Iniciativa
reúne informações sobre cadeias de organizações socioprodutivas
sediadas em áreas protegidas para conectá-las com o mercado da Amazônia
Para
dar visibilidade às organizações socioprodutivas e ao potencial da
sociobioeconomia da região do interflúvio Purus-Madeira, o Observatório
BR-319 (OBR-319), rede de organizações da sociedade civil que atua na
área de influência da rodovia BR-319, lançou o Painel Cadeias da Sociobiodiversidade.
A ferramenta interativa, em formato de mapa, reúne informações de
organizações de base comunitária, e que trabalham com produtos da
Amazônia advindos da agricultura familiar, do extrativismo e de outras
atividades sustentáveis.
O
painel traz a localização dessas organizações socioprodutivas, assim
como informações gerais relacionadas à produção e aos principais
gargalos e desafios enfrentados pelas comunidades, da coleta do produto
até a comercialização. Além disso, o painel informa a infraestrutura que
as organizações possuem, políticas públicas que acessam, parcerias ou
assistências, e as pressões e ameaças sofridas nos territórios onde
estão situadas.
De
acordo com a consultora da iniciativa de governança territorial do
Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia
(Idesam), e uma das organizadoras do painel, Tayane Carvalho, o mapa vai
ajudar as cadeias socioprodutivas a se conectarem umas com as outras e
criarem novas oportunidades de negócios. “Uma associação que produz
açaí, mas não tem equipamento para beneficiá-lo, pode verificar no mapa
se há alguma agroindústria próxima e, assim, entrar em contato para
tentar vender seu açaí em grão para essa agroindústria, evitando estar à
mercê de atravessadores, que em geral são os principais compradores de
produtos do extrativismo e que pagam preços injustos ou muito baratos”,
exemplificou.
Qualquer
pessoa que trabalhe com bioeconomia e cadeias produtivas da Amazônia,
ou que tenha interesse no tema, pode se beneficiar com o painel. O
diferencial da ferramenta está na reunião, em um único local, de dados
relacionados às cadeias produtivas do interflúvio Purus-Madeira, em
formato de mapa.
“O
painel também pode auxiliar uma empresa que comercializa produtos do
extrativismo amazônico e que esteja buscando mais fornecedores. Ao
acessar as informações da organização, ela pode verificar o que é
produzido e também obter o contato de algum membro representante da
organização. Instituições que tenham ou queiram desenvolver projetos
específicos com determinada cadeia produtiva podem verificar no painel
uma determinada associação que esteja desenvolvendo essa mesma cadeia e
que precisa de assistência para desenvolver determinada fase da cadeia, e
assim por diante”, completou Tayane.
Os produtos
Até
o momento, o painel mapeia informações de 15 organizações em seis
municípios da área de influência da BR-319. Essas organizações produzem
itens diversos da agricultura familiar, pescado, produtos in natura e
beneficiados provenientes do extrativismo como açaí,
castanha-da-Amazônia, buriti, cacau, tucumã, óleo de andiroba, óleo de
copaíba, farinha, entre outros. Algumas organizações também realizam o
manejo florestal sustentável e comercializam madeira serrada ou produtos
e artesanatos feitos a partir da madeira proveniente do manejo
florestal.
Segundo
Tayane, a maioria dessas organizações é pouco conhecida e tem
dificuldade em acessar o mercado por motivos de logística, falta de
acesso à infraestrutura, equipamentos e dificuldade em acessar políticas
públicas. “Por meio do painel, é possível saber em qual local elas
estão, o que produzem e ainda uma breve descrição dessas dificuldades
para que órgãos públicos ou privados, se interessados, possam
desenvolver projetos que amenizem esses gargalos e fortaleçam o
desenvolvimento das cadeias produtivas na região do interflúvio
Purus-Madeira”, argumenta a consultora.
Potencial da bioeconomia
A
expectativa é que o painel chame a atenção para o potencial da
sociobioeconomia da região Purus-Madeira, que possui valor econômico,
ecológico, social e cultural importantes para a Amazônia. “Para
desenvolver esse potencial, é necessária a valorização da região e das
organizações socioprodutivas presentes nesse território. É preciso
investir, dar suporte e assessoria técnica de extensão rural para que
seja possível desenvolver cada etapa das cadeias produtivas e, assim,
gerar renda para essas pessoas que, simultaneamente, conseguem produzir e
conservar as florestas”, explicou a consultora do Idesam.
O
painel é uma das iniciativas para fortalecer esse potencial, argumentou
Tayane, pois traz visibilidade ao que está sendo produzido na região.
“É
necessário maior investimento em programas de governo que impulsionem o
desenvolvimento desse setor na região Norte. Sabemos da enorme
dificuldade que as pessoas do interior do Amazonas têm em acessar
políticas públicas, por isso, é fundamental que as políticas de governo
cheguem até elas. Também é fundamental que entes federativos e da
sociedade civil desenvolvam projetos focados não só no suporte
financeiro, mas logístico e de capacitação, para que as organizações
sejam capazes de atuar de maneira eficaz em todas as etapas da cadeia,
atuando não só na coleta e beneficiamento do produto, mas, também, no
transporte e comercialização. É importante que elas consigam acesso ao
mercado, não apenas o mercado local, mas que possam vender seu produto
para empresas ou compradores maiores, e que estes paguem um valor justo
por cada produto do extrativismo. O ideal é que, ao longo do tempo,
esses projetos permitam que as organizações estejam aptas a caminhar com
as próprias pernas, que sejam independentes e sem necessidade de
auxílio de alguma instituição”, disse Tayane.
Créditos da Fotografia: Izabel Santos
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