O
governador João Doria Jr. até que vinha bem: deu recursos à Saúde e
lutou duro contra a pandemia, tomou a iniciativa de buscar vacinas,
colocou-as à disposição dos outros governadores, forçou Bolsonaro a
agir. Elegeu o prefeito de São Paulo, manteve o PSDB no comando da
maioria do Estado, tomou o comando nacional do partido. Isso é um
perigo: deixa o político cheio de orgulho, à beira de seguir más ideias.
Pois de repente aconteceu: Doria prometeu duas ou três vezes divulgar a
taxa de proteção da vacina produzida pelo Instituto Butantan; por duas
ou três vezes, adiou a divulgação. Péssimo: com a campanha bolsonarista
contra vacinas em geral e a “vachina do Dória”, como a chama Bolsonaro,
em particular, abriu margem para desconfianças.
O
próprio secretário da Saúde do governador, Jean Gorintcheyn, disse que
em sua opinião a vacina será eficaz, mas talvez nem tanto quanto outras
já em uso.
E
tudo que está mal ainda pode piorar. O prefeito Bruno Covas deu-se um
bom aumento de salário, 46,6%, para R$35.462. O salário do prefeito é o
teto do funcionalismo e dos vereadores. Custo? R$ 500 milhões por ano –
numa hora em que o dinheiro tem de ir é para a saúde. Mas prefeito e
governador também pensaram em economizar: a passagem gratuita no
transporte público, antes válida a partir dos 60 anos, pulou para 65
anos. E aí o governador vai passear em Miami. Pegou tão mal que voltou
no dia seguinte. Parece até ter contratado uma ajudanta arroganta.
Sim e não
O
jornalista Frederico Branco cunhou a frase definitiva: tem coisa que
pode, tem coisa que não pode. Pode demorar para anunciar alguma coisa,
mas não pode prometer o anúncio e recuar. Aumentar o próprio salário,
pode (mesmo porque faz anos que não há reajuste), mas na hora em que é
preciso cortar despesas, não pode. Tirar uma pequena vantagem financeira
dos idosos, não pode (nem precisa). Ir para Miami pode, mas no meio da
batalha da Saúde e das vacinas não pode. Se quiser ser candidato, nada
disso pode.
Complementando
Covas
poderia ter vetado o aumento aprovado pela Câmara. O próprio prefeito
tinha dado sinal verde à gastança, mas vetá-la apesar disso lhe daria um
certo ar de esperteza-mau caráter bem aceita pelo eleitorado. Teria a
desculpa de dizer que, quando até aposentadorias são mantidas no nível
atual, não pegaria bem pensar com os próprios bolsos.
Doria
foi a Miami às suas custas, em viagem há muito planejada, depois de
meses de dura guerra à pandemia. Mas poderia esperar mais alguns dias
para repousar. E, candidato que é, nem deveria pensar em Miami (que
certamente conhece melhor do que Sapopemba). Em menos de um mês, poderá
ir a Washington para a posse de Biden. Bolsonaro talvez vá a Miami,
prestar homenagens a seu ídolo Trump em Mar-a-Lago, levando-lhe uma
lembrancinha de Romero Britto e mensagens dos bolsonaristas que ainda
não aceitaram a derrota.
A dança dos candidatos
A
dois anos da eleição de 2022, o presidente Bolsonaro continua firme na
liderança das pesquisas, no primeiro e segundo turnos. Se as eleições
fossem hoje, de acordo com a pesquisa PoderData. Bolsonaro venceria
quaisquer dos adversários. No segundo turno, onde enfrentou dura disputa
no segundo turno de pesquisas anteriores contra o ex-ministro Sérgio
Moro, ganha fácil – e Moro nem é mais seu principal adversário, agora
atrás de Luciano Huck.
A
diferença em favor de Bolsonaro no segundo turno varia de seis a 15
pontos percentuais. O mais bem colocado é Huck, ainda sem partido, mas a
quem o DEM gostaria de lançar (e que, dizem, Fernando Henrique estaria
propenso a apoiar, mesmo que seu partido saia com Doria). O governador
João Doria está a 15 pontos percentuais de distância de Bolsonaro.
O tempo passa
Falta
muito tempo para a eleição. Este colunista já viu Luiza Erundina,
quarta na pesquisa, derrotar Paulo Maluf em São Paulo em menos de uma
semana. Já viu, nas primeiras eleições presidenciais diretas realizadas
no Brasil após a ditadura, em 1989, todos os candidatos da Nova
República, somados, terem menos votos que Maluf; Brizola, o símbolo da
esquerda, ser batido por Lula; e Fernando Collor, que dois anos antes só
era conhecido em Alagoas, se eleger presidente da República. Tudo isso
aconteceu, mas não é obrigatório que se repita. A vantagem de Bolsonaro
mantém-se há tempos.
E daí?
Bolsonaro
teve forte ganho político com a coronavoucher, a ajuda de emergência
aos carentes da pandemia. Não queria se comprometer com a ajuda; a
oposição, para criar-lhe dificuldades, forçou a ajuda, e isso foi bom
para ele. Aprendeu a receita e não vai abandoná-la. Tem um núcleo firme
de votos, algo como 35%; e a oposição continua rachada. Um bom embate
pede alianças. Como fazer alianças se o PT não aceita o MDB por causa de
Temer?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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