Governo
do estado, prefeituras, órgãos públicos e organizações do terceiro
setor se reuniram em Manaus para discutir soluções para falta de energia
elétrica pública e ao desenvolvimento local
A
Companhia de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (CIAMA), a
Associação Amazonense de Municípios, o Instituto de Energia e Meio
Ambiente (IEMA), o Instituto E+ Transição Energética e o WWF-Brasil
promoveram o seminário “O papel dos municípios na transição energética
do Amazonas – eletricidade, transporte e economia”, no dia 12 de março,
em Manaus. Estiveram presentes o vice-governador, dez prefeitos
presencialmente, 13 representantes de prefeituras de modo on-line,
secretários e outros representantes de 19 municípios amazonenses, além
de especialistas no terceiro setor, da Associação Brasileira de Geração
Distribuída (ABGD), acadêmicos e empresas de energia renovável. Ao todo, 70% dos municípios estavam contemplados.
A
lógica aplicada para o fornecimento de energia elétrica em outras
regiões do Brasil é inadequada para a Amazônia. As matrizes energéticas
mais sustentáveis – economicamente, socialmente e ambientalmente – devem
ser as principais alternativas de geração de energia elétrica para
comunidades e regiões excluídas eletricamente no Amazonas, seja pelas
dificuldades físicas ou geográficas. As energias renováveis podem
contribuir para sanar o apagão histórico vivenciado por populações
tradicionais no em pleno século XXI. O encontro destacou que ainda há
uma subutilização dos potenciais econômicos regionais, inclusive devido à
falta de energia elétrica, ressaltando a importância de uma abordagem
mais centrada nas vocações e nas necessidades da região.
"Não
precisa derrubar floresta para ter atividade. Vamos discutir como é que
a gente pode conseguir esse avanço”, apontou Aluizio Barbosa,
presidente da Ciama. O evento contou com a abertura do vice-governador
Tadeu de Souza e demais promotores da atividade. Em seguida, houve
apresentações sobre financiamentos para transição energética para
municípios (WWF-Brasil), bioeconomia e desenvolvimento industrial
regional (Instituto E+), atividades produtivas na floresta em pé e
acesso à energia elétrica (IEMA), Programa Comunidades Sustentáveis
(CIAMA/ Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, SEMA) e
mobilidade elétrica fluvial (Associação Brasileira de Geração
Distribuída, ABGD).
“Um
evento que fala sobre a transição energética, tão importante para a
qualidade de vida da nossa população. Para deixar um legado de inclusão
social em todas as comunidades do interior. Este evento não deixa de ser
uma contribuição para todo o Brasil”, afirmou Tadeu de Souza. As
apresentações trataram principalmente do potencial renovável da
Amazônia, especialmente, no que se refere à geração de energia elétrica
com fontes limpas, o que contrasta com a sua dependência de combustíveis
fósseis. De modo geral, a região
enfrenta dificuldades em termos de infraestrutura, particularmente no
que se refere à energia elétrica, e socioeconômicas, com necessidades
específicas de sua população não atendidas. O poder público local
reconhece esses desafios, mas precisa de condições para fornecer os
recursos necessários para melhorar a qualidade de vida local. Isso
inclui, por exemplo, incentivos a uma economia sustentável, que não
dependa da exploração da floresta.
Investimento em sociobioeconomia
“Não
é necessariamente sobre criar algo novo, mas potencializar o que já
está sendo feito aqui. A Amazônia precisa tornar competitivas as
atividades já existentes e, a partir disso, evoluir essas cadeias para
processos mais complexos”, ressaltou Edlayan Passos, especialista em
energia do Instituto E+, referindo-se à
bioeconomia. O potencial é enorme: embora a região concentre 30% das
florestas tropicais do mundo, responde por apenas 1% das atividades de
exportação de produtos florestais.
O
cacau é um exemplo nesse sentido. Apesar de ter condições
macroeconômicas inferiores às do Brasil, a Costa do Marfim domina 40%
desse mercado, que movimenta quase dez bilhões de dólares por ano. Um
outro exemplo é a produção de castanha, um mercado com grande potencial
de escalonar atividades produtivas, mas que atualmente é dominado pela
Bolívia. “A Amazônia está aquém de seu potencial, e a estratégia seria
expandir o que já está em curso, gerando mais empregos e renda”,
completou Passos.
No
entanto, a falta de energia impacta a economia local na Amazônia. O
acesso à energia é fundamental para impulsionar a produção e a renda,
especialmente em atividades extrativistas. “Deixamos de ter renda, de
gerar mais empregos, produzir mais e com melhor qualidade pois não temos
acesso ao meio: energia elétrica”, destacou Vinicius Oliveira da Silva,
do IEMA. Embora haja políticas públicas voltadas para a região, estas
precisam ser mais direcionadas para atender às cadeias produtivas
locais. “Mais de 11,6 mil dos estabelecimentos agropecuários do Amazonas
não têm acesso ao serviço público de energia elétrica”, conta o
especialista.
Especificidades amazônicas
Para
facilitar o transporte de pessoas na região favorecendo o acesso, por
exemplo, à saúde, educação e incentivo à economia local, Aurélio de
Andrade Souza, da ABGD,
propôs o uso de barcos elétricos com emprego de energia solar,
substituindo gradativamente as embarcações a gasolina ou diesel. Segundo
Souza, esses barcos poderiam, inclusive, ser empregados para carregar
outros veículos –
visto que devem ser equipados com baterias. “Além disso, investimentos
em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para impulsionar esse setor
e promover o desenvolvimento sustentável”, completa o pesquisador.
Na
região amazônica, onde a matriz energética é predominantemente baseada
em diesel, políticas públicas desempenham um papel crucial no
desenvolvimento dessa mobilidade elétrica e da sociobioeconomia. É em
cada município que as coisas acontecem. A solução para os problemas
locais está neles, basta o poder público e sociedade civil atuarem em
conjunto com a especificidade de cada um para melhorar a qualidade de
vida da população, preservar o meio ambiente e ainda agregar muito valor
ao que já é produzido na Floresta Amazônica.
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