MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 29 de dezembro de 2013

Importação de carros acelera reformas cubanas


Possibilidade de comprar carros no Exterior é principal símbolo das reformas que se acentuaram em 2013 e afetam 11,3 milhões de cubanos


Importação de carros acelera reformas cubanas Tadeu Vilani/Agencia RBS
De diversas marcas tradicionais, cores variadas e em uma série de modelos descontinuados, os automóveis antigos permanecem a imagem de um país que tenta se modernizar Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS
Cuba começa a repaginar seu livrinho de cartões postais, mexendo numa imagem que é todo um símbolo e que pode ser a tradução das mais de 300 reformas promovidas pelo presidente Raúl Castro desde que sucedeu ao irmão, Fidel, em fevereiro de 2008. Depois de ter sido permitida a compra e venda de veículos e de casas, entre outras medidas impactantes na área econômica e de reflexos no âmbito social, o diário Granma anunciou, no último dia 18, que será permitida a importação de carros.
"Serão publicadas durante os próximos dias no Diário Oficial novas normas jurídicas que colocarão em vigor a política para a importação de veículos motorizados, segundo foi aprovada na quarta-feira na reunião do conselho de ministros", informou o jornal de corte oficial, dando seguimento a reformas socioeconômicas.
O anúncio passou a ser lido com lupa pelo mundo em geral e pelos cubanos em especial.
— É bom, mas continuo desconfiando. Corremos o risco de os carros importados serem um símbolo de luxo para poucos, e não sei se eu não perderia clientes se trocasse meu carro — diz o taxista Pablo Durán, que tem um Buick, de 1956, envenenado para atingir até 160 quilômetros por hora — Não preciso de outro carro. Esse me dá conforto e potência.
— É uma boa notícia. Tem gente que recebe dinheiro de parentes que vivem no Exterior e que quer adquirir um carro novo — opõe-se Carlito Fernández, colega e amigo de Durán, mas que se dá o luxo de pensar diferente.
Pequena adesão ao "American way of life"
Ainda segundo o Granma, carros, caminhonetes, furgões de carga, micro-ônibus e motos poderão ser comercializados a valores de mercado para cubanos e estrangeiros residentes na Ilha, assim como para entidades estrangeiras e diplomáticas. Tudo de forma "gradual e paulatina".
A paisagem de Cuba é dominada pelos "rabos de peixe" dos anos 1950, com exceções para as motos e os Lada da era soviética. A importação de veículos é uma das reformas mais aguardadas da gestão de Raúl. Foram 50 anos de controle rígido sobre esse hábito de adquirir o símbolo de status do American way of life. Por ora (a medida ainda não foi detalhada), cubanos podem comprar e vender veículos apenas a preços fixados pelo Estado, de acordo com um decreto de 2010. A população não tem acesso aos automóveis novos. A medida libera a compra por parte de pessoas físicas cubanas e estrangeiras, pessoas jurídicas estrangeiras e corpo diplomático. São eliminadas as cartas de autorização emitidas pelo Ministério do Transporte, uma burocracia mantida dois anos depois de Raúl ter autorizado a compra e venda de carros usados.
A explicação para a surpreendente medida se dá a partir de duas observações do próprio Granma: uma é que os recursos dos impostos cobrados reverterão recursos para o precário transporte público da Ilha, e a outra é que há, no país, "baixa disponibilidade de automóveis".
A propósito, os veículos automotores que por lá circulam, mesmo os mais antigos, são importados. Não há fábricas automotivas.


De reboque, novos costumes

Ao anunciar a permissão para importação de veículos, o jornal oficial Granma reconhece: a limitação em voga gerou, durante anos, "inconformidade e insatisfação" e se tornou "fonte de especulação e enriquecimento", já que muitos cubanos vendiam "as cartas ao comprar o veículo".
Que cartas são essas? Alguns cubanos têm a permissão para comprar um veículo usado, as chamadas "cartas de autorização". Por ora, a preferência para importar será dada a quem tem essa carta. Não é pouco. Comprar carro novo sem permissão estatal era uma das principais reivindicações que os cubanos faziam ao governo, que autorizara em setembro de 2011 a compra e venda de usados.
Os modelos que circulam pelas ruas tipicamente caribenhas de Havana e de outras cidades cubanas, quase todos de fabricação americana, são conhecidos popularmente na ilha como almendrones (do espanhol "grande amêndoa") — muitos servem como táxis. Um conversível Cadillac, Chevrolet, Chrysler ou Mercedes Benz pode ser vendido por US$ 80 mil, o que se torna proibitivo para a massa de cubanos, que (claro, ressalvando-se os serviços essenciais de qualidade gratuitos) ganha, em média, US$ 20 mensais. Já um Lada russo, aquele caixote sem aerodinâmica que chegou a aportar no Brasil anos atrás, custa cerca de US$ 3 mil, podendo, dependendo das melhorias nele efetuadas, alcançar o valor de US$ 12 mil. A estimativa extraoficial é de que haja entre 60 mil e 80 mil almendrones, muitos deles com sofisticado estofamento de pele, resistente lataria por vezes pintada em duas cores e confortável espaço para seis pessoas circulando pelas estradas e ruas cubanas, soltando espessa fumaça escura e engolindo gasolina como água no verão caribenho.
Cada motorista cubano é um mecânico improvisado. Introduz remendos de peças nos carros, para turbiná-los. Muitos nem cogitam trocar suas joias automotivas.
Tão tradicionais são os carrões, que até museu existe para as relíquias, um em Havana e outro em Santiago de Cuba. É um culto. O líder Fidel Castro costumava ser visto ao volante do seu Oldsmobile. Ernest Hemingway circulava por Havana com um Chrysler conversível 1955, que hoje pertence ao ex-policial Agustín Nuñez Gutiérrez. O proprietário vive exilado em Miami. O carro, ninguém sabe onde está. O fato é que agora, pelo menos em tese, os cubanos estão entre lustrar a lataria dos seus postais móveis e comprar modelos novos — sem precisar dar-lhes lustro, mas perdendo muito do charme único que os Buick, Cadillac "rabo-de-peixe", Dodge, Ford, Oldsmobile, Mercedes e Pontiac conferem às ruas da ilha socialista, dividindo espaço com alguns poucos e sem graça ônibus chineses ou quadrados Lada russos.
Em março, os investimentos
Está previsto que em março Cuba aprovará legislação para "aperfeiçoar" o investimento estrangeiro na Ilha, informou o presidente cubano, Raúl Castro, no dia 21.
— Trabalha-se na elaboração de um projeto de lei nessa matéria (investimento estrangeiro) que pretendemos submeter a uma próxima sessão da Assembleia Nacional (parlamento) em março, como reunião extraordinária para tratar desse tema e de outros mais — disse Raúl.
O parlamento cubano, unicameral e de 611 cadeiras, reúne-se, ordinariamente, duas vezes ao ano — em julho e dezembro. No término da segunda e última sessão da Casa em 2013, Raúl disse que o Conselho de Ministros já "aprovou o aperfeiçoamento na política para o investimento estrangeiro" e que se expressará na nova lei, cujos detalhes não foram antecipados. O presidente cubano se limitou a dizer que a medida é de "singular importância para dinamizar o desenvolvimento econômico e social do país". A lei atual, de 1995, contempla o investimento estrangeiro na Ilha apenas em associação com o Estado.
O cubano Carmelo Mesa-Lago, professor da Universidade de Pittsburgh, diz que tudo virá com mais facilidade após o estratégico anúncio da unificação cambiária:
— Os diferentes valores das moedas são um problema sério, que represa as outras mudanças. É péssimo para agricultores e outros agentes que recebem em pesos nacionais e depois precisam pagar mercadorias com pesos conversíveis. São muitas distorções. Mudando isso, o conjunto das reformas fica mais fácil.
ZERO HORA
DIÁRIO CATARINENSE

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