por Williams Amaro”.
Amaro era o secretário de Maduro, então ministro das Relações Exteriores.
“Ele
o rotulava como mala diplomática e o dinheiro era enviado à embaixada
da Venezuela na Espanha. Na embaixada, era retirado por Ramón Gordils,
que logo fazia a entrega a Juan Carlos Monedero”.
As
malas de dinheiro venezuelano com destino aos cofres de Néstor Kirchner
também têm um histórico conhecido – um carregamento de 800 mil dólares
chegou a ser apreendido e liberado no infame voo das maletas, em 2007,
para a campanha de Cristina Kirchner.
Mais
recentes no quadro são as supostas contribuições ao Movimento Cinco
Estrelas, o estranho populismo de esquerda que também já integrou o
governo italiano.
Outro
nome relativamente novo no pedaço é o de Gustavo Petro, o candidato de
esquerda que é favorito para a eleição presidencial da Colômbia em maio
do ano que vem.
El
Pollo Carvajal sabe muito bem que a melhor forma de valorizar sua
mercadoria é falar das tramas internacionais de Hugo Chávez: nada
repercute tanto quanto a lista de companheiros beneficiados na época em
que a Venezuela tinha dinheiro para bancar a geopolítica bolivariana.
Para
a justiça americana, se eventualmente chegar a ela, interessa mais o
que sabe sobre os venezuelanos de alto coturno entranhados no
narcotráfico.
El
Pollo, segundo resumiu o Infobae, “conhece os segredos militares mais
escabrosos de cada um dos oficiais que cresceram com a revolução, assim
como as tarefas que cada um deles realizou de maneira ilícita, as
entranhas da relação com Cuba e até o armamento comprado da Rússia”.
Outro
informante vital é Alex Saab, o multimilionário que “se tornou o maior
operador de um executivo asfixiado pelas sanções internacionais”,
segundo definiu o El País.
“As
autoridades americanas suspeitam que ele tem a chave de onde Maduro e
seu entorno escondem sua fortuna”, disse o jornal espanhol.
Alguns destinos suspeitos: Chipre, China e Hong Kong.
Com
toda esta experiência, cometeu um erro de amador: procurou lavar via
Miami 156 milhões de dólares de contratos fictícios para a compra de
material de construção no Equador, falsamente destinados à construção de
casas populares.
Assim,
caiu na malha americana que agora conseguiu levá-lo ao lugar mais
temido por corruptos e traficantes de todo mundo: uma cela no sistema
prisional dos Estados Unidos.
Para
dar uma ideia do prestígio – e da preocupação – que ele evoca, durante
sua prisão em Cabo Verde, o regime venezuelano o qualificou de enviado
especial à Rússia e ao Irã, nomeando-o depois para um cargo diplomático,
na tentativa de evitar a extradição.
Alex Saab e Hugo Carvajal não são os únicos com motivos para dormir mal.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário