De Brad Pitt a paródias de filmes, a campanha fervilha com os anúncios de televisão e Donald Trump é o mais negativo, um mau sinal para ele. Vilma Gryzinski:
A
melhor peça de propaganda política de todos os tempos nem é da campanha
presidencial: mostra Dan Crenshaw, deputado republicano e ex-comandante
SEAL da Marinha, promovendo a candidatura de antigos companheiros de
armas.
Numa
paródia da série Vingadores, ele sai para uma missão especial, salta de
helicóptero, faz piadinhas típicas dos filmes do gênero. O olho que
perdeu no Afeganistão ganha superpoderes.
Nada se compara a um personagem como Crenshaw, mas a seis dias da eleição, a propaganda política está pegando fogo.
A
campanha de Joe Biden tem muito mais dinheiro e domina os espaços na
televisão, que obviamente são pagos, não gratuitos como no Brasil.
Só
para dar uma ideia dos estonteantes números envolvidos: os gastos com
os mais de cinco milhões anúncios de tevê e internet chegam a oito
bilhões de dólares. Na arrancada final, eles praticamente ocupam todo o
tempo dos comerciais entre a programação.
A campanha de Donald Trump não conseguiu os efeitos viralizantes dos anúncios pela internet como em 2016, mas está tentando.
Uma das peças mais engraçadas mostra Joe Biden como um “cavalo de Tróia do socialismo”.
A
montagem deliberadamente tosca coloca a cabeça do candidato democrata
no falso presente dos gregos tal como reproduzido num dos piores filmes
de todos os tempos, Tróia.
Em
resposta, Brad Pitt, o Aquiles do filme, fez a narração de um anúncio
com o clássico apelo a todos os americanos, acima dos partidos
políticos, mostrando Biden como o presidente que vai “entender suas
esperanças, seus sonhos, seu sofrimento” e governar para todos.
Na voz de Brad Pitt, os lugares-comuns são bem convincentes.
A primeira propaganda política pela televisão foi feita por Dwight Eisenhower em 1952.
Em
preto e branco, sem nenhuma sofisticação, o ex-comandante supremo das
forças aliadas expedicionárias na Europa responde a supostos eleitores
comuns – uma tática usada até hoje.
Numa
das peças da campanha de Trump, uma mulher não-branca simplesmente vai
mostrando cartazes com mensagens bem diretas: “Estou preocupada com Joe
Biden, ele é fraco”, “Biden aderiu a propostas da extrema esquerda”,
“Biden vai aumentar os impostos”, “Dar anistia a onze milhões de
imigrantes ilegais”, “Tenho medo de falar isso em voz alta”, “Não vou
arriscar o futuro dos meus filhos com Biden”.
Os
cartazes praticamente são um resumo dos argumentos de Trump contra o
adversário, embora estejam entre as peças menos agressivas.
Destacar
apenas os defeitos do oponente, sem se apresentar como uma alternativa
muito melhor, é considerado um exercício dos candidatos em desvantagem,
como é o caso de Trump.
Geralmente,
por estarem no poder, disputando, portanto, com adversários que podem
se apresentar como mensageiros das boas notícias e promessas melhores
ainda, em oposição aos que têm os ônus de governar – com destaque, no
caso de Trump, para a devastação em vidas humanas e empregos por um
agente destruidor como o coronavírus.
Dentro
do espírito de mostrar cidadãos comuns, a campanha democrata fez uma
peça bem-humorada com um suposto eleitor arrependido de Trump.
Sem
camisa, fumando um cigarro não convencional e com fala meio enrolada,
ele diz que nunca, jamais votou num democrata, mas se Joe Biden por
acaso saísse da eleição e uma lata de tomate entrasse em seu lugar,
votaria na lata só para derrotar o presidente.
O
alvo é evidente: homens brancos sem educação superior (chamados de WNC,
as iniciais em inglês) são os eleitores mais fieis de Trump. Mostrar um
estereótipo exagerado deles pode ter algum efeito positivo?
A essa altura, vale tudo.
Inclusive
uma paródia de filme de terror, usando uma entrevista real em que Joe
Biden se irrita com a pergunta de um apresentador negro – “Faria um
teste de capacidade cognitiva?” – e retruca que seria o mesmo se o
entrevistador tivesse que fazer um teste sobre uso de cocaína.
Na
propaganda, a imagem dele some e começa a aparecer, ominosamente, atrás
do apresentador, numa cena clássica das narrativas de terror.
Uma
das peças mais fortes da campanha republicana continua a ser a
intitulada “O que está acontecendo com Joe Biden”. Mostra flagrantes do
candidato quando era apenas alguns anos mais moço, e outros com suas
falhas de memória e confusões de linguagem.
Os
democratas responderam com um filmete em que Trump aparece segurando um
copo d’água com as duas mãos e descendo uma rampa com passos hesitantes
– isso antes da recuperação a jato da Covid-19.
Na
realidade, Trump, aos 74 anos, está fazendo três comícios por dia com
uma energia impressionante. Parece se renovar com a adoração do público
que grita “Superman”, “SuperTrump” ou “Nós te amamos”.
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Biden,
a menos de um mês dos 78 anos, aguentou bem os dois debates com Trump.
Já saiu vitorioso só por não demonstrar nenhuma das falhas cognitivas
exibidas em outras circunstâncias.
Depois
que o resultado sair, e por muitos anos mais, a influência da
propaganda de cada um deles será analisada pelos especialistas em busca
de lições para o futuro.
Nos dias finais da campanha, o que conta é o volume.
“A
quantidade de dinheiro dos dois lados é tão grande que a eficiência não
importa”, disse ao Los Angeles Times um ex-assessor próximo de Barack
Obama, Dan Pfeiffer.
Se eficiência importasse, Dan Crenshaw estaria eleito presidente.
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