Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de quarta-feira, 20 de outubro:
Não
se impressione com o pedido de indiciamento de 71 pessoas pela CPI da
Covid, anunciado pelo relator, Renan Calheiros. Renan joga para a
plateia alagoana: seu domínio regional está sendo desafiado pelo
adversário Artur Lira. Abrir o relatório tem duplo objetivo: garantir a
posição de maior antibolsonarista de Alagoas e, com isso, reforçar seus
laços políticos com o ex-presidente Lula, de quem, a propósito, já foi
adversário e aliado.
Mas
a coisa é complicada: talvez os antibolsonaristas da CPI, mesmo não
concordando com tantos indiciamentos (que incluem até o senador Flávio
Bolsonaro, filho do presidente, o 01 entre os zeros à esquerda da
família de Sua Excelência), votem com o relator, para manter a unidade;
mas é possível que sigam o relatório paralelo do senador Alessandro
Vieira (Cidadania – SE), que propõe o indiciamento de Bolsonaro, três de
seus ministros (Braga Neto, Onyx Lorenzoni e Paulo Guedes), mais doze
pessoas.
Há
quem queira, ainda, propor emendas individuais. De qualquer forma, a
CPI terá alcançado bons resultados: comprovar o descuido com que o
Governo Federal encarou a pandemia e a dança em torno de enriquecimento
com a compra de vacinas. Isto é o que importa: a partir do relatório da
CPI, seja qual for o aprovado, a investigação que apure por que empresas
de tradição e bem conceituadas não obtinham resposta do Governo,
enquanto outras eram recebidas com carinho e tratadas como se tivessem
vacinas para vender – quando nada tinham.
Boas denúncias
Seja
qual for o relatório aprovado, não terá consequências judiciais antes
de passar pelos tribunais – o que é sempre demorado. Mas as
consequências políticas são imediatas: acusações bem feitas e bem
fundamentadas poderão minar a base eleitoral do presidente, apesar das
“narrativas” (sinônimo atual de histórias mal contadas) de que ele é um
exemplo internacional de gestor impecável da crise.
É
difícil, mesmo para os mais radicais defensores de Sua Excelência,
engolir a “narrativa” a respeito de empresas que não produziam vacinas e
eram representadas por pessoas estranhíssimas oferecendo aquilo que não
tinham para vender, e por preços mais altos que os das produtoras.
Más denúncias
O
que pode derrubar a força do relatório aprovado é a denúncia mal feita,
visivelmente elaborada apenas para atingir os adversários políticos. O
crime de genocídio é gravíssimo; se uma acusação de genocídio for
rejeitada, aqui ou no Tribunal Internacional de Haia, por falta de
consistência jurídica, isso enfraquecerá politicamente todas as demais
denúncias, por mais bem feitas que estejam.
Outro
fator que pode desviar as atenções dos fatos revelados pela CPI é uma
atitude descompensada de algum dos senadores da oposição a Bolsonaro. Há
quem tema, por exemplo, que Renan Calheiros, caso seja contrariado,
abandone a relatoria da CPI. Renan costuma ser frio em política, mas
como tem seus objetivos alagoanos pode sentir-se tentando a isso. No
caso, o noticiário sobre as revelações da CPI seria trocado pela
fofocalhada dos senadores, e todo o tempo e esforço de apuração estariam
perdidos.
Governo em guerra
A
reunião acabou na madrugada de ontem: Bolsonaro, com apoio de ministros
do Centrão (Ciro Nogueira, Flávia Arruda e João Roma) ordenou que o
ministro da Economia, Paulo Guedes, desencavasse recursos para um
auxílio mensal de R$ 400,00 a famílias carentes, mesmo que fosse
necessário furar o teto de gastos que a lei permite. Guedes resistiu,
mas estava sozinho, e enfraquecido pela revelação de que mantém empresas
em paraísos fiscais. Acabou cedendo, e o anúncio foi marcado para as
cinco da tarde de ontem.
Mas
não aconteceu nada: pelo menos dois dos auxiliares mais importantes de
Guedes se recusaram a assinar algo que furasse o teto. A assinatura de
ambos, Bruno Funchal (secretário especial da Fazenda) e Jeferson
Bittencourt (secretário do Tesouro), seria essencial para autorizar
essas despesas. Pouco antes do horário marcado para o anúncio, o Governo
resolveu não anunciar nada – ainda. Mas a ideia está de pé e vai
voltar, pois este auxílio é parte essencial da luta de Bolsonaro pela
reeleição.
O sucesso mineiro
Enfim,
uma bela notícia: um estudo internacional liderado pelo Imperial
College de Londres coloca Belo Horizonte como exemplo no combate à
Covid. De acordo com o estudo, se todo o país combatesse a pandemia como
Belo Horizonte o fez, provavelmente o número de mortes no país teria
sido a metade das atuais 600 mil mortes.
O
prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PSD, elogia a população
da cidade, que seguiu as recomendações do setor de Saúde, e lembrou que
a Prefeitura investiu pesadamente na luta contra a doença. “Trabalhamos
junto com a população, com organização e com dinheiro. Tem de botar
dinheiro em pandemia. Não faltou, graças a Deus”. O estudo é assinado
por professores ingleses, americanos, espanhóis, brasileiros, belgas e
dinamarqueses.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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