A coleta da água foi feita entre os dias 8 e 14 de março
O resultado do estudo, que aponta índices de turbidez e alguns metais acima do permitido por lei, foi contestado porém pela Agência Nacional das Águas (ANA), pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e pelo Serviço Geológico do Brasil. Os órgãos oficiais dizem que o Velho Chico já estava contaminado antes mesmo do desastre ocorrido na cidade mineira.
A Vale também garantiu que a pluma de lama está contida no reservatório da Usina Hidrelétrica Retiro Abaixo, "e não acessou o rio São Francisco".
Relatório
Segundo a SOS Mata Atlântica, dos 12 pontos analisados do rio, nove estão em condições ruins e somente três estão regulares. A contaminação acontece, de acordo com a fundação, do Reservatório de Retiro Baixo, entre os municípios de Felixlândia e Pompéu, até o Reservatório de Três Marias, no Alto São Francisco. O laudo revela que a água está imprópria para consumo da população.
Nos pontos contaminados foram constatados turbidez acima dos limites aceitáveis pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Em alguns trechos, o indicador está seis vezes além do permitido. Além disso, as concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre também estavam acima dos limites máximos permitidos na legislação. A coleta da água foi feita entre os dias 8 e 14 de março.
Os dados mostram, ainda, que a situação poderia ser pior. O estudo comprova que o Reservatório de Retiro Baixo está segurando o maior volume dos rejeitos de minério que estão sendo carregados pelo Paraopeba. "Apesar das medidas tomadas no sentido de evitar que os rejeitos atinjam o rio São Francisco, os contaminantes mais finos estão ultrapassando o reservatório e descendo o rio e já são percebidos nas análises em padrões elevados", destacou a fundação.
Manifestações
A ANA informou que, desde o dia 25 de janeiro, quando ocorreu o desastre em Brumadinho, faz o monitoramento da qualidade da água do Velho Chico. As análises, que acontecem em conjunto com o Igam e o Serviço Geológico do Brasil, não confirmam que os rejeitos da barragem já tenham passado da Usina de Retiro Baixo, antes da Usina de Três Marias e, portanto, antes do Rio São Francisco.
"Análise da qualidade da água do rio Paraopeba feita antes do evento da ruptura da barragem de Brumadinho já apontava níveis de contaminação, por ferro e alumínio, que mascaram a passagem da lama. Por exemplo, o rio Ribeirão das Almas, imediatamente a jusante de Retiro Baixo, lança muitos sedimentos no Paraopeba, o que pode confundir análises feitas sem contemplar as séries anteriores de dados", explicou o órgão.
A Vale também ressaltou que os rejeitos da Mina Córrego do Feijão não chegaram até o Velho Chico. "Esta afirmação está fundamentada na análise integrada do comportamento dos resultados de turbidez (até 20/03/2019) e metais (até 16/03/2019) que estão associados ao deslocamento da pluma", explicou a mineradora.
A empresa ainda destacou que, diariamente, monitora 65 pontos nas áreas afetadas pelo desastre, "em pontos a jusante no rio Paraopeba, principais tributários, reservatórios de Retiro Baixo e de Três Marias, rio São Francisco e em pontos a montante não afetados."
A Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad) também foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou sobre o estudo da SOS Mata Atlântica.
Triste realidade
Não é só o rio São Francisco que está padecendo. No país, dos 278 pontos de coleta de água monitorados, em 49 (17.6%) a qualidade é ruim, e em 4 pontos (1,4%), péssima. Conforme o estudo, somente 18 pontos (6,5%) apresentam qualidade boa da água e nenhum dos rios e corpos d’água tem qualidade ótima.
“Os rios brasileiros estão por um triz. Seja por agressões geradas por grandes desastres ou por conta dos maus usos da água no dia a dia, decorrentes da falta de saneamento, da ocupação desordenada do solo nas cidades, por falta de florestas e matas ciliares que protegem os rios e nascentes e por uso indiscriminado de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Nossos rios estão sendo condenados pela falta de boa governança“, afirma Malu Ribeiro, assessora da Fundação SOS Mata Atlântica, especialista em água.
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