Zeca Ferreira
Money Times
Após intensa negociação com membros do governo e do Congresso Nacional, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) finalmente apresentou na manhã desta quinta-feira (30) o conjunto de regras que vão definir a forma como o Estado poderá gastar e investir — o chamado arcabouço fiscal.
De modo geral, a nova regra fiscal desenhada pela Fazenda e pelo Planejamento limita o crescimento dos gastos a 70% da alta na receita gerada pelo Estado. Desta forma, caso a arrecadação federal for de 3% acima da inflação, as despesas poderão crescer 2,1%.
SUPERÁVIT PRIMÁRIO – No entanto, a regra traz algumas exceções para o crescimento da dívida. A primeira delas tem relação com o compromisso de entrega de superávit primário. O novo arcabouço estabelece a meta de gerar um superávit primário de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2026, com uma tolerância de 0,25 pontos percentuais para mais ou para menos.
“Se não atingirmos a meta, existem gatilhos para diminuir o gasto de 70% para 50% da [alta na] receita para que as variáveis econômicas estejam no caminho certo”, explica Haddad. Ou seja, caso a meta não seja atingida, as despesas do ano seguinte estarão limitadas ao crescimento de 50% da alta da arrecadação.
Além disso, a regra fiscal também possui dois mecanismos anticíclicos, que estabelecem um crescimento real da dívida pública entre 0,6% e 2,5%.
SALVAGUARDA – “Fizemos questão de colocar dois mecanismos anticíclicos tanto na fase do boom quanto numa eventual retração. Se os 70% do incremento da receita superarem 2,5%, vamos ficar com 2,5%”, disse Haddad.
Na prática, caso a receita do governo cresça 5% acima da inflação, a dívida estará limitada a crescer apenas 2,5%, e não 3,5% (70% de 5%)
“Por que essa limitação é importante? Porque é o colchão que você precisa para a fase ruim. Por isso, se chama anticíclica. Você faz um colchão na fase boa para usá-lo na fase ruim, e não deixar que o Estado se desorganize, sobretudo quanto está envolvido o direito do cidadão”, conta.
MAIS GASTOS – Por outro lado, caso a receita não cresça, os gastos ainda poderão ser elevados em 0,6% acima da inflação.
“Se tivermos eventualmente uma retração, nós resolvemos fixar em 0,6% o incremento [para os gastos] de um ano para outro. Para que isso? Para evitar ficar naquela situação de ter regra e [várias] excepcionalidades”.
O modelo elaborado pela equipe de Haddad ainda deverá ser enviado ao Congresso Nacional, onde passará pelo crivo das duas casas legislativas, que poderão incluir emendas ao texto. A nova âncora fiscal vem para substituir o teto de gastos, em vigor desde 2016, que limita o crescimento dos gastos públicos a inflação do ano anterior.
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