Foto: Pilar Olivares / Reuters
Dilma Rousseff
A Comissão de Anistia decidiu adiar a análise do processo em
que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) pede indenização por ter sido
perseguida política na ditadura militar (1964-1985), após pedido da
relatora do caso. A votação do requerimento de Dilma estava prevista
para esta quarta-feira (26), mas, no início da sessão, a conselheira Any
Ávila Assunção alegou que os fatos eram complexos e que seu parecer
“ainda está em construção.” O pedido da relatora foi aceito pelo
presidente do colegiado, João Henrique Nascimento de Freitas. Nem o
presidente nem a relatora informaram sobre quando o caso de Dilma poderá
voltar à pauta. A retirada de pauta do processo foi criticada pela
representante de Dilma, a advogada Paula Sapir Febrot. “Não fui avisada
de que o processo sairia de pauta. A retirada de pauta não pode ser
feita cinco minutos antes de começar uma sessão.” O requerimento da
ex-presidente -que foi presa e torturada durante o regime militar- foi
protocolado em outubro de 2002. Mas, segundo contou Dilma no início
deste ano, ela pediu que o processo fosse suspenso enquanto ocupou os
cargos de ministra de Estado e de presidente da República. Depois do
impeachment, em 2016, ela recorreu para que o pedido de indenização
voltasse a tramitar. A Comissão da Anistia é composta por 27 membros. O
órgão tem caráter consultivo, e a decisão final sobre a concessão ou não
do benefício cabe à ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos
Humanos). Desde que assumiu o ministério, Damares tem prometido rever
reparações dadas nos últimos anos e abrir o que chamou de “caixinhas” da
comissão. Dilma pede indenização e contagem de tempo para efeitos de
aposentadoria do período em que foi presa, em 1970, até a promulgação da
lei da anistia, nove anos depois. O valor solicitado pela petista à
Comissão de Anistia é de cerca de R$ 10,7 mil mensais, “com efeitos
financeiros retroativos”. Em seu requerimento, a ex-presidente relata
que, após ter sido colocada em liberdade, em 1972, foi impedida de
retomar o curso de economia na Universidade Federal de Minas Gerais.
Isso a obrigou a prestar novo vestibular em 1974, desta vez para
ingressar na Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Ainda antes de se formar, continua Dilma em seu pedido, ela
começou a trabalhar na Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande
do Sul, onde permaneceu até 1977. Dilma conta no requerimento que passou
a ser pressionada pela direção da instituição a se demitir do cargo. A
ex-presidente conta que o seu desligamento era exigido pelo SNI (Serviço
Nacional de Informações), órgão de inteligência da ditadura, em razão
de ela ser considerada uma pessoa subversiva ao regime. No processo,
Dilma ainda cita o fato de ter sido incluída na lista, elaborada pelo
general Sílvio Frota, dos supostos “97 comunistas infiltrados” em órgãos
públicos. No final de janeiro, a ministra Damares sinalizou, em
entrevista à revista Época, que pretendia negar o pedido de indenização
feito por Dilma. Isso porque a ex-presidente já recebeu reparações, no
valor total de R$ 72 mil, por comissões estaduais de análise de pleitos
de perseguidos pela ditadura, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São
Paulo. A lei que regulamentou a anistia política no Brasil veda “a
acumulação de quaisquer pagamentos ou benefícios ou indenização com o
mesmo fundamento, facultando-se a opção mais favorável”. Na entrevista,
Damares disse que a petista “já está indenizada três vezes pela dor e
pelo sofrimento que ela passou”. No início deste ano, Dilma classificou a
possibilidade de a Comissão da Anistia barrar seu pedido de indenização
como “perseguição política” e disse que doou as reparações que recebeu
dos governos do Rio de Janeiro e São Paulo ao grupo Tortura Nunca Mais.
Folha de S. Paulo
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