Inpe
indica que chuvas permanecerão abaixo da média até novembro, e Renata
Piazzon, da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, alerta para
recursos insuficientes
O
número de queimadas no Brasil mais do que dobrou em um ano e, em 2024,
já é registrado um novo foco a cada 2,4 minutos, em média. Os dados são
do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), referentes a 1º de janeiro até quarta-feira, 4 de setembro. A
Amazônia é o bioma que tem concentrado 50,5% de todos os 145.027 focos
de fogo identificados ao longo do ano - em 2023, no mesmo período, houve
70.679 incêndios.
Os
incêndios aumentaram em 22 das 27 unidades federativas - em dez elas o
índice mais do que dobrou. Mato Grosso, Pará e Amazonas somam quase
metade (70.687) de todos os focos de fogo identificados em 2024 no
Brasil.
"Vivemos
hoje uma tempestade perfeita: vemos a crise climática ganhar contornos,
com o aumento da estiagem e o prolongamento do El Niño, e uma sensação
de impunidade de muitos criminosos, que ateiam fogo na vegetação em
diversas regiões do país”, destaca Renata Piazzon, cofacilitadora da
Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. “Há prejuízos em todas
as áreas, dos ecossistemas à saúde humana, passando pela economia no
campo, que é tão importante para o PIB nacional.”
O
El Niño está por trás do recuo de 2,9% do PIB da agropecuária no
segundo trimestre do ano. O fenômeno climático prejudicou a produção de
culturas como soja e milho.
Para
Piazzon, o Brasil precisa “transformar por completo” sua capacidade de
prevenção e combate a incêndios nas áreas rurais e de vegetação nativa:
“O que acontece agora mostrou que, por mais que tenha havido
investimentos recentemente, permanecemos com uma quantidade insuficiente
de recursos humanos e infraestrutura para combater os focos de fogo.
Falta, também, uma articulação entre as diferentes instâncias de
governo.”
Ainda
de acordo com o Inpe, o cenário climático tende a se agravar nos
próximos meses. Em seu boletim trimestral lançado na semana passada,
relativo ao período entre setembro e novembro, o instituto indicou que a
pluviosidade deve se manter abaixo da média histórica em quatro das
cinco regiões do país - Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
Beto
Mesquita, membro do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil, aponta que o
recém-iniciado mês de setembro é, historicamente, aquele com maior
intensidade de queimadas, principalmente da vegetação nativa.
"Agosto
terminou e já foi um mês com muito mais queimadas do que o registrado
em setembro nos últimos anos, o que já é um indício do que está por
vir”, alerta Mesquita. “Esta situação vai se manter e ainda se agravar
um pouco, o que constitui um cenário bastante desafiador.”
De
acordo com o membro da Coalizão Brasil, o prolongamento da seca no país
era um cenário já previsto pela comunidade científica. Junte-se a isso o
fator humano e o cenário torna-se ainda mais drástico.
"A
maioria dos incêndios registrados é de origem humana. Este fato
contribui para que o fogo se alastre muito mais rapidamente, que o
impacto seja muito maior, que muito mais áreas de vegetação queimem
drasticamente”, assinala. “A prática de limpeza de áreas, principalmente
de pastagens, nestas condições climáticas, com solo muito seco, algum
vento e umidade do ar baixa, faz com que o fogo se propague numa
velocidade muito rápida."
A
Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura é um movimento composto
por mais de 400 organizações, entre entidades do agronegócio, empresas,
organizações da sociedade civil, setor financeiro e academia.
Contatos para imprensa:
Christina Nascimento | 21 97935-0628 |
Renato Grandelle | 21 99734-3956 | renato@coalizaobrasil.org
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