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A federalização da UE significaria que os portugueses, e os restantes povos, seriam afastados de decisões que lhes dizem directamente respeito. E isso não é aceitável numa verdadeira democracia. Ricardo Pinheiro Alves para o Observador:
Nas
eleições para o Parlamento da UE está sempre em jogo o futuro desta
organização. Uma das opções, o federalismo, é um perigo para o futuro da
União Europeia. Cada vez que se avança na direcção do federalismo é
mais uma fractura que se cria na construção de uma UE que deve estar ao
serviço dos povos que nela queiram livremente participar.
Há
quem julgue que “construção europeia” significa caminhar no sentido de
uma UE federal. Nada mais errado. Apesar das intenções iniciais
manifestadas quando o centro da Europa estava destruído, uma UE federal
significaria hoje o abandono de tudo o que esta organização alcançou
desde 1951. Pior do que isso, significaria a destruição da verdadeira
democracia (não a socialista, que não é uma democracia).
A
federalização da UE significaria que os portugueses, e os restantes
povos dos países que participam nesta organização, seriam afastados de
decisões que lhes dizem directamente respeito. E isso não é aceitável
numa verdadeira democracia.
A
tendência dos eleitores em escolherem cada vez mais partidos que
contestam a centralização é uma evidência de que há muito que já está em
perigo neste momento. O Brexit deveria ter servido de aviso para este
perigo, mas em Bruxelas optou-se por fazer “ouvidos de mercador” e
enterrar a cabeça na areia. Em vez de se assumir os erros cometidos são
anunciadas “desgraças” para os britânicos como motivo para retirar
legitimidade aos governos eleitos e às políticas públicas implementadas a
nível nacional.
E
cada vez que há eleições para o parlamento da UE, como as que vão
ocorrer agora, voltamos a ouvir os mesmos “sermões”. O mais cómico é o
que pretende que as eleições não devem servir para discutir assuntos
nacionais, mas os da UE, como se as duas coisas fossem separáveis.
Os
assuntos que se tratam em Bruxelas são assuntos nacionais por definição
porque a participação na UE é, acima de tudo, um assunto nacional. Os
defensores das tendências federalistas bem tentam escapar ao escrutínio
quando fingem que estão a discutir assuntos que vão para além dos
interesses nacionais, ou seja, da vontade dos portugueses.
Mas
em verdadeiras democracias como as europeias, em que a legitimidade
assenta numa base nacional, não existem assuntos que não se refiram ao
interesse de cada país. Discutir o Pacto sobre Migração e Asilo é tratar
de assuntos de interesse nacional como imigração e emigração. E
ponderar o alargamento da UE é também uma questão nacional que abrange
as barreiras ao comércio ou o livre movimento de pessoas e capitais.
Dizer que não são assuntos que se referem às legitimas aspirações dos
portugueses é pretender fugir ao escrutínio democrático.
Esta
ideia é reforçada se pensarmos que os deputados eleitos para o
parlamento da UE estão a representar interesses exclusivamente nacionais
e não qualquer utopia difusa chamada “interesse da UE”. Se estivessem a
representar qualquer interesse da UE que divergisse do interesse dos
portugueses, as eleições não serviriam para nada e não faria sentido
votar.
A
elevada taxa de abstenção que estas eleições apresentam parece mostrar
que muitos eleitores pensam que existem assuntos da UE que nada têm a
ver com os assuntos nacionais. A responsabilidade por este alheamento
sobre as eleições é dos federalistas que afirmam que os assuntos em
causa são apenas do âmbito da UE. Por outras palavras dos que dizem que
os assuntos das eleições não interessam à maioria dos portugueses.
Esta
tentativa de separação entre assuntos nacionais e as eleições para o
parlamento da UE serve também para que os federalistas proponham ideias
bizarras. Nas eleições de há 5 anos, em 2019, abundavam ideias de
carácter duvidoso como um ministro das finanças e um segundo orçamento
para a zona Euro, uma pretensão federalista sem preocupação de
legitimidade democrática que apenas vinha reduzir a transparência e
aumentar a burocracia. Ou a proposta, inaceitável, de uma “agência
europeia de proteção das democracias” em que supostos peritos nos
defenderiam contra os ciberataques e “manipulações”. Há algo mais
centralista do que uma agência de peritos a protegerem a Democracia? E
quem nos protegeria dos peritos?
O
perigo do federalismo fica bem demonstrado nas tentativas feitas por
não nacionais em se imiscuírem nos assuntos que dizem exclusivamente
respeito aos portugueses. A tentativa de acabar com o fim da unanimidade
na definição de impostos ou na Política Externa e de Segurança Comum,
ou a ideia de que a NATO deve ser menorizada por uma política de defesa
na UE são exemplos de decisões federalistas que teriam consequências
graves e imprevisíveis.
Mas
há outros exemplos como a opacidade do funcionamento das instituições
da UE e o seu distanciamento face às pessoas, o excesso de legislação e
da burocracia em Bruxelas, a política industrial da Comissão Europeia
que atribui subsídios às grandes empresas alemãs, francesas ou
italianas, as tentativas de forçar os povos a aceitarem um “diktat” como
a consagração do aborto como direito inalienável da mulher, ignorando o
pai da criança, ou ainda o ridículo das tentativas para impor um fuso
horário a Portugal.
A
opção federalista não é mais do que fazer uma intentona para acabar com
a legitimidade democrática nacional. Cada vez que se institui mais uma
medida de cariz federal é mais uma racha que se abre dentro da
organização que é a UE. E quanto maior o número de rachas e quanto mais
elas se alargarem, mais gravemente será afectada a estrutura do seu
edifício. Se nada mudar, chegará o dia em que o edifício desabará.
Postado há 18 hours ago por Orlando Tambosi
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