Cientistas políticos analisam força de Lula e cenário com sua possível prisão
“As eleições de 2018 se apresentam como desafiadoras para todos os espectros políticos, porque todos eles estão fragilizados”, resumiu a doutora em ciência política pelo IESP/UERJ, Simone Cuber. Mesmo após a quinta ação penal – terceira no âmbito da Lava Jato – em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se torna réu, e após uma condenação pelo juiz federal Sergio Moro, o petista atraiu uma multidão de apoiadores a Curitiba nesta quarta-feira (13), quando prestou depoimento. Embora a força do ex-presidente esteja em evidência, especialistas apontam para um futuro eleitoral nebuloso em 2018, carregado ainda de extremismos e posicionamentos passionais.
“Lula, de fato, está em campanha e essa é uma estratégia política. Ele sabe que está sendo cercado pelo judiciário, como ele mesmo diz, um judiciário que aparentemente não se coloca de maneira imparcial diante das denúncias apresentadas contra ele. E a forma que ele tem de se proteger é fortalecendo a sua figura como candidato a 2018”, explicou Simone.
Para a cientista, se o ex-presidente for condenado em segunda instância – o que o impossibilitaria de concorrer às eleições –, e nesse mesmo panorama, estiver com uma projeção de vitória – como apontam as pesquisas –, o custo político e social dessa decisão judicial será alto.
“A interpretação que será feita é a de que estão retirando o Lula da disputa. Já dá para afirmar que se for uma decisão condenatória, vai ter um impacto muito grande”, completou.
A caravana de Lula
Militantes e apoiadores de Lula estiveram em Curitiba na última quarta para acompanhar o novo depoimento do petista a Moro, na sede da Justiça Federal do Paraná. Por volta das 12h, dezenas de ônibus já tinham chegado ao local, que recebeu uma série de atos organizados pela Frente Brasil Popular. A estimativa foi de que cerca de 1.200 pessoas fizeram um cordão para a passagem do ex-presidente. Por outro lado, grupos pró-Lava Jato espalharam outdoors anti-Lula pela cidade paranaense.
“O episódio desta quarta reforça a militância do PT. E serve como o estabelecimento de um inimigo externo comum que faz com que o PT se junte no discurso de vitimização do Lula”, comentou o sociólogo e cientista político Paulo Baia, para quem esse embate de “ame ou odeie o PT” favorece a polarização “deixando de fora uma margem enorme da população que está descrente de todos e não vê alternativa na política”.
Apesar da multidão, Baia acredita que Lula não conquista novos eleitores. “Ele se consolida no eleitor que já é Lula e não deixa de ser. O eleitor que não quer o petista já o abandonou em 2014 e 2016”, afirmou.
Simone Cuber, por sua vez, ainda acredita na capacidade de o presidente alcançar novos eleitores. “Nós já vimos o Lula transferindo ibope para a Dilma, ex-ministra dele”, comentou. Entretanto, a cientista pondera: “É claro que a força do Lula de hoje é menor do que antes, mas por outro lado, a força dos seus opositores também está enfraquecida, com seus principais nomes envolvidos em escândalos de corrupção”.
Candidatos
Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no final de junho desse ano pelo jornal Folha de S. Paulo com índices de intenção de voto para o primeiro turno da eleição presidencial de 2018 apontou Lula em primeiro lugar (30%). Ao mesmo tempo, a pesquisa também demonstra uma rejeição de 46% do petista também no primeiro turno.
“Essa polarização política fortalece uma tendência das pesquisas, que já alcançou a eleição extraordinária no Amazonas, com votos brancos, nulos e abstenção somando quase 50% dos eleitores”, lembrou Paulo Baia, acrescentando: “Portanto, o colégio eleitoral é reduzido, e os 50% que vão votar estão puxando, ou sendo puxados por essa polarização, que tem de um lado o Lula, ou o candidato indicado por ele, e de outro o Alckmin/Doria”, completou.
Para o cientista, o discurso “não-político” de João Doria não cola mais, pois o PSDB “não consegue conquistar também o voto da parcela da sociedade que está insatisfeita”.
A soma do total de abstenções, brancos e nulos no Amazonas foi superior às votações do governador eleito em julho desse ano, Amazonino Mendes (PDT), e do candidato derrotado, Eduardo Braga (PMDB).
Os dois candidatos comentaram o episódio: "Esse problema não é um fenômeno local e nem uma decorrência dos candidatos. A verdade é que o desencanto nacional com o processo político é o grande responsável [pelos índices de abstenções e nulos]", avaliou Amazonino.
"O Brasil quer um novo sistema político. Essa é a primeira eleição em nível estadual pós-Lava Jato e o povo deu uma demonstração que precisa ser refletida com muita humildade por todos. Isso pode ter reflexos nas eleições [presidenciais] do ano que vem", comentou Braga.
Ao mesmo tempo, há um medo crescente de que essa mesma polarização favoreça candidatos com discursos radicais, como Jair Bolsonaro do PSC.
“Esse é o grande medo. Nós vimos isso acontecer em eleições na Europa: quando a direita e a esquerda tradicionais estão em disputa polarizada, a extrema direita tende a crescer. Foi assim na França, com Marine Le Pen, apesar dela não ter ganhado, e foi assim nos EUA com Donald Trump, apesar de ser importante levar em consideração que o sistema eleitoral norte-americano é diferente do nosso, e Trump não obteve a maioria de votos da população”, explicou.
Apesar disso, nem Simone nem Baia acreditam em uma vitória do candidato. “Ele será bem votado, mas eu não creio na sua competitividade. A polarização favorece o Bolsonaro porque ele tem um nicho eleitoral que está decidido votar nele, mas não acho que disputa o segundo turno”, explicou Baia.
Plano B
Ambos especialistas acreditam que caso Lula seja condenado, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad seria uma opção de candidato do Partido dos Trabalhadores. “Das especulações que ouvi: ou ele, ou Jaques Wagner, ex-governador da Bahia”, disse Paulo Baia.
“Para mim, ou ele, ou José Eduardo Cardozo, ex-ministro de Lula, como a Dilma”, finalizou Simone.
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