Obra de Gilberto Freyre traz panorama de Brasil mestiço e multicultural.
Publicação já foi lançada na Hungria, Romênia, Japão e outros países.
O momento histórico é lembrado pelo escritor e jornalista Mário Hélio como importante para a publicação. "Nós sabemos como estava essa questão racial lá na Europa. Sabemos que havia a ascensão do nazismo. Então, uma obra que é publicada exatamente no ano em que o nazismo ascende, propondo exatamente o oposto, termina sendo uma obra revolucionária”, explica Mário Hélio.
Para Hélio, ‘Casa Grande’ é um livro que nenhum brasileiro deveria deixar de ler. “Mesmo autores como Jorge Amado, como Darcy Ribeiro, que são autores que mergulharam no Brasil com todo o gosto, o gosto não somente intelectual, mas sensual, reconheciam nessa obra de Gilberto uma superioridade de interpretação do Brasil, de síntese do país, como nenhuma outra", esclarece.
A escritora Fátima Quintas, Presidente da Academia Pernambucana de Letras, especialista na obra de Gilberto Freyre, ressalta que oito décadas após sua concepção, o livro traz uma percepção do Brasil que muitos ainda tentam negar, como a cor negra ser o símbolo da identidade nacional. Segundo ela, é difícil pensar na interpretação do Brasil sem entender a obra de Freyre.
"Eu acho que é uma obra imprescindível para quem deseja conhecer a interpretação do Brasil. Gilberto, inclusive, em Casa Grande e Senzala, ele vai mostrar que o negro é o símbolo da identidade nacional, ele vai mostrar a questão da miscigenação. [...] Hoje em dia é muito comum, na sociedade contemporânea, falar em multiculturalismo, mas Gilberto vai mais além. Isso, lá atrás, ou seja, essa visão profética e madrugadora dele vem de muito tempo", analisa Quintas.
O livro ganhou traduções em diversas línguas, como inglês, espanhol, alemão, francês. Também foi lançado na Hungria, na Romênia, no Japão e a próxima edição vai ser em coreano. Para a filha do escritor, Sônia Freyre, a atualidade do livro justifica tanto interesse. "É provavelmente o mais lido [de Gilberto Freyre], o mais vendido e mais traduzido. Daí a importância da gente dar essa atenção aos 80 anos. A maioria dos livros têm vida efêmera e os de Gilberto estão sempre atuais", conta.
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