MEDIÇÃO DE TERRA

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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Sabores do passado: histórias gastronômicas que resistem ao tempo

 

Sabores do passado: histórias gastronômicas que resistem ao tempo


Receitas transmitidas de geração em geração e empresas familiares que atravessam décadas. Estas são algumas das muitas facetas das histórias gastronômicas que moldam a identidade cultural e preservam tradições familiares em todo o Brasil. Em um país onde a comida, mais do que nutrição, é uma herança viva, a passagem de receitas entre membros da família se torna um ato de conexão emocional, mantendo vivas as memórias e as narrativas familiares.


E para contar essas histórias, surge o projeto Comida com História, criado por três jornalistas - Leyla Spada, Amanda Santo e Gustavo Schwabe - que se dedicam a desvendar os segredos culinários que dão sabor à vida das pessoas. Esses profissionais da comunicação exploram, documentam e compartilham histórias sobre alimentos através de vídeos, textos e áudios. 


Os três jornalistas decidiram buscar histórias gastronômicas nos estados brasileiros. Cada estado revela sua própria peculiaridade - desde receitas ancestrais até negócios familiares que resistem ao tempo. Através de uma série de revistas especializadas sobre o assunto publicadas em seu site, cada uma focada em um estado brasileiro, o Comida com História compartilha as histórias por trás das receitas, dos ingredientes, dos negócios locais e da cultura que permeia a gastronomia regional.


“As histórias gastronômicas do Brasil são muito mais do que simples relatos sobre comida. São testemunhos da nossa identidade, da nossa história e das nossas tradições. Ao desvendar e compartilhar essas narrativas, seja através de projetos jornalísticos como o ‘Comida com História’ ou por meio da transmissão oral entre gerações, estamos preservando um legado valioso para as futuras gerações. Essas histórias não apenas nos conectam com o passado, mas também nos inspiram a valorizar e celebrar a diversidade cultural que se manifesta através da culinária brasileira.” relata Leyla Spada.


Os vinhos de Santa Catarina


Dentre os diversos alimentos produzidos em Santa Catarina, oito produtos recebem reconhecimento como Indicações Geográficas (IG), uma distinção que destaca suas qualidades relacionadas aos locais de origem: Uva Goethe, Banana de Corupá, Queijo Artesanal Serrano, Vinhos de Altitude, Mel de Melato de Bracatinga, Maçã Fuji de São Joaquim, Erva-Mate do Planalto Norte Catarinense e a Linguiça Blumenau. Entre esses produtos, destacam-se os vinhos de altitude, nas regiões da Serra Catarinense e Vale do Contestado. Uma produção realizada em uma altitude entre 900 e 1400 metros é determinante para a alta qualidade dos vinhos, que se destacam pelo sabor e aroma diferenciados.

A paixão pelo vinho vem de longa data na família Conti. Seguindo os passos do avô, que já possuía um parreiral na Itália, Humberto Conti decidiu se mudar para a Serra Catarinense após a aposentadoria para seguir o mesmo caminho. “Busquei minhas origens quando sonhei em ter uma vinícola. Quando provei os vinhos produzidos no local, decidi que precisava abrir a Villaggio Conti, não pela questão financeira, mas pelo prazer em produzir vinhos e receber pessoas”, conta Humberto.

Os filhos de Humberto também se envolveram no negócio e, juntos, foram até a Itália para escolher as uvas que seriam plantadas na vinícola, sempre levando em consideração as particularidades do clima de Santa Catarina. Hoje, além dos vinhos, a família oferece uma experiência completa para os visitantes, inspirada nas cantinas italianas, onde é possível apreciar a comida produzida na cozinha dos Conti enquanto degustam o sabor do vinho.


Tradição Açucarada do Rio Grande do Sul


Há mais de meio século, um casal de Portugal desembarcou em Pelotas, Rio Grande do Sul, trazendo consigo seus cinco filhos e um sonho de construir uma vida melhor. A Família Rosa Lavrador encontrou seu caminho para a fama na região quando Emília, matriarca da família, decidiu abrir a Padaria Delícias Portuguesas, onde sabores tradicionais de Portugal seriam compartilhados com a comunidade local através de seus doces.

Mesmo com o passar das décadas, a padaria mantém suas portas abertas, servindo fielmente as receitas que atravessaram o oceano junto com a Família Rosa Lavrador. Sob a liderança da terceira geração, hoje representada por Muriel, neta da fundadora, e seu marido, a Delícias Portuguesas continua a ser um ponto de referência para os amantes de doces na região de Pelotas. "A gente ia abrir um restaurante, mas vimos que

essa herança familiar e esse potencial. Então resolvemos dar continuidade à história da família", compartilha Muriel, perpetuando o legado deixado por sua avó Emília.


O biscoito de amor em Tocantins


Nas raízes do Norte do Brasil, quando Tocantins ainda era parte integrante de Goiás, emergiu em Natividade, a cidade mais antiga do estado, um biscoito artesanal assado em forno a lenha que se tornaria um símbolo da gastronomia local. O biscoito Amor Perfeito tornou-se uma iguaria e uma herança cultural que atravessou gerações.

Produzido por diversas mãos habilidosas na região, uma história em particular se destaca, marcada por um romance que se fortaleceu entre massa e o calor do forno. Tia Naninha, aprendeu os segredos da culinária ao lado de sua mãe desde criança, e ainda jovem encontrou seu destino entrelaçado com o de Dozin, seu esposo. Juntos, deram continuidade à tradição familiar, assumindo a produção

do biscoito Amor Perfeito que, na época, não era comercializado. 


O início modesto, em uma cozinha simples, transformou-se ao longo dos anos em uma operação familiar, onde filhos e netos se unem para preservar e promover o legado deixado por Tia Naninha e Dozin, cozinhando e comercializando o biscoito Amor Perfeito.


As balas de banana do Paraná


No litoral do Paraná, na cidade de Antonina, encontra-se uma bala que conquistou os paladares locais e o reconhecimento oficial de Indicação Geográfica (IG). As balas de banana ali fabricadas se tornaram um dos mais notáveis atrativos turísticos da região.


A história começa em 1986, quando Seu Miro adquiriu uma pequena fábrica de doces de banana em Antonina, buscando garantir a segurança financeira de sua família. A produção das balas de banana, no entanto, só teve início alguns anos após a aquisição da fábrica. O que começou como uma empreitada comercial, anos mais tarde se transformaria em uma tradição da região.


Após o falecimento de Seu Miro, coube à sua filha Maristela assumir os negócios familiares, mantendo viva a chama do legado deixado por seu pai. Inspirada nos princípios e ensinamentos transmitidos por ele, Maristela embarcou em uma jornada, buscando o ponto ideal para a fabricação das balas. Apesar de alguns tropeços ao longo do caminho, ela acabou descobrindo um novo ponto de cozimento que encantou a comunidade local, transformando a bala de banana conhecida como Bananina em um símbolo regional.

Hoje, Maristela continua a liderar a fábrica, com o apoio de sua filha Bárbara. Juntas, mãe e filha não apenas preservam a tradição e a qualidade das balas de banana,

mas também planejam transmitir seus conhecimentos e experiências às futuras gerações.


Os docinhos de Pernambuco


Originário da herança árabe, o Alfenim desembarcou em terras brasileiras pelas mãos dos moradores de Açores, Portugal, trazendo consigo séculos de história e sabor. Com uma receita adaptada pelos brasileiros, essa iguaria conquistou lugar de destaque e se tornou uma marca registrada da cidade de Agrestina, no interior de Pernambuco.


Quase um século atrás, uma mulher chamada Maria Belarmina testemunhou seu irmão preparando o doce e decidiu aprender os segredos dessa tradição culinária. Com dedicação, Maria, carinhosamente conhecida como Dona Menininha, aperfeiçoou sua técnica ao longo do tempo, transformando seu Alfenim em uma referência na região.

Hoje, são os filhos de Dona Menininha que mantêm viva a chama dessa tradição. Com habilidades passadas de geração em geração, apenas os membros da família conhecem os segredos por trás da produção do Alfenim em Agrestina. São eles os responsáveis por abastecer todas as festas e procissões da cidade com esses delicados doces, feitos inteiramente à mão.

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