Graças ao caudaloso
noticiário sobre tragédias ocorridas em outras paragens do planeta —
provocadas por fenômenos naturais ou seres tecnicamente humanos —,
milhões de brasileiros chamam pelo nome os furacões Irma, Kátia e José,
sabem que vem aí o Maria, medem pela escala Richter a força do terremoto
no México, atualizam a contagem dos mortos em outro atentado terrorista
em Londres e acompanham em tempo real a marcha da insensatez na Coreia
do Norte desgovernada por um maluco atômico.
Concentrados nas
turbulências internacionais, e também de olho no cortejo de infâmias
descobertas pela Lava Jato, esse mundaréu de leitores, espectadores e
ouvintes parecem sem tempo para horrorizar-se com tragédias em curso
logo ali. No Rio de Janeiro, por exemplo. Entre tantas outras abjeções,
bandalheiras, safadezas e patifarias, a quadrilha liderada por Sérgio
Cabral — que agiu o tempo todo com as bênçãos e o patrocínio dos
presidentes Lula e Dilma Rousseff — incluiu em seu legado maldito um Rio
reduzido a zona de exclusão.
O Estado brasileiro
deixou de existir nos territórios conflagrados, reafirmaram as trocas de
chumbo do fim de semana. Neste fim de semana, por exemplo, a
intensificação da guerra pelo controle do tráfico de drogas na Rocinha
produziu centenas de cenas que poderiam ser inseridas sem retoques num
documentário sobre a Síria. Os tiroteios foram mais apavorantes que os
registrados há sete dias. Serão menos inverossímeis que os da semana que
vem.
Que fim levaram as
Unidades de Polícia Pacificadora, as festejadas UPPs, a invenção genial
do governador canalha? O que restou das modernidades inauguradas com
foguetório e discurseira pelo presidente megalomaníaco e pela sucessora
afundada na mitomania? Cadê as tropas do Exército que ali pousaram há
pouco mais de um mês, prontas para resgatar os incontáveis quilômetros
quadrados amputados a bala do mapa do Brasil?
O Rio agoniza sob o
olhar distraído do restante do Brasil e sob a cínica indiferença de boa
parte da gente que mora lá. Sobretudo dos “artistas e intelectuais”
nativos ou cariocas naturalizados. Esses, como se sabe, estão ocupados
demais com a preservação da Amazônia para perder tempo com uma cidade
sem lei.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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