Se o mercado de trabalho repetir 2019, haverá 1 milhão a mais de novos
empregos com carteira assinada em 2020. Se a safra deste ano for igual à
do ano passado, a produção agrícola do Brasil vai bater um novo
recorde. J. R. Guzzo, coluna da Gazeta do Povo:
Quer ter um bom 2020? Então peça um 2019, sem tirar nem pôr – ou
melhor, sempre pode pôr alguma coisinha boa a mais, é claro, mas
realmente não é preciso tirar nada do que se teve neste ano que acaba de
se ir embora. O assunto, aqui, é o mundo das coisas públicas e capazes
de influir na vida cotidiana do Brasil.
Em outros temas, cada um teve seus próprios momentos em 2019, e só
cada um, naturalmente, pode dizer como foram – e se está no direito de
desejar mais, ou muito mais, em 2020. Mas em termos daquilo que pode
afetar a você como cidadão, e que depende em boa parte do que acontece
no governo, na política e na sociedade em geral, dá perfeitamente para
dizer que uma repetição deste ano vai estar de muito bom tamanho.
Chegamos ao fim de 2019 com índices mínimos de inflação, para padrões
brasileiros – menos de 3,5% no ano, e sem nenhum sinal de que possa
sair do controle no futuro visível. A taxa de juros está em 4,5% anuais,
os mais baixos em mais de 30 anos, ou desde que se passou a manter um
registro regular e oficial de sua evolução. É uma enormidade, em termos
de avanço da economia do Brasil como um todo. A continuar assim – e um
dos objetivos estratégicos mais vitais da política econômica do governo é
continuar exatamente assim – começam a aparecer no horizonte coisas
inéditas na vida de qualquer brasileiro. Se os juros continuarem a
baixar, forçosamente eles estarão caminhando para se alinhar com a taxa
de juros internacional – de 1% a 2% ao ano.
Isso quer dizer que vai acabar, simplesmente, o “dinheiro barato” dos
BNDES e Bancos do Brasil da vida. Haverá um dinheiro só no sistema de
crédito, disponível para todos que tiverem condições materiais de
garantir os empréstimos que levantaram. As empresas brasileiras poderão
se financiar com os mesmos custos de crédito que têm as suas
concorrentes internacionais, e ganhar um elemento de competitividade que
nunca tiveram – a não ser, é claro, que arrumassem o “dinheiro barato”
ou levantassem empréstimos no exterior, correndo todo os riscos do
câmbio. O governo deixará de tirar R$ 500 bilhões dos impostos, a cada
ano, para pagar os juros da dívida publica – com juros cada vez mais
baixos, os pagamentos também serão cada vez menores.
Se o mercado de trabalho repetir 2019, haverá 1 milhão a mais de
novos empregos com carteira assinada em 2020. Se a safra deste ano for
igual à do ano passado, a produção agrícola do Brasil vai bater um novo
recorde. Se forem aprovadas reformas como a da Previdência, a economia
salta dez casas para frente. Tudo isso é muito bom para o brasileiro
comum – só é ruim para quem precisa que o governo dê errado. Esses sim;
não querem nem ouvir falar de um outro 2019.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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