Segunda-feira,
11/09, às 9h, o ar estava seco e o tempo quente em Brasília, a despeito
de ainda ser inverno no País. Nesse exato instante, o Comandante do
Exército, general Eduardo Villas Bôas, fazia a abertura formal da 314ª
reunião do Alto Comando do Exército, realizada no Quartel General do
Exército, em Brasília. O encontro, de cinco dias de duração, foi
convocado para discutir os problemas que afligem os militares, entre os
quais, a crise política do País e a falta de recursos para manter
soldados nas casernas e garantir as atividades básicas da força, alvo de
um significativo contingenciamento de verbas do governo federal.
Os
generais que comandam as tropas nas principais unidades do Exército
demonstravam inquietação. Sentiam a necessidade de se posicionar sobre a
corrupção e a barafunda reinante nos poderes da República. Mas a pauta,
por assim dizer, foi extrapolada, ultrapassando as fronteiras do
razoável. Na surdina, a cúpula do Exército pôs em debate ali o que o
general Antonio Hamilton Martins Mourão ecoaria dias depois, mais
precisamente na sexta-feira 15, durante um evento da Loja Maçônica
Grande Oriente: uma eventual necessidade de uma intervenção militar no
País, “diante da crise ética e político-institucional”. Ou seja, Mourão
não falava sozinho nem havia cometido um arroubo imprevidente, quando
defendeu a solução radical tornada pública na última semana.
Ele
entabulou um discurso, respaldado por um encontro prévio do Alto
Comando do Exército. Não se trata de um foro qualquer. O colegiado é o
responsável pelas principais decisões do Exército. Estavam presentes 16
generais quatro estrelas, entre eles Fernando Azevedo e Silva, chefe do
Estado-Maior e Comandante Militar do Leste, cotado para substituir
Villas Bôas, prestes a encerrar seu ciclo no comando do Exército.
Compareceram
também os demais seis comandantes militares, entre os quais o da
Amazônia, general Antonio Miotto, e o do Sul, general Edson Leal Pujol.
Fontes ouvidas por ISTOÉ, presentes à reunião, ponderam que não estavam
ali a fim de tramar um golpe militar, mas confirmam que o que os motivou
a realizar o encontro foi a preocupação com o ritmo acelerado da
deterioração do quadro político brasileiro. E, sim, deixam claro que, se
houver necessidade, estarão prontos “para uma intervenção com o
objetivo de colocar ordem na casa”.
Foi munido desse espírito que Mourão desembarcou na maçonaria. O
encontro teve início às 20h de sexta-feira 15. Lá, ele disparou a
metralhadora giratória sem maior cerimônia.
Disse
que seus “companheiros do Alto Comando do Exército entendiam que uma
intervenção militar poderá ser adotada se o Judiciário não solucionar o
problema político”, referindo-se à corrupção. Pediu a “retirada da vida
pública desses elementos envolvidos em todos os ilícitos” e advertiu que
“vai chegar um momento em que os militares terão que impor isso (a
intervenção militar na política)”. E, por fim, acrescentou: “O que
interessa é termos a consciência tranquila de que fizemos o melhor e que
buscamos, de qualquer maneira, atingir esse objetivo. Então, se tiver
que haver, haverá (ação militar)”, pregou Mourão. Fonte: Revista IstoÉ.
Nenhum comentário:
Postar um comentário