Força-tarefa
de Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura entrega propostas de
combate à fome ao G20. Atualmente, mais de 2 bilhões de pessoas sofrem
com pobreza e insegurança alimentar
Aumentar
a capacidade de produção de alimentos de forma saudável e sustentável,
atendendo a uma população que cresce cada vez mais, são prioridades da
força-tarefa de Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura do B20
Brasil, liderada pelo CEO da JBS, Gilberto Tomazoni. As recomendações do
setor privado foram desenvolvidas nos últimos meses e entregues à
liderança do G20. O objetivo principal é diminuir a pobreza e a
insegurança alimentar no mundo, que impactam 2,3 bilhões de pessoas.
As recomendações fazem parte do Communiqué,
documento que reúne as sugestões das oito forças-tarefas do B20 Brasil.
As recomendações foram entregues à liderança do G20 Brasil na última
semana, de forma antecipada, para sensibilizar os líderes mundiais antes
da cúpula do grupo econômico, que acontece em novembro, no Rio de
Janeiro (RJ).
Os
executivos que integram a força-tarefa se reuniram, nos últimos meses,
para propor recomendações e ações políticas claras que tornem possível a
transformação dos sistemas alimentares, reconhecendo a complexidade de
agir de forma coordenada regional e globalmente. Para isso, a
colaboração entre os setores público e privado e outras partes
interessadas é essencial para essa transição. O grupo elaborou três
recomendações para o tema e seis ações de políticas públicas.
“É
uma honra liderar essa força tarefa e compartilhar as principais
recomendações do setor privado para transformar nossos sistemas
alimentares. Nosso objetivo é que eles sejam mais resilientes,
inclusivos e em harmonia com o meio ambiente, contribuindo para a
segurança alimentar global”, afirma Tomazoni. “As três recomendações da
nossa força-tarefa pavimentam o caminho para sistemas alimentares mais
fortes e nos aproximam de um futuro em que a segurança alimentar e a
sustentabilidade caminham juntas”, finaliza.
Atualmente,
o setor agrícola representa 35% da força de trabalho mundial e quase
10% do PIB mundial, de acordo com levantamento feito pela Organização de
Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (FAO). Uma das prioridades do
B20 é estimular a produtividade sustentável, priorizando os países que
produzem menos alimentos e, assim, reduzir a pobreza e a insegurança
alimentar.
Outro
foco dos debates da força-tarefa é a redução de desperdícios. Segundo
dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, anualmente,
cerca de uma tonelada de comida é desperdiçada em todo mundo, o que
poderia alimentar mais de 1 bilhão de pessoas.
A
força-tarefa trabalhou a favor da transformação e de mecanismos que
envolvem a adoção e ampliação de práticas agrícolas mais sustentáveis,
além de incentivar a inovação em toda a cadeia agroalimentar, focando em
políticas públicas e na construção de regulamentações e estruturas
robustas, baseadas em ciência.
O
grupo também defende a adoção de novas abordagens de financiamento e
colaboração entre os setores público e privado. Para o B20, os
principais desafios são desbloquear essa transformação, acionar esses
mecanismos e coordená-los em uma escala local-global e no ritmo
necessário.
Segundo
a liderança do B20, os sistemas alimentares atuais estão muito aquém
desses objetivos, levando à fome, baixa resiliência a choques externos e
impactos negativos sobre o clima e a natureza. Quando transformados, a
expectativa é que esses sistemas alimentares tenham um papel fundamental
na resolução de problemas mundiais, desde as mudanças climáticas até a
dignidade no trabalho.
Confira as três recomendações da força-tarefa de Sistemas Alimentares e Agricultura:
>> Recomendação 1: fomentar o aumento de produtividade por meio do desenvolvimento e da ampliação de tecnologias sustentáveis
Fomentar
o aumento de produtividade por meio do desenvolvimento e da ampliação
de tecnologias avançadas, sustentáveis e resilientes, como agricultura
regenerativa, biotecnologias e tecnologias digitais, bem como
assistência técnica agronômica aos produtores, que, combinadas,
contribuem com a resolução dos desafios interconectados do clima, meio
ambiente, resiliência, segurança alimentar e acessibilidade, e garantem a
inclusão dos países menos desenvolvidos (LDCs2).
Motivação: A
inovação e a tecnologia tiveram um papel crucial na evolução dos
sistemas alimentares, aumentando a produtividade agrícola de forma
significativa entre 1961 e 2009, apesar da expansão limitada das áreas
cultivadas. Segundo a ONU, a produção agrícola aumentou de 150% a 200%,
enquanto as áreas cultivadas se expandiram apenas 12%. Esses avanços dos
sistemas alimentares podem reduzir de 9% a 23% das emissões globais de
gases de efeito estufa, diminuir a erosão do solo em até 80%, e aumentar
a biodiversidade em até 10 vezes. Além disso, a transição para práticas
mais sustentáveis pode elevar a lucratividade dos agricultores em até
70%.
Proposta de ação política 1.1:
Fomentar
a inovação escalável e baseada em evidências científicas, facilitando o
acesso dos produtores a novas tecnologias e à assistência técnica
agronômica para lidar com os desafios interconectados do clima, meio
ambiente, resiliência, segurança alimentar e acessibilidade. Os membros
do G20 devem investir e cooperar para impulsionar a inovação, facilitar o
acesso aos benefícios do progresso científico e promover a adoção de
inovações em escala global, reconhecendo as realidades e necessidades
específicas de cada país.
Proposta de ação política 1.2:
Promover
um ciclo de crescimento de produtividade de forma equitativa e
sustentável. Os membros do G20 devem apoiar o crescimento da
produtividade dos LDCs, incentivando inovações sustentáveis e
resilientes por meio do compartilhamento de conhecimento, disseminação
de tecnologia, desenvolvimento de capacidades e de modelos de
financiamento internacionais que garantam uma transformação mais
inclusiva do sistema alimentar global, melhorando os meios de
subsistência e aumentando a segurança alimentar.
>> Recomendação 2: criar
modelos inovadores de financiamento e colaboração para apoiar a
transição dos agricultores para sistemas alimentares resilientes e
sustentáveis
Construir
modelos inovadores para financiamento e colaboração para apoiar a
transição dos agricultores para sistemas alimentares resilientes e
sustentáveis, garantindo alocação de capital suficiente, eficiente e
inclusiva para uma transição rápida e em larga escala e monetizando o
valor dos serviços ecossistêmicos relevantes fornecidos por práticas
agrícolas regenerativas e sustentáveis.
Motivação:
Alcançar a transformação necessária nos sistemas alimentares e obter os
benefícios dessa mudança exige um volume de financiamento
significativamente maior do que os atuais. O relatório Growing Better, da The Food and Land Use Coalition (FOLU), estima que serão necessários de US$ 300 a 350 bilhões por ano até 2030 para apoiar essa transformação.
Proposta de ação política 2.1:
Garantir
alocação suficiente, eficiente e inclusiva de capital para uma
transição rápida e em larga escala. Os membros do G20 devem usar
mecanismos de financiamento combinados, melhorar as capacidades e
ofertas financeiras – reduzindo riscos e incentivando investimentos – e
redirecionar o apoio agrícola para acelerar a transição para sistemas
alimentares mais resilientes, sustentáveis e equitativos.
Proposta de ação política 2.2:
Monetizar
o valor dos serviços ecossistêmicos relevantes fornecidos por práticas
agrícolas regenerativas e sustentáveis, incluindo maior resiliência e
resultados ambientais. Os membros do G20 devem desenvolver uma estrutura
regulatória para acelerar o desenvolvimento de créditos interoperáveis e
de alta integridade para serviços ecossistêmicos (ex.: captura de
carbono, manejo de solos saudáveis, redução do uso de água doce e da
poluição, conservação da biodiversidade etc.).
>> Recomendação 3: fortalecer o sistema multilateral de comércio de alimentos e agricultura com a OMC no seu núcleo
Fortalecer
o sistema de comércio agrícola multilateral não discriminatório,
inclusivo e equitativo, que seja baseado em regras e centralizado na
OMC, para promover a adoção de práticas sustentáveis e melhorar a
segurança alimentar. Isto inclui, promover o sistema de comércio
multilateral da OMC para alimentos e agricultura, eliminando barreiras
que distorcem o mercado e apoiar medidas para permitir a adoção de
práticas sustentáveis.
Motivação:
O comércio global de alimentos é extremamente importante, com uma
expansão significativa nas últimas duas décadas. O valor das exportações
agrícolas aumentou quatro vezes de 2000 a 2022, passando de US$ 406
bilhões para US$ 1,6 trilhão. Produtos agrícolas representam quase 20%
de todas as commodities comerciais, e os fertilizantes adicionam mais
2%, evidenciando a estreita ligação entre produção de alimentos e
comércio internacional.
Proposta de ação política 3.1:
Promover
o sistema de comércio multilateral da OMC para alimentos e agricultura,
eliminando barreiras que distorcem o mercado e, ao mesmo tempo,
orquestrando a adoção de práticas sustentáveis ao longo do tempo e
garantindo a segurança alimentar. Os membros do G20 devem promover a
convergência global sobre quais são as práticas, metodologias e
taxonomias — baseadas na ciência e em resultados – que compõem um
comércio internacional sustentável, ancorado na OMC e em seus órgãos
internacionais de definição de padrões.
Proposta de ação política 3.2:
Apoiar
medidas pragmáticas, baseadas na ciência, para permitir a adoção de
práticas sustentáveis e, ao mesmo tempo, facilitar o acesso inclusivo ao
mercado dentro dos avanços do sistema de comércio agrícola multilateral
baseado em regras da OMC. Os membros do G20 devem promover a adoção de
práticas sustentáveis e facilitar o acesso ao mercado, melhorando a
eficiência dos órgãos internacionais de definição de padrões e
garantindo a transparência por meio de sistemas de rastreabilidade e
certificação.
Todas as recomendações e ações de políticas públicas do B20 Brasil podem ser lidas no Communiqué,
na íntegra: https://b20brasil.org. As propostas do B20 também serão
debatidas durante o B20 Summit Brasil, nos dias 24 e 25 de outubro, em
São Paulo.
O B20 Brasil
O
B20 (Business 20, da sigla em inglês) é o braço empresarial do G20 no
Brasil, coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Este é
o principal fórum de diálogo mundial que conecta a comunidade
empresarial aos governos do G20, mobilizando mais de 1.200
representantes do setor privado dos países membros. A edição brasileira
reúne sete forças-tarefas e um conselho de ação.
Os
grupos de trabalho são formados por empresários do Brasil e dos outros
países, membros do G20, que estão debatendo, desde o início do ano,
propostas de temas urgente e importantes, como: Comércio e Investimento,
Finanças e Infraestrutura, Emprego e Educação, Transição Energética e
Clima, Transformação Digital, Integridade e Compliance, Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura, além do Conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios.
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