Arte em boas fatias: versões modernas do popular bolo vão muito além da receita básica
Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
HOJE EM DIA
Reza a lenda que a receita mais antiga de bolo teria
saído das cozinhas do Egito Antigo, quando ingredientes e preparo eram
básicos, bem diferente dos dias atuais. A iguaria foi se sofisticando
tanto com o passar do tempo que agora ostenta uma infinidade de versões e
status de sobremesa. Caiu ainda mais no gosto do consumidor e hoje há
lojas inteirinhas ou profissionais dedicados a oferecer todo tipo de
variação – simples, recheada, pelada, com massa firme ou fofinha, frutas
e até flores. Alguns são verdadeiras obras de arte.
Pelo Instagram é possível acompanhar e encomendar o trabalho de
Renata Barros Zanetti. A “fazedora de bolos”, como se denomina, trocou
de profissão há poucos meses, mas há três anos vem se dedicando a
cozinhar delícias em forma de massa, recheio e cobertura, ao lado do
marido.
Fotos: Divulgação e Pedro Gontijo (à esquerda e embaixo e à direita)
O tradicional à base de chocolate, carro-chefe da @rebzanetti (perfil
na rede social com mais de 20 mil seguidores), é garantia de cliente
satisfeito, afirma a proprietária. Para além das variações com ganache,
caramelo com flor de sal, amêndoa ou nozes e morango, a receita, feita
sob encomenda e com exclusividade para cada cliente, é “imbatível”,
garante. Exclusivo
“Bolo, para mim, é como uma tela em branco. Não faço projeto. É um
processo totalmente emocional, intuitivo”, define, ao mencionar os
acompanhamentos: decoração com flores frescas ou desidratadas (processo
feito por ela mesma) e uma caixa tão caprichada que pode virar até
presente.
O cardápio tem ainda milho com doce de leite, limão, queijo com goiabada, pêra com calda-surpresa, tangerina e cheesecakes de frutas vermelhas e Nutella. Os bolos servem de 12 a 40 pessoas e, é bom lembrar, precisam ser encomendados com antecedência. Bolo pelado
Outra que fez nome em BH graças, sobretudo, ao queridinho entre os brasileiros, o naked cake (ou bolo pelado) foi Isabela Franco. Especialista na tradicional receita popularizada por ingleses e norte-americanos, a cake designer guarda
pouco segredo sobre a equação massa gostosa e estruturada. “São super
molhadinhos, técnica correta para empilhar e continuarem úmidos até
servir”, revela.
Fotos: Maurício Vieira (esquerda e alto) e Divulgação
Fórmula com recheio aparente e cobertura de frutas e flores é carro-chefe da cake designer Isabela Franco
À experiência de quase 10 anos confeitando bolos, somam-se camadas de
pão de ló (até cinco), recheio cremoso (nozes com ganache de chocolate é
o mais popular), frutas frescas, flores no topo e laterais.
Propositalmente sem cobertura, o naked é levemente mais
rústico. E deixa os ingredientes à mostra, como se quisesse forçar a
degustação. “O segredo de um bom bolo, sem dúvida, é a harmonia de
texturas na hora de comer: uma mistura entre cremoso, aerado e úmido,
tudo ao mesmo tempo. Tudo isso é fundamental para o paladar ficar
completo”, enfatiza a cake designer. Técnica importada da Coreia e ensinada no Brasil transforma receita em buquês de flores
Rosas inglesas, peônias, hortênsias ou dálias. Não estamos falando
sobre o cultivo de flores nem dando opções para reformar o jardim, mas
sobre algumas possibilidades para a nova sensação no Brasil, os flower cakes.
Trazida da Coreia do Sul, onde ganhou popularidade, a técnica, que
consiste em cobrir o quitute com verdadeiros buquês floridos, vem
ganhando adeptos pelo Brasil.
Ensinada com pioneirismo pela cake designer Amélia Lino –
goiana que já viveu em Belo Horizonte e, agora, viaja o país ensinando o
método –, a receita requer habilidades manuais e domínio de uma
importante função, a criatividade.
Fotos: Amélia Lino e Rui Nagae/Divulgação (à direita)
Técnica ensinada com pioneirismo no Brasil pela goiana Amélia Lino foi importada da Coreia; arranjos formam buquês perfeitos
“O bolo em si pode ser o preferido da pessoa. Na região Norte, usa-se
muito o amanteigado, por exemplo. No Sudeste e Centro-Oeste, o pão de
ló. Mas o que conta mais é o processo criativo, que inclui a paleta de
cores e o uso de combinações harmoniosas e menos óbvias para compor os
arranjos”, detalha.
Para confeccionar e modelar as flores, a receita original coreana utiliza glossy buttercream,
uma cobertura brilhante à base de manteiga e merengue italiano. Por
aqui, entretanto, é o universal chantilly que têm sido o escolhido, diz
Amélia Lino. A diferença entre as duas técnicas, ensina a cake designer,
é que a primeira só preserva a consistência durinha das flores quando
mantida em geladeira. Já a segunda, suporta até 40 graus sem derreter.
oleiras de primeira viagem podem levar até 4 horas para terminar a
obra-prima, cujo preço pode chegar a R$ 220 para servir até 20 pessoas.
Os cursos, por sua vez, variam de R$ 650 a R$ 900 por módulo.
Belo-horizontinos interessados em aprender a técnica podem anotar na
agenda: a cake designer estará na capital mineira dias 18 e 19 de
dezembro. Mais informações no Instagram: @amelialinoo. Além disso:
O nome já diz tudo. De.ló Bolos nasceu há 3 anos, em BH, e, desde
então, vem replicando a receita que, naquela época, já fazia sucesso nos
natais da família: à base de pão de ló. Fofinha, leve e aerada, a massa
– que não leva leite nem manteiga – permanece gostosa em temperatura
ambiente ou depois de gelada e combina com tudo. Tudo mesmo! Do bolo
festivo, o mais tradicional da casa, com creme de baunilha, doce de
leite caramelado e crocante de castanhas, ao popular brigadeiro duo
(metade branca, metade preta).
Studio Tertúlia/Divulgação
De.ló Bolos, de Mariana Goulart, tem bolo de pote como especialidade da casa, mas recheio preferido é o crocante (alto)
Proprietária da boleria, localizada no bairro Sion, Zona Sul da
capital, Mariana Goulart, que cozinha com a mãe e outras duas ajudantes,
conta que o carro-chefe da família De.ló são os bolos de pote. Febre há
mais de um ano, quando surgiram com tudo Brasil afora, a modalidade é
servida em porções individuais e agrada todo mundo. O segredo, garante a
moça, que adora incrementar receitas, é respeitar as proporções entre
massa e recheio para garantir experiências inesquecíveis a quem prova.
“Essa questão do farelo, usado por muita gente que faz esse tipo de
bolo, é muito importante. A ideia aqui é proporcionar naquela pequena
porção a mesma experiência de comer uma fatia inteira”, destaca Mariana.
Segundo ela, é fundamental ainda mantê-lo úmido na medida certa,
evitando que a massa fique encharcada demais e, na boca, provoque
sensação de “papa”.
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