Os ricos e poderosos nunca precisaram do capitalismo, escreve Donald Boudreaux no Instituto Mises:
Responda rápido: quem realmente foi o grande beneficiado pelo capitalismo?
Se você respondeu "os ricos", você nunca estudou história.
A história nos mostra que todo o progresso industrial, todos os
aperfeiçoamentos mecânicos e elétricos, todas as grandes maravilhas
tecnológicas da era moderna, e todas as grandes conveniências e
facilidades que hoje nos são disponíveis teriam significado
relativamente pouco para os ricos e poderosos em qualquer época da
história.
Por exemplo: um sistema moderno de saneamento básico, com rede de
esgoto e água encanada, teria trazido benefícios adicionais para os
ricos da Grécia Antiga? Dificilmente, pois eles tinham servos para lhes
garantir todas essas comodidades. Os servos faziam o papel da água
corrente.
Os nobres da Roma Antiga teriam maior qualidade de vida caso houvesse
televisão e rádio? Improvável, pois eles podiam ter os principais
músicos e atores da época fazendo apresentações exclusivas em suas
mansões, como se fossem seus serventes.
Roupas manufaturadas, máquinas de lavar, microondas e supermercados?
Os ricos e poderosos nunca precisaram se preocupar com essas coisas.
Roupas e alimentos eram feitos e mantidos por seus serventes, que lhes
entregavam tudo em mãos.
Que tal coisas mais modernas, como máquinas fotográficas ou mesmo
smartphones para fazer selfies? Isso teria trazido pouquíssimos
benefícios adicionais para os aristocratas da antiga, pois eles podiam
simplesmente ordenar que os melhores e mais talentosos artistas do reino
pintassem quadros com seus retratos e os retratos de outros membros da
realeza.
Avancemos as comparações agora para o mundo moderno. Hoje, no
smartphone de cada cidadão comum há inúmeros aplicativos que trazem
grandes comodidades. Irei destacar dois: o GPS e os serviços de
transporte, como Uber, Cabify e Lyft.
Pergunta: como exatamente os ricos e poderosos são beneficiados por
um GPS e pelo Uber? Eles dificilmente precisam dessas duas comodidades,
pois raramente dirigem por conta própria e ainda mais raramente pegam um
taxi. Além de terem motoristas particulares, eles andam de limusines
próprias e viajam de jatinhos, e possuem toda uma equipe de funcionários
para esquematizar e cuidar de todos os detalhes de suas viagens.
Por outro lado, pense nos enormes benefícios que o GPS, a Uber e o
Cabify trouxeram para o cidadão comum, que agora não apenas pode ir a
qualquer lugar com seu próprio carro como também pode se deslocar de
forma barata e luxuosa em sua própria cidade. E sem precisar de toda uma
equipe de funcionários para fazer os preparativos e arranjos.
Os exemplos são inúmeros e podem ser expandidos infinitamente: desde
toda a enciclopédia de informações trazidas pela internet ao cidadão
comum (os ricos e poderosos nunca tiveram dificuldade de acesso à
informação), passando pelas facilidades de lazer, entretenimento e
cultura (hoje, você lê todos os livros em seu smartphone e assiste a
todos os filmes na comodidade de sua casa, sob demanda; acesso a livros e
filmes nunca foi problema para os ricos e poderosos), e culminando na
fartura e na facilidade de acesso à alimentação e moradia.
Nada disso nunca foi problema para os ricos e poderosos. Já o capitalismo disponibilizou tudo para o cidadão comum.
Por isso, Ludwig von Mises sempre dizia que o capitalismo não é
simplesmente produção em massa, mas sim produção em massa para
satisfazer as necessidades das massas. No capitalismo, os grandes
inovadores não produzem artigos caros, acessíveis apenas às classes mais
altas: produzem bens baratos, que podem satisfazer as necessidades de
todos.
Ao passo que, séculos atrás, toda a produção funcionava a serviço da
gente abastada das cidades, existindo quase que exclusivamente para
corresponder às demandas dessas classes privilegiadas, o surgimento e a
expansão do capitalismo geraram a produção de artigos acessíveis a toda a
população. Produção em massa para satisfazer às necessidades das
massas.
Por isso, todas as grandes conquistas do capitalismo resultaram
primordialmente no benefício do cidadão comum. Essas conquistas
disponibilizaram para as massas confortos, luxos e conveniências que,
antes, eram prerrogativa exclusiva dos ricos e poderosos.
Uma porção desproporcional dos benefícios do capitalismo, do livre
mercado, da inovação, da invenção de novos produtos, do comércio e dos
avanços tecnológicos vai para o cidadão comum, e não para os ricos e
poderosos.
Eis o que disse Joseph Schumpeter sobre o poder do capitalismo em aprimorar o padrão de vida dos comuns:
O motor do capitalismo é, acima de tudo, um motor de produção em massa, o que inevitavelmente também significa produção para as massas. [...]
Verificar isso é fácil. Sem dúvidas, há bens e serviços disponíveis hoje ao cidadão comum atual que o próprio Luis XIV adoraria ter: por exemplo, a odontologia moderna. [...] Por outro lado, a luz elétrica não representaria um grande conforto ou dádiva para uma pessoa poderosa o suficiente para comprar um grande número de velas e ter servos para mantê-las constantemente acesas. Até mesmo a velocidade com que se viajava à época não deve ter sido objeto de grande consideração para um cavalheiro tão distinto.
Roupas fartas e baratas, fábricas de seda e algodão, sapatos, automóveis e vários outros bens são as típicas façanhas da produção capitalista. Por si sós, elas não representam aprimoramentos que mudariam enormemente a vida do homem rico e poderoso.
A Rainha Elizabeth sempre teve meias de seda. A façanha do capitalismo não consiste em fornecer mais meias de seda para as rainhas, mas sim em disponibilizá-las para as mulheres trabalhadoras em troca de quantidades de esforço continuamente decrescentes.
Apenas leia esse último parágrafo de novo. Deveríamos estar ensinando
isso para as nossas crianças. No entanto, o que elas estão sendo
ensinadas neste exato momento é que, sob o capitalismo, os ricos ficam
cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. O exato oposto da realidade.
Conclusão
Progressistas que dizem que todos os ganhos de uma economia de
mercado vão para os ricos são ignorantes da realidade que os cerca.
Apenas pense no tanto que essas pessoas estão erradas da próxima vez que
você usar seu laptop, tablet, smartphone, GPS, Spotify, ou se deslocar
utilizando Uber, Lyft ou Cabify.
A única entidade que pode afetar, atrasar e atrapalhar todo esse
progresso incrível, dificultando o acesso do cidadão comum a essas
comodidades que melhoram seu padrão de vida, é o governo e suas
políticas que destroçam a economia e o poder de compra das pessoas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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