O paraibano Aguinaldo Ribeiro, líder da maioria. |
Enquanto grande parte dos senadores e deputados sacodem o rabo nas
festas juninas, deixando de lado a importante reforma da Previdência, o
governo e articuladores continuam firmes em Brasília. Editorial da Gazeta do Povo:
Enquanto os festejos juninos prosseguem, sempre com a presença maciça
de deputados federais e senadores, o governo e articuladores da reforma
da Previdência em Brasília continuam batalhando para que o relatório de
Samuel Moreira (PSDB-SP) seja votado ainda nesta semana, o que, dado o
tradicional quórum baixo no Congresso nesta época, seria um feito e
tanto. As sessões da comissão foram mantidas, tanto para esta terça
quanto para a quarta-feira, começando ambas às 9 horas, e há dezenas de
deputados inscritos para falar na terça-feira, dia ainda dedicado aos
debates sobre a proposta.
Na sexta-feira, dia 21, durante o feriado prolongado de Corpus
Christi, o presidente Jair Bolsonaro havia dito que, “se atrasar mais
uma semana, não tem problema, não. Toca o barco”. Felizmente, o
secretário da Previdência, Rogério Marinho, e integrantes da Comissão
Especial não se conformaram com a tradição de esvaziamento da Câmara
durante as festas juninas – Marinho afirmou, nesta segunda-feira, que
espera para esta quinta-feira a aprovação final do texto na Comissão
Especial, para que o plenário tenha duas semanas e meia para concluir a
tramitação da reforma na Câmara, antes do recesso que começa na segunda
quinzena de julho.
Os próximos dias devem reservar um novo embate a respeito da economia
total garantida pela reforma. Enquanto a líder do governo no congresso,
deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), afirmou que serão propostas
mudanças no texto de Moreira para que, em dez anos, o governo deixe de
gastar R$ 1,1 trilhão, o líder da maioria na casa, Aguinaldo Ribeiro
(PP-PB), já admitiu que a economia pode ficar ainda aquém da proposta de
Samuel Moreira, que economiza R$ 913 bilhões no mesmo período e prevê
uma “anabolização” deste valor com repasses de verbas hoje destinadas ao
Fundo de Amparo ao Trabalhador. Entre críticas a Bolsonaro e Paulo
Guedes, Ribeiro deixou claro que “a reforma da Previdência que pode ser
aprovada não será a do governo (...) será uma outra, que estamos
construindo, com um impacto fiscal, em dez anos, entre R$ 600 milhões e
R$ 800 milhões”.
Por mais intempestivas e inoportunas que tenham sido as críticas de
Guedes ao relatório – o que Ribeiro chamou de “fazer beicinho” –, o
âmago da questão levantada pelo ministro da Economia é muito pertinente:
uma reforma desidratada, que represente uma economia pequena, será
apenas um remendo que durará alguns anos antes que o sistema volte a
correr risco de quebrar. É preciso lembrar que, no estado atual das
contas públicas, quando se fala na “economia” que a reforma
proporcionará, não estamos nos referindo a dinheiro que o governo terá à
disposição para usar em outras áreas, ou para reforçar suas reservas;
trata-se, pura e simplesmente, de evitar que o governo tenha déficits
ainda mais profundos, e que serão respondidos com mais endividamento ou
com o retorno da inflação por meio da impressão de moeda.
As palavras de um dos líderes do Centrão não podem ser tratadas com
ligeireza, sejam elas mera bravata ou ameaça real. As forças que não
desejam a reforma da Previdência, ou que buscam enfraquecer o texto,
retirando-lhe a força que ajudará o Brasil a recuperar a saúde fiscal,
são muitas e continuam ativas. Ao longo dos próximos dias, durante as
discussões finais e, especialmente, durante a votação do texto e de
eventuais destaques na Comissão Especial, o país saberá com quem
realmente pode contar, quem está realmente trabalhando pelo Brasil, quem
aposta no “quanto pior, melhor” – caso dos partidos de esquerda, que
prometem obstruir a votação na Comissão Especial – e quem está usando a
reforma apenas como plataforma para chantagear o governo, colocando
preço em seu voto.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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