“A liberdade de expressão não é algo que deva ser decidido por moderadores anônimos que trabalham para empresas privadas". Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
Na
semana que passou, o governo da Polônia anunciou uma medida pioneira
para combater a censura que vem sendo crescentemente praticada pelas Big
Techs na internet, em plataformas como o Facebook e o Twitter. Segundo
reportagem publicada pelo “The Epoch Times”, o vice-ministro da Justiça
Sebastian Kaleta afirmou que as empresas que excluírem postagens ou
suspenderem usuários por razões ideológicas poderão ser multadas em até
13,5 milhões de dólares.
A
justificativa é óbvia: o usuário das redes sociais deve ter garantidos
direitos fundamentais como a liberdade de expressão e de debate – que
são a essência da democracia. A partir de agora, se o conteúdo de
qualquer postagem for legal (ou seja, se não violar nenhuma lei
polonesa), ela não poderá ser censurada.
Para
garantir esse direito, a Polônia vai criar um Tribunal para a Proteção
da Liberdade de Expressão. Se esse tribunal avaliar que houve censura
ideológica na exclusão de um post pelo Twitter, por exemplo, a rede terá
que restaurar a publicação imediatamente, ou a empresa será multada.
Kaleta
foi além: em entrevista à Fox News, ele fez severas críticas às Big
Techs pela clara perseguição aos usuários conservadores que defendem os
valores tradicionais da família e do Cristianismo: “Trata-se de uma
política de incitação ao ódio, sem qualquer justificativa legal”,
afirmou. E concluiu: “A cultura do cancelamento praticada pelas Big
Techs não é democrática. A liberdade de expressão não é algo que deva
ser decidido por moderadores anônimos que trabalham para empresas
privadas".
Coincidentemente, também na semana passada, o Twitter anunciou – pasmem! – que manterá permanentemente o bloqueio à conta de Donald Trump, mesmo se ele voltar a se candidatar à presidência dos Estados Unidos. Ned Segal, diretor financeiro do Twitter, declarou em entrevista ao canal de TV CNBC que a política da plataforma foi desenhada para “assegurar que as pessoas não incitem a violência”: “Se alguém faz isso, não importa quem seja, é banido da rede, e nossas políticas não permitem que regresse, no futuro”.
Mas
é muita cara-de-pau. Não apenas porque o Senado americano absolveu
Trump de qualquer incitação à violência no episódio da invasão do
capitólio, em 6 de janeiro, mas também porque o Twitter abriga sem
qualquer problema a conta de Nicolás Maduro, entre outros defensores da
democracia e da liberdade, incluindo terroristas islâmicos.
Hoje
o Twitter e o Facebook nem disfarçam mais que estão trabalhando para
promover um ambiente favorável à agenda progressista, e a forma mais
eficaz de fazer isso é incutir nas pessoas comuns o medo de expressar
suas opiniões.
A
questão de fundo é uma mudança de paradigma nas relações de poder: em
mais de um sentido, as Big Techs detêm hoje mais poder que muitos
governos e instituições, o que pode representar uma séria ameaça aos
pilares da democracia e do Estado de direito. Se uma empresa privada se
julga suficientemente poderosa para silenciar um presidente dos Estados
Unidos, a mensagem que ela envia ao mundo é: “Nós podemos censurar e
calar qualquer pessoa, na hora que quisermos".
Episódios
dessa tática de intimidação e constrangimento são hoje quase diários.
Não é de hoje que fazer uma piada politicamente incorreta ou emitir uma
opinião que contrarie as convicções da galera “do bem” se tornaram
motivos para o linchamento público nas redes. É claro que geralmente
isso depende de quem faz a piada ou emite a opinião, mas o processo está
saindo do controle: a lacração está se voltando contra os próprios
lacradores. Se você pertence a uma minoria mas faz um comentário
impróprio sobre outra minoria, também está sujeito a ser sumariamente
cancelado no tribunal da internet.
Foi
o que aconteceu com o jornalista progressista David Roberts, do portal
de esquerda Vox, que postou no Twitter (enaltecendo a própria virtude,
esporte favorito dos lacradores): “Fico pensando nos americanos
sedentários, devoradores de fast-food, assistindo à TV em seus castelos
suburbanos, criticando refugiados que andarem milhares de quilômetros
para fugir da opressão. E fico muito zangado”. Isso deveria soar muito
bem, ele deve ter pensado: atacar americanos e defender imigrantes? Não
tem como dar errado.
Mas
imediatamente Roberts foi objeto de uma enxurrada de ataques por...
gordofobia, também conhecida como “fat-shaming”. Desesperado, ele tentou
corrigir o erro e se redimir do crime em dezenas de novas postagens: o
jornalista, como tantos outros, foi obrigado a se ajoelhar no milho e
pedir perdão em público, de forma humilhante: “Fat-shaming é real, é
injusto, e não quero fazer parte disso”. Mais detalhes sobre o episódio
nesta reportagem do portal “Daily Caller”.
Depois da medida anunciada pelo vice-Ministro da Justiça polonês, a ministra da Justiça da Hungria, Judit Varga, também se manifestou sobre o tema:
“Nos
últimos dias, a censura privada atingiu um novo patamar, atingindo as
pessoas de uma forma sem precedentes. No imperialismo digital, não
importa mais se você é um usuário comum ou o presidente democraticamente
eleito da principal potência mundial, pois ficou claro que você pode
ser silenciado pressionando um botão. Parece que o mundo não está
percebe até que ponto somos todos vulneráveis ao controle global da
mídia progressista. Mas um povo que lutou desarmado contra os tanques
soviéticos não consentirá tão facilmente em ser censurado por Jack
Dorsey ou Mark Zuckerberg”.
Este
é um ponto fundamental. Não é por acaso que as primeiras medidas de
resistência à ditadura das Big Techs aconteçam em países que, durante
décadas, foram escravizados por regimes comunistas. Poloneses e húngaros
sentiram na pele o que é viver em uma sociedade na qual, em nome da
igualdade e da virtude, a liberdade foi duramente esmagada.
Seguramente,
essa experiência ensinou os poloneses e húngaros a dar o devido valor à
liberdade de expressão – e a ter coragem para impor um limite ao avanço
da censura e da ditadura “do bem” que vem sendo imposta pelas redes
sociais. O processo começou já há mais de uma década, com a emergência
do fenômeno do “politicamente correto”, mas nos últimos anos se
radicalizou, passando para a fase de perseguição aberta e cancelamento
sumário de qualquer pensamento dissidente. É preciso reagir, antes que
seja tarde.
BLOG ORLANDO TAMBOSI



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