Dilma em Porto Alegre. |
Editorial do Estadão aborda a interinidade de Michel Temer, que mais
liberdade teria se o afastamento definitivo da presidente búlgara fosse
decidido logo, respeitas das regras constitucionais. A população
brasileira quer ver Dilma pelas costas o quanto antes - e o próprio PT
considera que ela está com os dias contados:
Reduzir ao menor tempo possível a interinidade do governo Michel
Temer, sem comprometer as garantias do rito processual definido pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), é medida que atende plenamente ao melhor
interesse nacional, na medida em que, sem as inconveniências inerentes à
transitoriedade, o presidente da República terá maior poder político
para negociar com o Congresso e a sociedade a implementação de medidas
de austeridade necessárias ao restabelecimento urgente do equilíbrio
fiscal e à recuperação da economia em bases sustentáveis.
Abreviar a interinidade de Temer significa, obviamente, mandar
definitivamente para casa a presidente afastada Dilma Rousseff. Trata-se
de uma questão que, quanto ao mérito, reúne a esmagadora maioria dos
brasileiros. Nem Lula nem o PT desejam a permanência de Dilma na chefia
do governo, porque sabem que isso comprometeria a luta pela recuperação
do apoio popular ao partido e a seu líder máximo. Dilma Rousseff é,
definitivamente, carta fora do baralho. Resta apenas cumprir as
formalidades legais para seu bota-fora.
É verdade que, desde a decretação pelo Senado do afastamento
temporário da presidente da República, têm pipocado em todo o País
manifestações de apoio a Dilma e repúdio ao governo provisório. Mas a
multiplicação desses protestos – em termos quantitativos
significativamente menores do que as manifestações pró-impeachment que
levaram às ruas milhões de brasileiros –, longe de significar a
mobilização espontânea de cidadãos genuinamente preocupados com a crise
nacional, representa apenas a mobilização de militantes de organizações
sindicais – como a CUT – e sociais controladas pelo PT e partidos de
esquerda a ele aliados, como o PC do B e o PSOL. Ademais, muitos desses
“protestos” têm frequentemente transgredido os limites do direito de
livre manifestação para se tornarem atentados criminosos à propriedade
pública e privada e ao direito de ir e vir dos cidadãos.
Mas até aqueles que estão por detrás dessa massa de manobra atiçada
contra os “inimigos do povo” estão convencidos de que Dilma Rousseff
está com os dias contados como presidente. Empenham-se em prolongar
esses dias apenas para desgastar politicamente o governo interino.
Conspiram, portanto, contra a manifesta vontade da maioria absoluta dos
brasileiros de superar essa fase desastrosa da vida nacional.
As críticas que podem e devem ser feitas ao governo Temer são as que
dizem respeito a seu verdadeiro compromisso de mudar os rumos do País,
inclusive do ponto de vista da necessidade de impor novos padrões de
moralidade à gestão da coisa pública. O que, reconhecemos, é tarefa
difícil quando se examina o material humano que compõe as instituições
políticas da terra. Mas é com essa gente que Michel Temer tem de
governar, o que significa que, além de controlar a crise desencadeada
pelo lulopetismo, precisará controlar políticos com apetites que até
aqui têm sido infrenes.
Lula e o PT parecem dispostos a lutar pela realização antecipada de
eleições presidenciais. É um movimento tático que se enquadra na
habitual estratégia petista de disfarçar seus verdadeiros interesses
políticos sob bandeiras de forte apelo popular. A ideia é engenhosa, mas
impraticável. Envolve, para começar, convencer o número necessário de
senadores a mudar de posição e votar contra o impeachment no julgamento
final. De volta à Presidência, Dilma faria aquilo que tem repetido que
não quer nem ouvir falar: renunciaria. E novas eleições seriam
convocadas, mas apenas se cumpridas outras duas exigências: a renúncia
também do vice Michel Temer antes de 31 de dezembro, porque a partir do
início da segunda metade do mandato presidencial – 1.º de janeiro – a
Constituição estabelece que a vacância seja suprida com a eleição
indireta do novo presidente pelo Congresso Nacional.
É mais racional – e atende ao melhor interesse nacional – que o
impeachment de Dilma se complete logo e o governo Temer possa dedicar-se
integralmente à obra de saneamento da economia, da política e dos
costumes.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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